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Mostrando postagens de maio, 2022

CACOS DE UMA SOCIEDADE

  A vida não tá boa? Então, vamos por aí chafurdando E todos, com propaganda, vamos enganando Enquanto o nosso ego vai ganhando envergadura Usando os vícios, fraquezas e necessidades dos outros Para chegar ao topo da fama, sem se importar com a compostura   No nosso meio tem de tudo Tem celebrity mexendo a raba sem parar Uns são querendo ser outros não sei o que lá Enquanto um tal de progressista arrota revolução Um jovem ativista vive em profunda depressão   Tem sepulcro caiado sendo influencer Pregando o que, aos olhos e ouvidos, satisfaz Fazendo, com isso, que o seu capital aumente Enquanto trata o outro como um like a mais   Toda essa rebeldia aparente É só para engajar e monetizar Porém, aos atentos, não convence Só aos tolos consegue aliciar   Eu sei que até parecem pessoas sérias Mas é tudo, do imaginário coletivo, associação O problema é o infotenimento com suas besteiras Dominando um povo sem educação.   Então, mergulha nos simulacros Dessa realidade beba, fume e se satisfaç

CESARICÍDIO

  As ruas da periferia deram-me voz. Porém, lembrar as nossas agruras, todo dia, soa como uma ladainha, que parece nunca chegar ao santo e aborrece a quem chega perto um tanto. Se eu queria ser ouvido, deveria ir aonde o povo tem vez e voz. Para ascender ao Cosmos – templo da racionalidade – fui indicado por uma recomendação popular, e tudo que defendia no caos ordenado – paraíso da plebe, finquei como bandeira no plenário. Pelos meios regimentais, tentei promover diversas reformas, tanto no âmbito social como no político, o que abalou algumas estruturas ali cristalizadas. Na Câmara das Representatividades, os meus pares sentiram-se ofendidos, e municiados por narrativas desconexas, distorceram este ocorrido, uma simples homenagem-protesto passou a ser vista e tratada como uma violenta invasão, uma verdadeira afronta a um templo religioso. Nessa deturpação, reside uma triste ironia, a igreja “afrontada” pertence a uma santa cujo nome a meu povo referencia. Desde então, um duro julg

O TEMPO DA MALDADE

  No tempo da nossa infância, acho que a Maldade nem era nascida, assim pensávamos. Porque houve um tempo em que ela sentia vergonha de se mostrar ao mundo e, por isso, travestia-se de travessura – coisa de criança arredia – pensávamos. Por esse motivo, fingíamos não percebê-la, de tão comum que parecia. Vivíamos sem sobressaltos em relação a ela, e quando, mesmo de forma repentina, a danada aparecia, a gente nem se assustava. Parecia até brincadeira, pois, entre maldade ou travessura, preferíamos os doces. Nessa época, confundíamo-las com Cosme e Damião, de tão parecidas que eram, a Maldade e a Travessura. Contudo, passado o tempo, ela cresceu e ficou espevitada. Perdeu a vergonha e, sem a cara pintada, foi expor-se com sua verdadeira face. Feriu os seus queridos e sangrou os desconhecidos. Fez da brutalidade a sua marca. Distribuiu desgostos a todos que encontrou. Hoje, vive de tudo de ruim que plantou. Feita a fama, deita na cama e só levanta para praticar judiação. Porém, chegará o

DE UM TEMPO IDO

Hoje, uma canção me fez um convite ao pé do ouvido. Convidou-me a ir para além da esquina do tempo, seria coisa rápida, um vapt-vupt. Não hesitei e segurei em sua mão. Como num passe de mágica, chegamos ao local por ela escolhido. Havia uma atmosfera bem familiar, algo muito forte, dentro de mim, evidenciava essa cisma. Entramos na casa, que possuía um ar acolhedor, e a mesa estava posta. Algumas pessoas nos esperavam, não com ar de estranhamento, mas sim com ar de habitualidade, como se nós fizéssemos parte daquela cena de forma permanente ao longo do tempo, sem interrupção, caracterizando, assim, uma relação de vínculo entre todos ali presentes. O almoço era constituído de feijão verde e galinha guisada, muito simples aos olhos despidos das lentes de uma memória afetiva, mas de um valor inestimável para quem as possuía, nesse caso, eu. O silêncio tomava conta, porém não era hostil, era de respeito ao momento de partilha. Eu quase não comia, pois, enquanto observava a face de cada u

O PREDADOR

  Ah, o amor! Permitiu-se convencionar. Para ser aceito, até começou a fazer as vontades do grupo. Quem diria, tornou-se um grandessíssimo maria-vai-com-as-outras. Tanto que, pela tecnologia, deixou-se alienar. Criou perfil em diversas redes sociais. Agora a vida é vivida em stories , posts , feeds , reels e afins, todos sempre em dia. A superficialidade é seu mantra, e a sua mente aliciada, com a artificialidade se encanta. Certo dia, sentindo um vazio ulterior, despiu-se da vergonha, único e último modelito que possuía, e foi expor-se nu. Despiu, não a alma, mas o corpo, na intenção de preencher a ampulheta de fugas ilusórias. O que se fazia cheio no começo, ao final do dia, esvaziava-se novamente, em um círculo vicioso ao qual se deixou aliciar. Dizendo-se forte, refaz-se sempre em uma conotação negativa, em virtude de sua escolha existencial. De contatinho em contatinho, desmonta-se a sua aparente realeza, revelando o embuste. Então, percebemos que se trata de um farsante,