Lá está ele sentado na cadeira da sala de jantar,
cabisbaixo, olhar aparentemente firme nas mãos, que executam movimentos suaves
de carinho entre si. Mas se trata de um olhar dissimulado, já que finge
observá-las. Isso só é percebido, por quem um olhar mais atento tiver.
Alguém lhe pergunta se está a sentir algo, a
resposta, seca de certeza, diz que não é nada. Mantendo as janelas da alma
fixas em um vazio existencial, sente que o tempo de muitas vivências lhe causa,
diariamente, uma imensa sensação de impotência diante da certeza de um porvir
sem expectativas saudáveis.
O tempo, quando nos é dado, nos faz produzir sonhos
e ter desejos, estes sempre possíveis de serem concretizados. Porém, quando já
o desfrutamos quase que por completo, uma vez que ainda nos sobra, como que por
zombaria dele, um restinho para lamentarmos o fato de não o termos desfrutado
com discernimento.
Quando viramos murmuradores da vida que nos resta,
somos levados a nos bastar apenas com a presença alheia, perdendo a percepção
da humanidade existente na companhia daqueles que nos dedicam uma parte de suas
vidas. Assim, rabugentos ficamos, deixando de perceber os distintos
sentimentos, quase sempre de raiva ou pena, que causamos naqueles mais
próximos.
Tornamo-nos com o passar do tempo, pessoas vividas,
mas, inconscientemente, insensíveis aos mais simples gestos de solidariedade
que nos são ofertados. Comportando-nos como as crianças da nova geração −
herdeiros de uma intolerância generalizada.
Percebemos que somos fracos de espírito, quando nos
deixamos abater pelo desgaste natural do corpo, que, agora, nos parece ter sido
transformado em masmorra para os nossos sonhos e desejos, já que ainda os
temos, contudo, outrora, eram tão menos impossíveis de se concretizarem.
Penso que ainda há como se remediar esse mal! Basta-nos reconhecer os atuais limites físicos e nos juntarmos àqueles que sempre estiveram ao nosso lado, dessa forma estaremos preparados para termos um digno fim de jornada.
Criado em: 30/05/2011 Autor: Flavyann Di
Flaff
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