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Mostrando postagens de agosto, 2014

DO VAZIO DEIXADO

Enche a cacimba os olhos-d’água para dar de beber àquela que não deixa esquecer, cotidianamente, a quem não está presente. Refeita, alimenta a fogueira de sentimentos com pequenas lascas de lembranças,  das quais estavam órfãos os que permaneceram. Com o passar do tempo, aumenta a distância, estreitam-se os laços, efeito que não se explica, apenas, sente-se. Águia faminta que, incessantemente, vem dilacerar a natureza humana do ser penitente, na qual impera a lei da sobrevivência, razão pela qual se renova sempre. Para, em ato contínuo, ser dilacerada por seu algoz de novo, enquanto durar a eternidade dos atos e fatos presentes. Simultaneamente, segue a carpideira em constante e exaustivo ofício, tendo como pagamento uma pesada e ingrata carga emocional. Quanto de dor ainda suportará o peito contrito? Por quanto tempo ainda permanecerá o vazio deixado? O tempo nada responde, apenas segue adiante como um corredor obstinado em uma maratona sem fim! Restando, para todos, o dever de te

ONIPRESENÇA

Ainda ontem, a casa estava repleta de sorrisos, cabelos, perfumes e afins. Hoje, só o resquício de tudo isso a alimentar lembranças frescas de conversas e de momentos prazerosamente agradáveis. Em razão disso, está difícil ficar indiferente à ausência deixada de forma tão brusca. A saudade, tal como moleca, veio zombeteira, tornando os últimos dias insuportáveis. Ah, criança danada, até nisso faz lembrar-me de quem partiu! Uma presença que durante anos se fez constante, independente das situações vividas, fazendo-se marcante nesses últimos meses. Não soaria estranho, vê-la em cada lugar de comum convivência. Passar por tais lugares, traz à tona a imagem de quem partiu – um holograma perfeito –, como se ela estivesse ali no recinto. Por ter feito parte do cotidiano, hoje, cada caminho refeito, proporciona uma situação inusitada. Seja na feirinha, na esquina da farmácia, no restaurante popular ou na lanchonete, enfim, nos lugares que já foram da convivência de ambos, há uma onipresen

À ESPERA DO REGRESSO

Quando soube da iminente partida, atônito ficou, pois não sabia o que ofertar para não ser esquecido. Olhou ao redor e nada viu de marcante, revisitou memórias guardadas de um tempo não muito remoto, mas nada de consistente para representar o que sentia. Foi quando, em um ímpeto, olhou para o próprio peito e em um gesto simbólico ofertou o coração. Antes, fez um breve discurso em tom solene no qual assim falou: ─ Levas este, que, inconsequente, insiste em alimentar o sentimento mais complicado de lidar e o mais prazeroso em se sentir e desfrutar. Dito isso, entregou-o a ela, que se prontificou em cuidá-lo e trazê-lo de volta, assim que reconstruísse o que fora abalado, e logo partiu, seguindo rumo certo. Por uns tempos o relógio parou, prendendo-o àquele momento. A vida parecia não querer fluir, mas tinha que seguir, afinal, lembranças que ficam e vida que segue. Ela prosseguiu, porém ele não era mais o mesmo, parecia sem ânimo, automático em tudo. Seu semblante ficara pálido, seu c

DAS ÁGUAS DOS OLHOS D'ÁGUA

No Vale dos Rostos Contritos corre, de forma intermitente, um rio de águas claras e puras muito raro. Não possui nenhum tipo de vida nele, mas carrega em si uma grande simbologia. São dois os olhos-d’água que contribuem para a existência desse rio que corre por entre dois platôs, estes separados por uma área de ventilação. Conta a lenda que o rio surge toda vez que fatores externos e alheios adentram as entranhas do pó e alimentam os olhos-d’água, estes, por consequência, jorram litros no vale, de fora a fora, sem nunca produzir vida na várzea, porque o seu líquido tem a mesma composição daquele que preenche o Mar Morto. Criado em:  21/08/2014  Autor:  Flavyann Di Flaff

O RUIR DO TEMPLO DE EROS

Um abalo sísmico tremeu a cidadela, fazendo ruir o templo que estava sendo construído nela. Não se sabe a procedência daquele, a sua força foi sentida desde as entranhas. Lamentável foi ver o santuário ruir, mal começara a ser erguido e já sucumbira, sem explicações plausíveis. Anos de tentativas frustradas e umas poucas bem-sucedidas, todas elas necessárias para projetar e começar a erguer o templo, que dizem ser ofertado a Eros. Se não tinham certeza disso, agora, destruído, ficará só na especulação. Segue o Tempo seu curso natural, sem se importar com o que acontece durante o seu passar. Nascem e morrem pessoas, relações surgem e se desfazem, mudam as estações e as fases da lua, mas nada, nada o abala. Impassível, ele permaneceu durante aquele fatídico dia, no qual as bases da mais sólida fortaleza foram abaladas e fizeram ruir o ádito de Eros. Criado em:  20/08/2014  Autor:  Flavyann Di Flaff

DESPEDIDA

À espera de tua revoada, lembrei-me de quantos verões desfrutamos distantes um do outro. Distância mais no âmbito humano do que em quilômetros, como bem conhecemos. Algo medido por meio de receios, deduções e especulações de ambos os lados. Apesar disso, o tempo nos foi generoso, proporcionando um protótipo de intimidade que, mais tarde, aperfeiçoaríamos em um convívio diário. Permitimos que um entrasse na privacidade do outro, conhecendo alguns pormenores, favorecendo, com isso, o surgimento de desejos incertos. Experiência que fortaleceu a relação, deixando lembranças marcantes, como as das muitas batalhas superadas; das lágrimas vertidas, devido às perdas sofridas; não esquecendo do fortalecimento dos sentimentos sinceros que floresceram no decorrer da convivência. Todavia, o tempo, como já o conhecemos, não é juiz e nem carrasco, ele simplesmente flui adiante. Logo, cabe a cada um de nós usufrui-lo da maneira que melhor achar. Assim, decidiste retornar às tuas raízes e tentar ref

PALAVRAS CARAS

Bom é o tempo em que as imperfeições e as qualidades convivem em plena harmonia! Choram os silêncios interiores, em razão da injustiça que impera no ambiente sempre acolhedor. Então, a espada afiada da palavra desmedida desfere o golpe certeiro, degolando, sem piedade, as expectativas alheias. No reino do imprevisível, prevalece a estação da incerteza, o que antes parecia líquido e certo, hoje é instável. O Samurai, guerreiro de honra inquestionável e servil, sucumbe ao mais leve assédio das necessidades humanas, mostrando, assim, que é frágil e falho. Com isso, afronta o código secular que rege o caminho escolhido e, até aqui, seguido. Ao mudar de lado, já não representa os nobres anseios e preceitos. Agora, frio e calculista, segue caminho tortuoso, no qual, ferindo os outros, fere a si mesmo. Esse detalhe não lhe é perceptível no presente, todavia ser-lhe-á demasiadamente caro em um futuro bem próximo. Criado em:  16/08/2014  Autor:  Flavyann Di Flaff

RENASCENDO DAS CINZAS

Quando a última folha da mudança sofrida cair e a estação da melancolia se for, só restará a saudade de tudo o que ficou por acontecer, por falar, por dar reciprocidade, por desfrutar, por viver enfim. Mas, tão logo surjam as primeiras flores primaveris, o ânimo estará renovado, trazendo novas oportunidades, infinitas possibilidades e inúmeras outras sensações. Mudam-se as fases, as estações, permanecem sempre as lembranças daquilo que foi vivido ou deixado por viver naquelas. Quando os acontecimentos externos predominam sobre o que é produzido, provocado internamente, perdemos o jeito leve de viver e ver as coisas, as relações. Perdemo-nos em culpas, medos e questionamentos sem sentidos, com isso interrompemos um ciclo, que deveria ser natural. Afinal, cair, machucar-se e levantar-se fazem parte do aprendizado, porém, ultimamente, estamos a nos privar da vivência daquilo que é natural. Cansei! Chega! Não há mais espaço para murmuração! Então, que se vá, que mude, que se renove e ressu