De sua antiga vida, era sempre lembrada,
toda vez que se recolhia àquele quartinho. De lá, só saía, quando o despertador
dizia: “Acorda, já são quatro da manhã!”, e assim seguia, todo santo dia, para
cumprir, do ofício que se tornou sua vida, a carga horária diária, que, muitas
vezes, entrava pela noite adentro, acostumada.
De onde viera, a vida não permitia sonhar
com contos de fada, quando muito, só sonhar em ter o básico, o que já era uma
regalia. Foi assim, dá infância até aqui. Privilégio que teimava em permanecer
etéreo, inconcluso, impalpável, obtuso, impossível.
Como um anjo, antes de tudo e de todos, já
estava de prontidão naquele ambiente familiar. Cada cantinho conhecia de cor. De
cada recanto, sabia das histórias, como se eles fossem seus filhos e deles
soubesse de suas mudanças sofridas ao longo dos anos. Das alegrias e das dores
das pessoas que por eles passaram. Eram tão íntimos, elas e os cantinhos,
quanto os segredos dos que ali habitavam.
A imensa mansão crescia contígua à mansarda onde morava. Irmãs dos mesmos pais, criações iguais, porém, ignorava o porquê, na sua lida cotidiana, do trato com diferença de valores. Mas, longe de querer entender, a ela bastava transpor uma linha – o arco da porta – faixa de uma casa para outra e, a partir dali, então, sair temporariamente de um mundo para entrar noutro, em um movimento intermitente e eterno enquanto durar a sua vida dura.
Criado em:
14/11/2021 Autor: Flavyann Di Flaff
Comentários
Postar um comentário