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Mostrando postagens de 2014

SILENCIANDO-ME

Nestes últimos dias do ano, visitou-me um misto de angústia e aflição! Foram dias confusos, com pensamentos idem. Mas, diante do inesperado, só me resta o sentimento de impotência. Portanto, aquietar-me-ei, aguardando o passar do tempo, torcendo para que as coisas conspirem positivamente. Silenciar-me-ei, abafando o que grita em meu peito! Nada mais revelarei, mesmo que a vontade de gritar aos quatro cantos do mundo me consuma. Mesmo que no pensamento a presença do que é ausente permaneça viva e contínua, não permitindo que me aquiete. Enfim, mesmo que tudo em mim diga o que agora me esforço em conter! Ao calar, consinto que as coisas fluam naturalmente, sem a intervenção indesejada e inconveniente do desespero ou da apelação. Portanto, que seja o que for para ser! Criado em:  30/12/2014  Autor:  Flavyann Di Flaff

SONHADOR

Queima a chama lentamente, à revelia, o corpo chagado pela saudade. Fazendo crepitar murmúrios de sentimentos contidos, que não se tinha ciência do tamanho e força. Mas que, agora, expõem-se sem pudor, sob os auspícios do ardor presente. Apesar da incerteza de uma concretização, segue a devanear o corpo condenado, sem direito a habeas corpus, preso continuará ao etéreo sentimento, que uma sirena provocou. Angústia de náufrago que na iminência de perecer no imenso mar da paixão agarra-se a mais ínfima chance de salvação, assim agiu, sem pensar nas consequências vindouras. Hoje sofre com os golpes da impotência, já não sabe o que fazer com os pensamentos diários, que o tomam e o fazem delirar com a cumplicidade e a reciprocidade nos sentimentos. Nestes instantes, não consegue discernir o irreal do real, entregando-se a tais devaneios. Quiçá, chegue o dia em que tudo tenha um desfecho, antes que se consumam corpo e espírito desse sonhador. Criado em: 10/12/2014 Autor: Flavyann Di

PORTO SEGURO ESPERANÇA

Nestes dias, quando a saudade bate, me pego sentado à beira do velho cais. Fitando além do Atlântico, como se assim conseguisse rever a quem se foi. Mero recurso de quem ficou e ainda espera revê-la, um dia. O cheiro do mar me embriaga e eu, tonto, viajo nas lembranças de nossa convivência – mar tempestuoso. Mas para quem sempre viveu de calmarias, aquela acendeu o espírito audacioso que pensava não ter. Como também, fez aflorar um lado que pouco ou quase não exercia. Tudo isso, em uma experiência de vida edificante, que deixou marcado o meu ser. Logo a maresia me fez voltar ao velho cais. Tenho esperança de que, um dia, ainda voltarei a esse porto, não mais para relembrar, porém, para recebê-la de regresso. Então, eu, seguro de tudo e de mim, não hesitarei em oferecer minha humilde residência, como porto seguro para uma nova vida. Criado em: 20/12/2014 Autor: Flavyann Di Flaff

DAR UM TEMPO

No início, nada tínhamos em comum. Falar a verdade, nenhuma convivência existia entre nós. Éramos dois estranhos a vagar pela estrada da vida, quando quis o destino que nos encontrássemos em uma dessas esquinas do caminho. Desde então, algo bom e quase indissolúvel começou a nos habitar. À medida em que o tempo passava, ficávamos cada vez mais conhecedores um do outro, a ponto de nos tornamos namorados. A partir daí, quantos momentos bons tivemos. Claro que ocorriam tempos de instabilidade na relação, porém isso é coisa comum entre casais. Em seguida, já relaxados, tudo voltava à doce rotina de apaixonados. Só que, um dia, chegaste com um ar diferente, logo pressenti que algo ruim aconteceria. Mais adiante, tive a certeza! Sem muitos rodeios e sem hesitar, disseste-me que pretendias “dar um tempo”, discordei, relutei, mas, mesmo inconformado, tive que aceitar. Diante da tua impassibilidade, percebi que chegara o fim do que juntos construímos. Ele veio assim, sem avisar, sem dar sin

EM MEUS PENSAMENTOS

Via-te todo dia a vagar lindamente em meus pensamentos, mas não tinha a devida noção de onde te encontrar. Este desejo era o que me consumia! Pois te queria ao meu lado todos os dias, palpável, ao alcance dos meus sentidos. Então, certo dia, movido por um insano desejo, peguei a palavra mais cortante e desferi um violento golpe contra o peito! Em cada centímetro do coração exposto, minuciosamente, procurei por ti, tudo em vão, já que nele não estavas. Não me fiz de rogado, e com palavras de refrigério, costurei, refazendo o peito. Enquanto me recuperava, segui te vendo graciosa em meus pensamentos. Criado em:  16/12/2014  Autor:  Flavyann Di Flaff

VENCENDO O DESERTO

No deserto anda o corpo cansado, ferido de todas as maneiras humanas. Os olhos insinuam lágrimas, que logo se dissipam sobre a pele ressecada pelo fogo das tribulações. Gemem os ossos, todos carcomidos pelas dores psicossomáticas. Naquele lugar, o tempo também passa, mas de uma maneira bem peculiar, como se não tivesse a mínima pressa em passar. Por onde a vista alcança, só secura e aspereza, nada que mude a paisagem. À noite, o frio cumpre o seu dever de manter, ativo e constante, o sofrimento. Apesar dele, não dá para permanecer em eterno lamento, porque a dor se alimenta dos murmúrios. Resta-nos prosseguir, mesmo que, muitas vezes, a vista cansada nos engane, levando-nos a pensar que estamos saindo, quando, na verdade, ainda permanecemos no deserto. Nesse muitos foram os que passaram, desde Agar, Ismael, Moisés, até o maior de todos eles, Jesus! Como já disseram: “não importa o quanto você bate, mas, sim, o quanto aguenta apanhar e continuar. O quanto pode suportar e seguir em fr

BOLSA DE VALORES

Ele que por ser o representante do “amor”, foi transformado em objeto de desejo e alçado ao patamar dos escolhidos, oscilando entre altas e baixas cotações, no decorrer dos anos, continuou ainda naquele mesmo nível. Instável como é o ser daquele subjetivo amor, com as ondas constantes da baixa de suas ações – valores irracionalmente estabelecidos − foi reduzido a mero objeto de desprezo, merecendo apenas a atribuição de alguns papéis de uma irônica indiferença. Criado em: 16/12/2012 Au tor: Flavyann Di Flaff

TERRA NATAL

Dos mares nunca dantes navegados, das terras onde nunca pisei, não mais senti saudades, desde que aqui cheguei! Os mares daqui têm um quê de ternura. Quando bate a solidão, é só ir vê-los, para sentir-me aconchegado. A terra – solo fértil à Amizade – inspira aos estrangeiros a presença da hospitalidade. Talvez encontrasse tudo isso, que aqui achei, nos mares nunca dantes navegados, nas terras onde nunca pisei! Mas não teria o mesmo encanto, que neste paraíso há. Da terra onde nasci e fui criado, jamais vou me apartar! Criado em: 08/12/2014 Autor: Flavyann Di Flaff

CANÇÃO DA DESPEDIDA

O último dos guardiões parece contar os dias de sua estada terrena. O seu olhar aparentemente perdido, vislumbra o paraíso do descanso eterno. Seus gestos escassos e sem pressa mostram o enfado dos anos e o desejo por tempos de inércia. Como proceder se tudo ali transmite uma mensagem silenciosa de partida, recheada de um “já deu, já é chegada a hora”. A impotência diante do que é anunciado nas entrelinhas perturba, angustia, castiga. O ruim não é a despedida em si, mas a forma como se parte. Não dá para ficar indiferente com aquele que faz parte da sua história, enfim, da sua vida. Criado em: 17/02/2014 Autor: Flavyann Di Flaff

INSPIRAÇÃO

Ei, vento, que venta! Quando expiras, balanças os coqueirais, espalhas as folhas  das mangueiras nos quintais. Ei, vento, que venta! Dependendo da intensidade de tua expiração, sai brisa, ventania ou tornado. Ei, vento, que venta! Não é bullying, é a exaltação de uma característica, que a uns agrada e  a outros desagrada. Ah, que inveja desta venta! Não é questão de gênero, mas de protuberância. Venta que cafunga,  funga no cangote dela, com tanta maestria e destreza, que chega a arrepiá-la. Andavas sumido, porém, hoje, fagueiro, vieste soprar essas  frescas palavras ao pé do meu ouvido. Criado em: 16/11/2014 Autor: Flavyann Di Flaff

CHOQUE DE ORDEM

Desde aquele dia, não fora mais o mesmo! No pensamento certa presença a incomodar, e no coração um sentimento a angustiar. Já não se via, pois o Outro lhe tomara, causando uma estranha sensação de descaso consigo mesmo. Toda essa mudança percebera, mas não dera o devido valor, já que pensara ser uma coisa ínfima, como uma poeirinha de neblina. O tempo passara, como novo adepto de um evangelismo barato, desses vistos e ouvidos em inúmeras denominações que proliferam nas periferias, pregando pretensas soluções para as aflições do cotidiano, fora paulatinamente convertido. Tornou-se definitivamente o Outro. Desde então, a sua vida perdera o sentido, porquanto só esse a significava. Longos foram os dias dessa inoportuna conversão. O passar melancólico do tempo só o fazia esquecer-se de si, até que o não responder do Outro à sua tentativa de se mostrar saudoso gerou um choque de ordem em sua situação. Então, começou a ver que a sua vida estagnara enquanto a daquele se readaptara ao amb

O HORTO DA ANAMNESE

Lembranças são como frutas frescas e maduras na árvore do pensamento. Estão logo ali, sempre prontas para serem colhidas, bastando, apenas, para isso, que a fome – aquele desejo incontrolável do outro – dê as caras. Depois de colhê-las e degustá-las, a fome logo será saciada. As frutas colhidas, rapidamente, são repostas em um ritmo quase industrial. Pois a fome não dá só uma vez, ela, quase sempre, ressurge sem aviso prévio e sem data determinada. No pomar do pensamento não tem criança travessa para atirar pedras nas fruteiras, uma vez que só quem as vê, é o seu proprietário. Naquele elas são imperecíveis, eternas. Permanecem, pacientemente, aguardando o momento de serem colhidas, saboreadas e restituídas, em um ciclo renovado a cada fome sentida.   Criado em:  06/11/2014  Autor:  Flavyann Di Flaff

DA DESCONFIANÇA

Revolvendo os espólios, pedaços de um mosaico construído por palavras e gestos convenientes naquela ocasião, foram surgindo e revelando outras facetas de um passado recente. Um fragmento laranja com rabiscos azuis lhe chamou a atenção e ao decifrar os escritos ali contidos, viu-se um Bentinho introjetado nele, com suas cismas irresolutas, nesse mesmo instante. Aquele período vivenciado, veio em bloco à mente, não tinha como impedir, pois o gatilho fora acionado por aquele pedaço de reminiscência. O corpo estático e o pensamento a milhão fazendo-os revisitar acontecimentos idos, como um arquivista a fuçar tudo o que estava guardado até ali. Porém, não conseguiu achar nada que endossasse o manuscrito, aumentando, ainda mais, a sua suspeição. Ao lembrar-se do semblante de alguém conhecido, é remetido àquela descrição perfeita dos "olhos de cigana oblíqua e dissimulada". Esse inesperado episódio não o impediu de finalizar a organização das coisas. Entretanto, a partir de então,

DAS COISAS QUE FICARAM

As coisas por si só não têm valor algum, mas quando tocadas por alguém de relevância para nós, tornam-se um relicário. Não é fácil pôr ordem numa casa já há muito tempo bagunçada, pois, ao mexer em certas coisas, corremos o risco de nos envolver com a poeira de reminiscências, e assim aconteceu com tudo que fora deixado para trás. A cada objeto manuseado, as lembranças se renovavam como se fossem frescas descrições de momentos vividos em um tempo pretérito. Instantes alentadores capazes de despertar sensações conhecidas, tais como odor, calor e gosto, em um verdadeiro caleidoscópio sensorial. Na arrumação, mais que necessária, o pensamento foi longe e o coração angustiado ficou, suspiros se misturaram com o arfar do peito ambiguamente cansado. O processo fora criterioso, desfaz-se disso ou daquilo, ou continua com as coisas. Nada do que não pertencesse ao contexto da presente vivência poderia permanecer, sob pena de se transformar em indesejáveis bugigangas imateriais. Findo o proces

MENOS FALÁCIA E MAIS MUDANÇAS REAIS

Alardeia-se o uso de 10% dos royalties do pré-sal na Educação, como se fosse a salvação da lavoura que tanto se ansiava. Puro engodo de quem tem outros propósitos, que, de longe, correspondem ao que é imprescindível. Não é preciso ser um especialista da área para saber que, se esses tais 10% forem realmente (sub)utilizados na educação do jeito que ela se encontra, será o mesmo que lançar pérolas aos porcos, já que o sistema educacional brasileiro está sucateado em todos os se ntidos. Como também sabemos que aumentar alguns dígitos nos contracheques dos funcionários, não se traduz, de fato, na melhoria da produtividade e, muito menos, em excelência na execução dos serviços. Temos como exemplo cristalino do que foi dito, a situação dos três poderes (Legislativo, Executivo e o Judiciário) do nosso país. As folhas de pagamento sempre vultosas, frutos advindos de uma “recente” irmandade entre os poderes, do tipo, se não posso vencê-lo, me junto a ele, adquirindo as mesmas benesses. Apesar

DESCOBERTA TARDIA

Consecutivamente, o pensamento fora acionado em um momento no qual o pensar – fronteira tênue entre a certeza e a hesitação – não é uma ação recomendável. Já que mais vale exercer uma impulsividade adolescente do que a precaução desmedida, advinda de uma maturidade sofrida. Entretanto, ao pensar, avaliou. Avaliando, optou. Optando, escolheu. Escolhendo, descartou, até então não sabia o quê. Com o passar do tempo, descobriu que fizera a pior escolha de sua vida sentimental. Assim lamentou, ficou triste, chorou, por fim, resignou-se. Hoje, restam-lhe apenas as lembranças que ficaram escondidas pelos cantos da casa... da mente, do coração. Essas, quando visitadas, trazem-lhe os cheiros, os gestos, formando uma presença etérea daquela que já não mais está presente no seu dia a dia. Criado em: 18/10/2014 Autor: Flavyann Di Flaff

LAMENTO PUERIL

Lá no interior da velha casa, em um quartinho secreto, estava a criança que nela ontem frequentou. Não brincava de esconde-esconde, como outrora fazia. Ali estava a se trancar, para preservar a antiga casa, onde fora soberana por um tempo que lhe pareceu eterno. Não queria que seu soluçar incomodasse, a ponto de quebrar a atmosfera austera que, ao longo do tempo, assim se tornou. Apenas queria extravasar toda a tristeza que em seu cândido peito doía, pois não aguentava ver aquele ambiente, onde outrora frequentava e fartava-se de prazeres frívolos, hoje tão metódico, sóbrio e sombrio, sem nenhum resquício da naturalidade pueril do seu tempo. Quis findar-se, mas se lembrou de que já não existia de fato. Tornara-se apenas lembranças que, neste dia, viera à tona em um saudosismo medido em horas, precisamente, em vinte e quatro horas. Porque amanhã, já será treze deste mês, e a velha casa voltará à realidade da vida formal. Criado em: 12/10/2014 Autor: Flavyann Di Flaff

DO VAZIO DEIXADO

Enche a cacimba os olhos-d’água para dar de beber àquela que não deixa esquecer, cotidianamente, a quem não está presente. Refeita, alimenta a fogueira de sentimentos com pequenas lascas de lembranças,  das quais estavam órfãos os que permaneceram. Com o passar do tempo, aumenta a distância, estreitam-se os laços, efeito que não se explica, apenas, sente-se. Águia faminta que, incessantemente, vem dilacerar a natureza humana do ser penitente, na qual impera a lei da sobrevivência, razão pela qual se renova sempre. Para, em ato contínuo, ser dilacerada por seu algoz de novo, enquanto durar a eternidade dos atos e fatos presentes. Simultaneamente, segue a carpideira em constante e exaustivo ofício, tendo como pagamento uma pesada e ingrata carga emocional. Quanto de dor ainda suportará o peito contrito? Por quanto tempo ainda permanecerá o vazio deixado? O tempo nada responde, apenas segue adiante como um corredor obstinado em uma maratona sem fim! Restando, para todos, o dever de te

ONIPRESENÇA

Ainda ontem, a casa estava repleta de sorrisos, cabelos, perfumes e afins. Hoje, só o resquício de tudo isso a alimentar lembranças frescas de conversas e de momentos prazerosamente agradáveis. Em razão disso, está difícil ficar indiferente à ausência deixada de forma tão brusca. A saudade, tal como moleca, veio zombeteira, tornando os últimos dias insuportáveis. Ah, criança danada, até nisso faz lembrar-me de quem partiu! Uma presença que durante anos se fez constante, independente das situações vividas, fazendo-se marcante nesses últimos meses. Não soaria estranho, vê-la em cada lugar de comum convivência. Passar por tais lugares, traz à tona a imagem de quem partiu – um holograma perfeito –, como se ela estivesse ali no recinto. Por ter feito parte do cotidiano, hoje, cada caminho refeito, proporciona uma situação inusitada. Seja na feirinha, na esquina da farmácia, no restaurante popular ou na lanchonete, enfim, nos lugares que já foram da convivência de ambos, há uma onipresen

À ESPERA DO REGRESSO

Quando soube da iminente partida, atônito ficou, pois não sabia o que ofertar para não ser esquecido. Olhou ao redor e nada viu de marcante, revisitou memórias guardadas de um tempo não muito remoto, mas nada de consistente para representar o que sentia. Foi quando, em um ímpeto, olhou para o próprio peito e em um gesto simbólico ofertou o coração. Antes, fez um breve discurso em tom solene no qual assim falou: ─ Levas este, que, inconsequente, insiste em alimentar o sentimento mais complicado de lidar e o mais prazeroso em se sentir e desfrutar. Dito isso, entregou-o a ela, que se prontificou em cuidá-lo e trazê-lo de volta, assim que reconstruísse o que fora abalado, e logo partiu, seguindo rumo certo. Por uns tempos o relógio parou, prendendo-o àquele momento. A vida parecia não querer fluir, mas tinha que seguir, afinal, lembranças que ficam e vida que segue. Ela prosseguiu, porém ele não era mais o mesmo, parecia sem ânimo, automático em tudo. Seu semblante ficara pálido, seu c

DAS ÁGUAS DOS OLHOS D'ÁGUA

No Vale dos Rostos Contritos corre, de forma intermitente, um rio de águas claras e puras muito raro. Não possui nenhum tipo de vida nele, mas carrega em si uma grande simbologia. São dois os olhos-d’água que contribuem para a existência desse rio que corre por entre dois platôs, estes separados por uma área de ventilação. Conta a lenda que o rio surge toda vez que fatores externos e alheios adentram as entranhas do pó e alimentam os olhos-d’água, estes, por consequência, jorram litros no vale, de fora a fora, sem nunca produzir vida na várzea, porque o seu líquido tem a mesma composição daquele que preenche o Mar Morto. Criado em:  21/08/2014  Autor:  Flavyann Di Flaff

O RUIR DO TEMPLO DE EROS

Um abalo sísmico tremeu a cidadela, fazendo ruir o templo que estava sendo construído nela. Não se sabe a procedência daquele, a sua força foi sentida desde as entranhas. Lamentável foi ver o santuário ruir, mal começara a ser erguido e já sucumbira, sem explicações plausíveis. Anos de tentativas frustradas e umas poucas bem-sucedidas, todas elas necessárias para projetar e começar a erguer o templo, que dizem ser ofertado a Eros. Se não tinham certeza disso, agora, destruído, ficará só na especulação. Segue o Tempo seu curso natural, sem se importar com o que acontece durante o seu passar. Nascem e morrem pessoas, relações surgem e se desfazem, mudam as estações e as fases da lua, mas nada, nada o abala. Impassível, ele permaneceu durante aquele fatídico dia, no qual as bases da mais sólida fortaleza foram abaladas e fizeram ruir o ádito de Eros. Criado em:  20/08/2014  Autor:  Flavyann Di Flaff

DESPEDIDA

À espera de tua revoada, lembrei-me de quantos verões desfrutamos distantes um do outro. Distância mais no âmbito humano do que em quilômetros, como bem conhecemos. Algo medido por meio de receios, deduções e especulações de ambos os lados. Apesar disso, o tempo nos foi generoso, proporcionando um protótipo de intimidade que, mais tarde, aperfeiçoaríamos em um convívio diário. Permitimos que um entrasse na privacidade do outro, conhecendo alguns pormenores, favorecendo, com isso, o surgimento de desejos incertos. Experiência que fortaleceu a relação, deixando lembranças marcantes, como as das muitas batalhas superadas; das lágrimas vertidas, devido às perdas sofridas; não esquecendo do fortalecimento dos sentimentos sinceros que floresceram no decorrer da convivência. Todavia, o tempo, como já o conhecemos, não é juiz e nem carrasco, ele simplesmente flui adiante. Logo, cabe a cada um de nós usufrui-lo da maneira que melhor achar. Assim, decidiste retornar às tuas raízes e tentar ref

PALAVRAS CARAS

Bom é o tempo em que as imperfeições e as qualidades convivem em plena harmonia! Choram os silêncios interiores, em razão da injustiça que impera no ambiente sempre acolhedor. Então, a espada afiada da palavra desmedida desfere o golpe certeiro, degolando, sem piedade, as expectativas alheias. No reino do imprevisível, prevalece a estação da incerteza, o que antes parecia líquido e certo, hoje é instável. O Samurai, guerreiro de honra inquestionável e servil, sucumbe ao mais leve assédio das necessidades humanas, mostrando, assim, que é frágil e falho. Com isso, afronta o código secular que rege o caminho escolhido e, até aqui, seguido. Ao mudar de lado, já não representa os nobres anseios e preceitos. Agora, frio e calculista, segue caminho tortuoso, no qual, ferindo os outros, fere a si mesmo. Esse detalhe não lhe é perceptível no presente, todavia ser-lhe-á demasiadamente caro em um futuro bem próximo. Criado em:  16/08/2014  Autor:  Flavyann Di Flaff

RENASCENDO DAS CINZAS

Quando a última folha da mudança sofrida cair e a estação da melancolia se for, só restará a saudade de tudo o que ficou por acontecer, por falar, por dar reciprocidade, por desfrutar, por viver enfim. Mas, tão logo surjam as primeiras flores primaveris, o ânimo estará renovado, trazendo novas oportunidades, infinitas possibilidades e inúmeras outras sensações. Mudam-se as fases, as estações, permanecem sempre as lembranças daquilo que foi vivido ou deixado por viver naquelas. Quando os acontecimentos externos predominam sobre o que é produzido, provocado internamente, perdemos o jeito leve de viver e ver as coisas, as relações. Perdemo-nos em culpas, medos e questionamentos sem sentidos, com isso interrompemos um ciclo, que deveria ser natural. Afinal, cair, machucar-se e levantar-se fazem parte do aprendizado, porém, ultimamente, estamos a nos privar da vivência daquilo que é natural. Cansei! Chega! Não há mais espaço para murmuração! Então, que se vá, que mude, que se renove e ressu

SOB A TIRANIA DA IMPOTÊNCIA

Do reino de OTPA (Onde Tudo Pode Acontecer), chega o lépido mensageiro que, sem cerimônias, logo expõe o decreto: – Desde já, fica determinado que ninguém poderá concretizar os seus anseios, sendo permitido, apenas, possuí-los. Assim proclama a minha Senhora! Tendo isso falado, retirou-se. Naquele dia, lamentos preencheram os ares, não teve um único ser que não tivesse sentido a mesma dor. Desde então, a atmosfera daquele ambiente transfigurava-se, toda vez que recebia uma visita, esta, quase sempre, era a aspiração de algum residente. O clima ficava pesado e triste por imaginar alguém desejando imensamente o outro ser e não poder tê-lo consigo, apenas por capricho de uma figura tirana e que nada entendia de sentimento. A cada visita recebida, era como se cada habitante daquela aldeia perdesse um ano de sua existência, que por não poder ser divida com o outro, ficara sem sentido. Ali, naquela aldeia, existia um habitante que, desde aquele fatídico dia, dormia e acordava inconform

CAPRICHO DA NATUREZA

A flor estava exuberante! O jardim – velho conhecido – mantinha o mesmo cenário caótico, mas a flor, ah, aquela flor! parecia ter sido cingida pelos dourados raios do sol da manhã, tamanha era a sua beleza, agora, radiante a sua figura. Não fosse noite, mereceria um agrado daquele que, sem muitos rodeios, é merecedor do codinome beija-flor. A Natureza tem lá os seus caprichos! Pela manhã, já passara, como de costume, a voar despretensioso pelo jardim, o colibri. Seus olhos há muito se debruçaram naquela que, hoje, era pura autoestima. Enamorado ficara, sem nunca a ter tocado. Então, movido por algo mais forte, mesmo tendo anoitecido, venceu a sua natureza e lá se foi ver a musa, porém, ao chegar no habitat dela, estremeceu. Não sei se por ser noite, na qual reina apenas as luzes artificiais, pensou ter visto uma terceira figura, o que fez com que o seu coração logo acelerasse e a sua mente viajasse, gerando um nó em sua garganta. Tinha pensado em falar tantas coisas, todavia já não

DA VIDA

A Vida é uma mulher temperamental! Estamos juntos, literalmente, até que a morte nos separe. Testemunha ocular de tudo o que fazemos e/ou aprontamos, comporta-se como um estranho que a tudo observa, mas que em nada se intromete. Até que, num belo dia, quando decidimos dar um rumo certo a dita cuja, eis que surge o repentino desacordo. Queremos nos aliar a outro ser, porém ela, revanchista, mostra o fruto dos nossos descasos, e, sem razão, murmuramos, pois, no calor da desilusão, perdemos a capacidade de refletir sobre eles. Ah, mulher cruel! Por que não nos censurou, quando cometíamos os desatinos? Assim, poupar-nos-ia de tamanha e oportunista desfaçatez. Gesto pensado de uma mulher calculista cuja pretensão é só a de nos cercear a liberdade de escolher com quem bem quisermos viver. Contudo, escuta, já que bem lhe dizemos, você venceu agora, porém, a partir de hoje, mais atentos, não cometeremos os absurdos e, assim, terá que permitir o seguir natural das coisas, sem revanches, desfo

DAS LEMBRANÇAS

Nos engenhos da mente existe um mecanismo que mói, remói, tritura a cana caiana dos prazeres imaginados, mas sempre reprimidos, até que só reste o bagaço – futuro combustível para a queima da lembrança do tempo que se perdeu. Porém, a consciência – senhora de tudo que nos engenhos passa – pergunta-nos da garapa e, sem querer, percebemos que, por mais que façamos, ainda restarão fortes e doces lembranças do que vivemos ou deixamos de viver. Criado em: 26/06/2014 Autor: Flavyann Di Flaff

EIS A QUESTÃO

Ao longo dos tempos, a sociedade vem mudando, sofrendo inúmeras e distintas transformações, até chegar ao que hoje vivemos. Diante de tantas alterações sofridas e das que ainda estão por vir, como nos reconhecemos nesse contexto? Somos indivíduos autônomos ou autômatos? Eis a questão!   Criado em: 29/06/2014 Autor: Flavyann Di Flaff

INCERTEZA

Tempos nefastos assolam o paraíso. Vontades, desejos, tudo desperdiçado por uma racionalidade inoportuna. A irracionalidade, neste momento, seria bem-vinda. O instinto seria senhor da situação, tudo aconteceria de imediato, sem consciência prévia das possíveis consequências – trava dos ímpetos de desejos primevos. Dilacera a carne, incomoda a alma, vê que a areia não cessa de cair na parte inferior da ampulheta. Linguagens fáceis, fluídas, fúteis, fracas, sem forças para se converterem em ações. Assim vai aquele a quem não se pode recuperar, deixando inerte o que pode vir a ser, mas que ainda não é. Criado em: 23/06/2014 Autor: Flavyann Di Flaff