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Mostrando postagens de 2021

RENOVAR O OLHAR

  Mais um ciclo que se fecha. É o tempo cronológico chegando ao fim, para que um outro se inicie. A vida não é precisa quanto ao seguimento desse curso, mantém-se rebelde. Está sempre guardando decisões para depois, acumulando fardos nos quartinhos empoeirados de um tempo pretérito. Fazendo de conta que fora renovada com o tempo que chegou. Mas que bobagem, nada é novo! Só o otimismo utópico é capaz de fazer renovar o olhar sobre as coisas que nos rodeiam, tal como o olhar infante sobre o mundo, que de tudo, nele já existente, se encanta, totalmente alheio à sua secularidade. Então, cabe a cada um de nós transformar o automatismo da vida em uma metáfora do que virá, não permitindo que a impotência nos paralise e nos consuma diante da existência.   Criado em: 30/12/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

DO HUMANO

  Quer conhecer o homem na sua essência? Não o considere no início da jornada, pois está carregado de uma coragem que não lhe pertence. Nem tão pouco, o considere na chegada, uma vez que será outro, totalmente diferente do que foi. Conheça-o, portanto, durante a travessia, é nela que o humano do homem se revela sem maquiagem, sem maniqueísmos, simplesmente, em sua mais pura natureza humana.   Criado em: 28/12/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

ASSÍNCRONO

  Ah, minha querida, o amor nos visitou em tempos distintos, pregando-nos uma peça! Você me amou, quando nada eu sentia. Eu a notei, quando o seu sentimento por mim já fenecia. Apesar do seu amor exposto em poéticos outdoors, despercebia que o público-alvo era o meu coração, que, desenganado do mundo, nada via nas entrelinhas de seus belos e emotivos apelos. A vida acelerada dificultava a percepção do que estava, ao mesmo tempo, diante e distante do meu olhar, tornando-se intangível, fazendo o desejo esfriar de um lado e não florescer no outro. Foram anos de desencontros, de espera para um lado e de viagens para o outro. Então, quando o amor em mim chegou, você já se fazia realmente distante. Não foi fácil perceber que há muito existia um sentimento e por falta de reciprocidade de minha parte, ele findou.  Por fim, essa dor só não foi maior, porque percebi que esse délai no sentimento gerou, em nós, uma promissora amizade. Criado em: 23/12/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

EXISTÊNCIA MINHA

  Crescer não foi difícil, complicado foi ter consciência de que havia crescido e regredir já não era permitido. Por um longo período de minha vida, o tempo se permitiu ser meu brinquedo, submetendo-se a todos os meus caprichos e vontades. Mal sabia de que eu é que era o seu brinquedo. Só percebi isso, quando aquela consciência tomei, porém já se fazia tarde para choros e lamentações. Restava-me, agora, adaptar-me à perversa brincadeira desse deus, senhor de nossa existência terrestre, até o fim dos meus dias.   Criado em: 21/12/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

DESROMANCEANDO

  Com a pós-modernidade, as máscaras sociais caíram. As velharias perderam a face de novidade, as cortinas foram ao chão e vimos as parafernálias usadas para nos emocionar. A metáfora perdeu lugar para o discurso direto no campo da poesia. Então, descobrimos que não existia amor nas relações, que tudo em nosso universo era um imenso teatro. Romancear era a tática usada para eufemismar os nossos atos. Fomos tomando consciência, em doses cavalares, de que a guerra não produzia a paz. Que os nossos amigos eram amigos dos seus próprios interesses, jamais de nós. Que o amor autodeclarado era um discurso vazio de sentido e de práticas. Que a sinceridade não passava de um raio X revelando a fratura exposta que, a olho nu, escondia-se, fazendo parecer sadia uma relação doentia. Que o abraço e o colo acolhedor, para quem nos dava, na verdade, era um ato de agiotagem. Assim foi decretado o fim do paraíso na terra de nossa existência, sem aviso prévio, contudo revelado nas entrelinhas da inovaç

SOBRE RELACIONAMENTOS

  Relacionamento é a associação de fatores lógicos e subjetivos. A cada passo nesse complexo território, lições nos são dadas, cabendo a cada um de nós assimilá-las da melhor forma possível. Evitando levar toxicidade à nossa mente e aos nossos sentimentos, comprometendo, dessa forma, futuras relações. Mas como saber quando utilizar a lógica ou a subjetividade? Mesmo não tendo, no início de nossa existência, uma experiência real, com certeza, já formulamos diversas situações baseados no que ouvimos ou presenciamos e isso já nos dá um certo feeling para aprendermos a fazer uso de uma ou de outra. Geralmente, a utilização da lógica é feita quando já passamos por situações traumáticas e delas descartamos as dores e ficamos apenas com o aprendizado que qualifica nossa percepção para situações futuras, sem jamais nos privar de experienciar novas relações. Enquanto a da subjetividade é feita quando já existe um conhecimento pleno do que se está vivenciando, caso contrário, convém caminha

REVERÊNCIA AOS NOVOS MONARCAS

  Enquanto os “novos monarcas” tiverem, sob as suas mesas e a seus pés, os cães subservientes que tanto se alimentam das migalhas que caem dos constantes banquetes, sempre bancados pelo erário público. Não faltarão àqueles monarcas os votos necessários para se perpetuarem no poder e as mais fervorosas reverências, até para os mais infames de seus atos.   Criado em: 24/11/2013 Autor: Flavyann Di Flaff

COM O CHEIRO DAS ÁGUAS

  Certa feita, a seca chegou maldita, levando o pouco que eu tinha, e da minha terra, me fez gente fugitiva. Pra cidade eu fugi, pra arrumar meio de vida, mas não encontrei um cristão que me desse guarida. Foram anos sofrendo da pior dor do mundo, nem a perda dos meus, nem dos bichos, doeu-me tão fundo. O desprezo de gente é pior do que a seca, nos consome as forças e as carnes tão depressa, que de moço nos faz uma pessoa decrépita. Já quase consumido, triste e arrependido, decido voltar pro meu torrão carcomido. Desacorçoado e sem posses, querendo voltar, sou donzela desejando casar, mas sem poder por falta de dote. Vingará, em mim, essa vontade derradeira! Tal qual semente que espera o cheiro das águas, ela brotará e florará com o vigor de uma nova vida, levando-me de volta à minha terra querida e salvando-me dessa saudade matadeira.   Criado em: 19/11/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

UM QUARTO DE DESPREZO

De sua antiga vida, era sempre lembrada, toda vez que se recolhia àquele quartinho. De lá, só saía, quando o despertador dizia: “Acorda, já são quatro da manhã!”, e assim seguia, todo santo dia, para cumprir, do ofício que se tornou sua vida, a carga horária diária, que, muitas vezes, entrava pela noite adentro, acostumada. De onde viera, a vida não permitia sonhar com contos de fada, quando muito, só sonhar em ter o básico, o que já era uma regalia. Foi assim, dá infância até aqui. Privilégio que teimava em permanecer etéreo, inconcluso, impalpável, obtuso, impossível. Como um anjo, antes de tudo e de todos, já estava de prontidão naquele ambiente familiar. Cada cantinho conhecia de cor. De cada recanto, sabia das histórias, como se eles fossem seus filhos e deles soubesse de suas mudanças sofridas ao longo dos anos. Das alegrias e das dores das pessoas que por eles passaram. Eram tão íntimos, elas e os cantinhos, quanto os segredos dos que ali habitavam. A imensa mansão crescia contí

SUPERAR A TRADIÇÃO

  O “Eu te amo” seduz os ouvidos e encanta o coração! Mas quando se trata de viver os sentimentos, essa tradição oral não traduz a verdade que habita naquele que a professa. Uma vez que qualquer voz enunciaria o que, o outro carente ser, gostaria de ouvir. Portanto, para superar o velho subterfúgio oral do “Eu te amo”, deve-se estar livre da carência e ciente das responsabilidades implícitas em uma relação a dois.   Criado em: 02/11/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

DO DESALINHO DEIXADO

  A saudade chegou, como criança, quando da presença de um adulto no ambiente, com pés de lã para não fazer barulho; e quando me dei conta, meu coração já estava apertado, parecendo aquele pintinho nas mãos do menininho que, curioso e afobado, o acaricia de modo descontrolado, fazendo-o expor tudo aquilo que está guardado dentro de si. Ah, menina danada! Por que vieste do nada e me fizeste nostálgica? Por isso, o dia ficou pesado, a paisagem desbotada, o ar carregado e as horas tristes. Trouxeste reminiscências de momentos que não mais existem, ações que permanecem gravadas nos arquivos das memórias afetivas, as quais quase nunca acesso, a não ser quando me levas até elas. Depois de veres as minhas emoções expostas, ficas com ares de surpresa e partes atônita, como se alguma travessura tiveste feito. O que fez lembrar-me de que a vida, na imaginação de uma criança, é sempre feita de doces ou travessuras. Mesmo sabendo que vieste à minha porta, travestida de silêncio, e encontrand

FLORES RARAS

  A “Príncipe negro” florara, duas belas e perfumadas rosas dominavam a paisagem árida do jardim da existência. Reconfortantes e acolhedoras eram as suas delicadas presenças. Mas, de repente, um vento invernal soprou e levou uma das estimadas flores. O jardim se fez triste, a outra nada sentiu, pelo menos, naquele momento. Depois de alguns anos, a ausência se fez um fardo, o cansaço da solidão fustigou a rosa derradeira; e ela, aos poucos, foi perdendo o viço. Em um belo dia, a consciência cessou e, como um sopro, a vida se esvaiu. A saudade ficou a vagar por entre os cômodos da existência, e a cada lembrança, uma emoção matadeira. Então, a realidade louca do mundo que ficou, tornou-nos inertes aos apelos do coração contrito e, assim, fomos recordando, raramente, daqueles momentos de encanto e harmonia que aquelas duas flores raras nos proporcionaram. Criado em: 01/11/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

A COP AGORA É POP (Parafraseando a banda Engenheiros do Hawaii)

  Todo mundo tá revendo O que nunca foi visto, Todo mundo tá comprando O que é notícia.   A COP é Pop, A COP é Pop, A COP não poupa ninguém! A COP levou um tiro à queima roupa (da China!) A COP não poupa ninguém ? Será? Terá sanções? OMC, cadê você? Só quero ver! A solução é pra agora! Agora é 2030 como META. O Xi, no Jeep, assim falou: Agora já era, só em 2060! O Mundo queira ou não queira.   Toda causa universal é Populista é Pop, É motivo pra oportunista s! Mas afinal? O que é essa COP? Uma falácia ou encontro POP de líderes VIPs?   Criado em: 30/10/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

AO CAIR A LONA

  Primeiro vieram os anúncios, depois o circo foi montado. Assim que a lona foi erguida, fomos à lona diariamente, sempre colocados no corner por anúncios ininterruptos das performances circenses. Não havia um dia sequer em que a atmosfera apelativa do espetáculo indoor não invadisse a nossa rotina, causando incômodos alvoroços por entre as gentes da cidade. Mesmo quando os reclames não se faziam presentes, o assunto se perpetuava nas rodas de conversa fiada. Mas como bem dizem há tempos, não há bem que dure e nem mal que ature. Assim o espetáculo mingou, a repercussão cessou e o fuzuê acabou, então o circo arrancou as estacas, desmontou as torres e recolheu a lona. Encerrando, assim, a representação de uma realidade sistematizada e naturalizada há séculos. Nos dias seguintes, os anúncios sobre a turnê funambulesca ficaram escassos. Sem o circo montado, todo o resto da vida cotidiana não possuía sentido, era dessa forma que os anunciantes desejavam engendrar, em nossa consciência

PARA REFLETIR...

 

FACE DA PRÁXIS

  Ah, mal dita tecnologia! Veio com ar alvissareiro, revelando o mundo a partir do nosso próprio terreiro.   Escondendo, em si, um estranho paradoxo: Faz do distante, o próximo; do já perto, o distante. Dos laços, uma rede de encosto para os futuros desenganos.   Como substância botulínica, promete esconder os traços de tristeza presente, simulando uma felicidade perene.   Simulacro de outra realidade, conceito bizarro do eu mesmo; Mostruário de capas e carapuças de caimento perfeito em um qualquer.   Roteirizando a vida, banalizou-a literalmente, eliminando qualquer resquício de novidade. Simultaneamente, sei de tudo, porém nada guardo. À fartura de informações, assim me enquadro.   Então, o que era novidade, virou rotina açodada, que, antes era malvista, agora é compartilhada.   Criado em: 17/10/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

CARA DE PAU

  Naquele tempo, chegaram os homens avant-garde e desprezando a ornamentação, natural e bela, que a terra exibia, pintaram-na de suor, sangue e lágrimas às custas de uma liberdade vigiada. O tempo passou, o mundo evoluiu e a terra, cara pálida, pelos contínuos “sucessos” dos herdeiros daqueles homens, foi maquiada com o último modelo democrático de marketing, ficando com a cara lambida e cuspida de quem a governa. Com o rei morto, outro é posto! Logo a maquiagem é desfeita e, com a cara limpa, a terra aparece. Demaquilada, exibe, nua e crua, a verdadeira face daquele que se esconde sob os convenientes enfeites. Mas, volta e meia, inicia-se um novo governo e o velho modelo oficial de maquiagem administrativa é aplicado. Criado em: 16/10/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

ESSENCIAL

  Tudo o que foi vivido, ficou escrito, não tem mais como apagar. Remoer o passado nem sempre é bom, imagine remoer somente aquilo que nos machucou? Esse tipo de atitude só atrapalha o presente e acaba com as possibilidades de algum futuro para a nossa vida. Quando o amor que foi jurado e construído a dois desmorona, resta-nos sempre o nosso porto seguro – o amor-próprio – para renovarmos as energias e seguirmos fortes vida afora. Afinal, quando um relacionamento não dá mais certo, bola pra frente, amar-se em primeiro lugar é a essência para qualquer recomeço. Criado em: 13/10/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

ENQUANTO GIRA O MUNDO

  Assim que desembarcou no mundo, ele começou a dar voltas. A infância passou como um meteoro repleto de momentos inesquecíveis, a adolescência fluiu como barquinho de papel carregado de experiências significativas no agitado mar da vida. Seguiu girando, sob seus pés, o mundo. A maioridade chegou com o peso que a gravidade lhe deu. Era como se todas as horas leves e agradáveis – suspiros doces – tivessem permanecido na memória enquanto os instantes duros dela saíssem e se materializassem em um grande fardo a ser levado jornada afora, com o agravante de aumentar a cada década vindoura. Seguia girando, sob seus pés, o mundo. A maturidade veio como jiló! Foi com um sabor amargo que se fez presente. Desembrulhado sem uma expectativa sã, pois a experiência de outros carnavais deixou marcas profundas. Parecendo brinquedo quebrado produzido em escala industrial e que passou despercebido pelo controle de qualidade, precisando, agora, de um recall que em nada muda, só causa a falsa impress

AVISO AO MAR RASINHO

  Ó mar rasinho, eu rio de ti! Marulhar-se por tão pouco, um simples gracejo de alguém da corte da dama da venda, quase chega a ser um abuso de autoridade. Olha que podes passar a sensação de falta de ética aos mais legalistas. A pitoresca comparação do que estás a fazer com o espetáculo burlesco de um circo mambembe, só revela a versatilidade das tuas ações e das de teus iguais, que transformam movimentos corriqueiros em grande novidade. Acalma a tua sanha, volta ao teu leito esplêndido e murmureja a teus pares que conseguiste transformar aquela marolinha na maior onda do momento. Criado em: 06/10/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

QUEDA DO SISTEMA

  Por não se reconhecer instável, ela caiu em si! A máquina do sistema tropeçou na própria soberba, ficando ao rés do chão por alguns minutos, tempo suficiente para que a vida despertasse por entre o asfalto da consciência há muito sufocada. Porém, parte dela, fragilizada, diante do sol inclemente da realidade, desesperou-se e, murmurando, reivindicou a volta imediata de quem lhe oportuniza a servidão voluntária, hoje e sempre. Então, como por encanto, a máquina se levantou e, poderosa, com sua retórica algorítmica, reconquistou os recém-desamparados da praticidade e da comodidade modernas. Criado em: 05/10/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

MICROCONTO I

 

BOCAS APOCALÍPTICAS

  Não me venha com discursos prontos sobre temas universais, escritos sob a conveniência de interesses vis. Transcrevê-los não os renova, pelo contrário, só evidencia o quanto estão surrados como modelos únicos de um mundo ideal. Fantasia burlesca de um desejo coletivo que nunca se concretiza de fato, mas é sempre atiçado por aliciadores em busca de apoio eleitoral. Vendedores de ilusão, que, em nada, perdem para aqueles de indulgências no passado. Criado para obter vantagens durante o período eleitoral, esse mecanismo devora as esperanças dos que ainda sonham com um país mais justo e harmônico socialmente. Aquelas cantilenas em vez de me entorpecerem, fizeram-me despertar, mas logo me tacharam de louco, uma vez que, por estar consciente, rompi com o inconsciente coletivo. É esse que alimenta o mercado de ilusões, trazendo à tona tudo aquilo que nos foi herdado por meio dos nossos ancestrais, que, enganados, nos legaram o engano. Portanto, agora desperto, protejo, com questioname

ANGÚSTIA INTEMPORAL

  Balança sobre a minha cabeça, o pêndulo do Tempo! Simultaneamente, convenções sociais me cobram agilidade em múltiplas tarefas. Ambos me angustiam, pois sei que me consomem de formas distintas. Prazeres são disponibilizados para esquecer a vida que se leva, manipulada por aqueles dois fatores. Eles vêm em capsulas, em estado fluido ou viscoso, gasoso ou em pó, mas não são feitos para celebrar; são entorpecentes para a nossa consciência, castração para o despertar que liberta. Balança sobre a minha cabeça, o pêndulo do Tempo! Corrói-me a falta de tempo o ócio das obrigações diárias que me fariam são, livre das angústias projetadas por uma realidade imposta. Afinal, salutar seria o equilíbrio entre o desfrute e o ócio desse ser imaterial que compõe esta passagem terrena. Criado em: 30/09/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

A GRANDEZA ESTÁ EM SER PEQUENO

  A vida consiste em infindáveis mistérios, dos quais quase ou nada sabemos. Muitas vezes, acabamos por desvendar alguns por mero acaso, quando estamos a divagar sobre outras tantas coisas que nos cercam. Certo dia, estava eu a pensar na finitude do ser humano, quando me veio aquela máxima que diz: “A grandeza consiste em ser pequeno”. A partir daí, o pensamento fluiu como água no leito de um rio. Analisando a questão, em princípio, percebemos que são antagônicas; porém, com mais cuidado, vemos que também são convergentes. Estas grandezas escalares, grande e pequeno, remete-nos às duas fases do ciclo da vida. A segunda, à infância; enquanto a primeira, à velhice / maturidade. Notamos, então, que aquela máxima começa a fazer algum sentido. Contudo, ainda necessitamos de mais subsídios para melhor a compreendermos. Para isso, partimos da seguinte questão: Como ser grande, sendo pequeno? Em um mundo que nos cobra constantemente características inerentes a um super-homem, portanto,

REDE DE EXEMPLOS PATOLÓGICOS

    Depois do rompimento traumático, pegou uma prancha maneira e foi curtir, com ela, uma nova vibe . Dada a paisagens naturais, ela logo o encantou, e com esse novo objeto de sua paixão, seguiu a filosofia do popstar : ir na onda que mais longe o levar. Afinal, queria fugir da realidade que o seu reflexo reverso sabotou, e, assim, deu cutback , hang-five , hang-ten , transformando-se no melhor e maior exemplo de superação pessoal das redes. Foram dias de pura curtição! Sob o cavalo indomável da emoção, desfrutou momentos de prazeres fugidios, mas a cabeça – acusadora intermitente –, lembrava-o de que o coração era prisioneiro do passado. A vida do ex-Outro parecia fluir bem, também! Mas era só capa, hábitos nem sempre fazem monges. Estes, calados, escondem feridas que não cicatrizam, apesar dos que as têm, procurar a cura sempre ferindo alguém. O mundo gira, quem não sucumbira à dor, iludindo-se ao impô-la a quem estava são, sofre inevitável e merecido revés. Cai no jogo da dor su

IMPOTÊNCIA

Da janela da alma, vejo a menina castanha a soluçar dores infindas. Queria dizer-lhe palavras de consolo, mas a garganta profunda que nos separa, impede-me de pronunciá-las, entaladas ficaram lá. Queria confortá-la, porém as dores pareciam as minhas, e impotentes, meus braços permaneceram estáticos. As pernas idem, quando eu quis ir ao encontro dela. Então, assim, paralisado, sofri calado, sem poder ajudá-la.   Criado em: 20/09/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

GERAÇÃO PANDÊMICA

Não imaginava que tanto avanço tecnológico traria tamanho retrocesso ao ser humano. A cada novo lançamento, somos remetidos ao que temos de mais primitivo em nossa humanidade. A geração que se apresenta é imagem e semelhança de uma racionalidade patológica quase hegemônica na sociedade. Há, naquela, uma imensurável e generalizada insensibilidade à dor do outro, coisa que só víamos em alguns da nossa espécie. Uma geração alheia à realidade que a cerca, vivendo em um mundo de projeções do real, onde não existe a mínima noção de consequência dos atos cometidos, fruto da ilusão de uma terra sem lei, sem dor física ou psicológica, sem nenhum limite. O aprendizado por meio dessa experiência de estímulos desenfreados gera mudanças comportamentais relevantes, pois torna a parte animal de sua natureza como a mais dominante. A conivência e a omissão de muitos genitores aliadas ao uso descontrolado e abusivo das tecnologias estão produzindo uma geração de indivíduos extremados, seja na sua

RESGATE PUERIL

  Como é duro voltarmos a ser criança, depois de tantos fardos postos sobre os nossos ombros! Talvez, quando, cansados, pararmos um pouco e colocarmos a carga no chão; a meninice nos sorria e estenda a mão, dizendo-nos que o que levamos são apenas brinquedos quebrados, dos quais ainda não desapegamos; e que está na hora de consertá-los para termos de volta a felicidade. Distribuindo-os a todos que deles precisarem pelo caminho, resgatando, por meio desses mimos, a criança feliz que fomos um dia. Criado em: 16/09/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

MUNDO ENCANTATÓRIO

            A vida fora da tela é morta, dentro dela, é cheia de vida. Nessa pequena tela, as pessoas são livres para fazerem o que bem quiserem e entenderem. A banalização da vida em si é ratificada a cada acesso ao Mundo do Nada, não faz sentido lutarem, só para viver o tédio da mesmice da existência real. Dessa forma, trancam-se em seus quartos para fugirem da realidade, mergulhando, através de seus guarda-roupas tecnológicos, no Nada. Lá, vivem situações, todas elas previsíveis, customizadas ao gosto do freguês, em vez de aventuras, justamente por não serem espontâneas.      Quando voltam à realidade, é como se as horas não tivessem passado e ninguém sentisse falta delas. Então, entediadas, retornam constantemente ao Nada para reencontrar seus amigos encantadores. Juntos, viverão aventuras que lhes farão experimentar sensações reais, porém sem as consequências típicas de cada uma delas, o que lhes tornarão insensíveis diante da convivência social real, em um círculo viciante e dest

TRANSFORMAÇÃO

O que mudou? Foi só o tempo? O vento? As estações? O pensamento? O ponto de vista? O movimento? A força? A velocidade? Os hábitos? Ou mudamos nós?   Criado em: 12/09/2013 Autor: Flavyann Di Flaff

DIVERGÊNCIA SILENCIOSA

  Escuto, ao longe, o toque de silêncio! Alguém que, nesse instante, não está mais entre nós, recebe a homenagem derradeira. Coincidentemente, algo que tanto prezava, esvaiu-se, não mais reside em nós. Foi-se, massacrado pelo silêncio que diverge daquele que homenageia, pois fere, separa, isola, cala e mata.   Criado em: 12/09/2013 Autor: Flavyann Di Flaff

CASTELO DE AREIA

O passado teima em me iludir com as lembranças de coisas boas que ficaram nalguma faixa do tempo. Mas o presente é enfático, com sua realidade nua e crua, sempre a influenciar o futuro, que espera ansioso por existir. Então, se o futuro é construído por atos concretos do presente, não serão lembranças que o erguerão.   Criado em: 12/09/2013 Autor: Flavyann Di Flaff