Pular para o conteúdo principal

A ESTRELA E A PAIXÃO SECRETA DA LUA

Em uma noite de plena ausência de companhia humana, pus-me a apreciar o céu pela janela do quarto. De repente, uma estrela cintilou estranhamente, digo isso, pois o fazia em uma sequência incomum, como a seguir um padrão de comunicação. Nesse instante, pensei estar delirando, então, fechei e abri meus olhos na certeza vã de que aquilo desapareceria, mas para meu espanto, lá estava ela, insistente a cintilar intermitente para mim. Será que meu olhar, devido à penumbra do ambiente, fez-se brilhar a ponto de se fazer entender pela estrela, como sendo igual a um corpo celeste? Isso nunca desvendarei! Mistério à parte, percebi que aquele padrão se assemelhava a um velho e ainda usual código ─ o Morse ─ apressei-me então a procurar por uma dessas revistas de frivolidades, encontrando-a, por fim, embaixo do colchão. Em uma de suas páginas, precisamente, na parte de passatempos, localizo o que desejava. Munido desse singelo manual, retorno à janela, e esperando-me, estava a estrela que logo retomou o cintilar pausado, e observando-o atentamente, consulto a revista, verificando o significado de cada sinal emitido. Intui, já que ainda não organizara as palavras, que se tratava de um pequeno e breve relato sobre uma paixão secreta que envolvia certa dama, que só durante a noite surgia.
Ao findar, a estrela despediu-se, retornando à realidade estática que os olhos humanos estavam acostumados a vê-la. Logo me apressei a pôr em ordem as frases que decifrei e, assim, fiquei sabedor da paixão que a lua nutria subliminarmente pelo sol. Ela era tamanha que, às vezes, a lua por não conter tamanha pulsão, em uma de suas raras fases, deixava-se dourar, em uma magnífica homenagem àquele a quem tanto aspirava, mas que, por um capricho da mãe natureza, jamais poderia relacionar-se.

Criado em: 26/07/2010 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

LOOP FARAÔNICO

  De um sonho decifrado ao pesadelo parafraseado. A capa que veste como uma luva se chama representatividade, e a muitos engana, porque a vista turva. Ao se tornar conveniente, perde toda humanidade. Os sete anos de fartura e os de miséria, antes, providência pedagógica, hoje mensagem ideológica, tornando o que era sério em pilhéria. A fartura e a miséria se prolongam, como em uma eterna praga sem nunca ter uma solução na boca de representantes que valem nada. O Divino dá a solução, e esses homens nada fazem, deixando o povo perecer num infinito sofrer, pois, basta representar, para fortunas obterem. E, assim, de dois em dois anos, os sete se repetem, como num loop infinito de fartura de enganos.   Criado em : 1/6/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

MUNDO SENSÍVEL

  E toda vez que eu via, ouvia, sorria, sorvia, sentia que vivia. Então, veio um sopro e a chama apagou.   Criado em : 17/01/2025 Autor : Flavyann Di Flaff