Quando soube da iminente partida, atônito
ficou, pois não sabia o que ofertar para não ser esquecido. Olhou ao redor e
nada viu de marcante, revisitou memórias guardadas de um tempo não muito
remoto, mas nada de consistente para representar o que sentia. Foi quando, em um
ímpeto, olhou para o próprio peito e em um gesto simbólico ofertou o coração.
Antes, fez um breve discurso em tom solene no qual assim falou: ─ Levas este,
que, inconsequente, insiste em alimentar o sentimento mais complicado de lidar e
o mais prazeroso em se sentir e desfrutar. Dito isso, entregou-o a ela, que se
prontificou em cuidá-lo e trazê-lo de volta, assim que reconstruísse o que fora
abalado, e logo partiu, seguindo rumo certo.
Por uns tempos o relógio parou,
prendendo-o àquele momento. A vida parecia não querer fluir, mas tinha que seguir,
afinal, lembranças que ficam e vida que segue. Ela prosseguiu, porém ele não
era mais o mesmo, parecia sem ânimo, automático em tudo. Seu semblante ficara
pálido, seu corpo frio e seus olhos perdidos. De imediato não se dera conta dessa
transformação, apenas notara o espanto nas faces alheias, mas ao chegar à sua
casa, deparou-se com seu rosto refletido no espelho, naquele momento, teve a
devida noção do que lhe acontecia há dias e ainda não se dera conta: transformara-se
em um ser sem vida, apático a tudo e a todos. Então, em uma noite, refletindo
sobre o que causara essa estranha mudança, lembrou-se do gesto que fizera
anteriormente: doara o seu coração a alguém que partiu, deixando um vazio em
seu peito. Entendera então o que estava a ocorrer, todavia não se arrependeu,
apenas fortaleceu a esperança, que já começara a brotar em seu íntimo e que
todos já percebiam: a de um dia ela regressar e devolver seu coração, só que repleto
de um sentimento recíproco, dando ânimo a um viver compartilhado.
Criado em:
26/08/2014 Autor: Flavyann Di Flaff
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