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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

EM UM TEMPO PASSADO

Hoje transportei-me até aquela rua onde, um dia, te vi desfilar. Estavas tão bela, que o sol se escondia por detrás das nuvens só para não competir contigo. Embasbacado fiquei, a ponto de emudecer e só os olhos falarem, mas estavas enamorada de tal maneira com a vida, que não viste a declaração que meu olhar te fazia. Flutuaste diante de todos, e eu, impotente, só fiquei a observar a tua bela figura sumindo na esquina do tempo, para todo o sempre, sempre que essa saudade doída insistir em ti revisitar nesse espaço de tempo pretérito.   Criado em: 24/02/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

CORAÇÃO SUPLICANTE

A solidão já o consumia há tempos! Era o seu uniforme diário para cumprir o labor insalubre que é a sua vida, algo que cumpria com extremo automatismo, tanto que a sua respiração mais parecia com a de um sistema pneumático mostrando o cansaço pela tarefa repetitiva. Nesse ir e vir de casa para o trabalho, do mal se alimentar, do banho tomado à força e do se jogar na cama, o coração murmurava inaudível, visto que o cérebro cansado mal sentia os membros. O dia amanhecia e recomeçava o seu penoso ciclo existencial, e nesse dia, não acordou como sempre fazia, uma sensação diferente o incomodava. Tomou o seu pingado rapidamente e disparou rumo ao seu ofício. Em todo o trajeto, algo a lhe incomodar. Chegou, bateu cartão, suou, bateu cartão e retomou o velho caminho – vereda das dores – rumo à sua casa, algo bem longe de um lar. Um pressentimento remoendo no seu interior, a aflição por não saber do que se tratava potencializando o desconforto. Finalmente, chegou em casa, mal se alimentou, t

PARALISIA

Vivíamos o hoje como uma necessidade premente. Quando assim se vive, não reparamos se o pão é dormido, se está com ou sem bolor, se está inteiro ou faltando um pedaço; apenas o digerimos pela urgência da sobrevivência. É o aqui e agora virando, para nós, única e exclusivamente, o tempo da satisfação dos impulsos naturais, que tanto falseiam as nossas reais necessidades. O resto vai ficando para um depois que a todo momento nos cobra uma consumação, mas que, devido à procrastinação habitual, nunca é efetivado por nós. Permanecendo em um eterno entorpecimento, fruto das ressacas de constantes fugas, reflexo da nossa impotência diante de uma dura realidade.   Criado em: 13/02/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

AUTONOMIA

Não se reprima! Caia de boca na fruta que gosta. Vista toda roupa que lhe cair bem. Fale o que lhe vier à cabeça. Use e abuse do corpo seu. Extrapole os seus limites. Atire-se nos abismos que desejar. Só não se deprima, quando daquela fruta enjoar e da outra querer provar. Quando uma roupa qualquer não mais combinar. Quando ao falar o que quis, ouvir o que não queria. Quando, após o deleite de sua carne por consentimento próprio, descobrir que foi usado como um mero objeto. Quando, pelos seus excessos, destruir a própria saúde. Quando, por fim, encontrando-se em um dos abismos, nos quais se atirou, pedir por socorro e ninguém escutar, ignorando o seu chamado.   Criado em: 12/02/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

AUTORIZAÇÃO

Sob um carimbo semântico, a relação coercitiva com o outro foi legitimada. O assédio regulamentado. A soberba e seu séquito tomaram o posto de algo natural. Os muitos e distintos vícios humanos foram “libertos” do exercício na alcova e alçados à luz dos olhos seculares como grandes realizações de conquistas sociais. A liberdade irresponsável, livre do ônus de suas consequências, ganhou absoluto status de autonomia coletiva. Os movimentos de cunho partidário ganharam o direito à capa de cunho social. Enfim, tudo aqui citado e outras tantas ações já há muito praticadas, foram cristalizadas, internalizadas e naturalizadas pelas novas gerações, a partir da criação semântica do termo da moda, como algo crucial para a evolução da nossa humanidade. Produzindo, dessa forma, uma sociedade mais fraterna, livre e igualitária. Resta-nos, agora, arcar com as consequências produzidas por uma distorção de significado que concedeu à massa a noção de um poder ilimitado e inquestionável. Criado em: 1

ENQUADRAÇÃO SOCIAL

Vivemos tempos sombrios! A semeadura dos campos semânticos, há algum tempo, já germinou e começou a dar frutos. Os que daqueles colhem, carentes de humanidade, delegam sentidos torpes que geram gosto ruim em quem prova dos seus frutos pela primeira vez, tornando-os desagradáveis. Certos termos deveriam ser uma tentativa de reconhecimento do valor do outro, e não uma ferramenta cuja utilização seja como arma desenfreada de destruição identitária. Encaixando o outro em uma narrativa forjada, única e exclusivamente, para torná-lo impotente e submisso diante de seu opressor, que se apresenta como o grande paladino de uma nova ordem social, senhor de toda ética e moral, com direito ao poder absoluto de acusar, julgar e condenar, se assim lhe convier. Quando, na verdade, este é mais um agente, um fantoche do sistema que devora a ambos.   Hoje, o que vemos, sob uma pretensa e nobre bandeira ativista de desconstrução social, é uma atribuição pejorativa de valor, sempre de acordo com a conv

DESESTRUTURAÇÃO IN NATURA

Os agentes de divisão incutiram na subdivisão que cada um fortalecesse o seu lado, pois só assim a ideologia seria introduzida na geral de cada grupo. Assim se fez e, hoje, é cada grupo por si – reinos encantados de uma pretensa nova humanidade. No discurso inflamado de “um por todos, todos por um”, apelo doutrinário, a segregação do proletário dentro do grupo dos proletariados foi sentida. A consequência disto foi o revide da natureza humana ofendida, quem fingia ser todos, tirou a carapuça e se fez um. Em cada repartição, esfera de poder, a ambição – vaidade de todos –, aflorou com força e se empoderou. Riu da cara dos seus, desqualificou o inqualificável e rompeu o elo. A individualidade não gostou de ser oprimida pela coletividade de ideais teóricos e quiméricos, já que, na prática, o que vigorava era a centralização do comando. Por isso, o vírus do ego ferido se espalhou de forma avassaladora em cada novo segmento comercial dessa sociedade anômala, desmascarando e desconstruindo o

CICLO RESTAURADO

Nunca me deste a atenção invocada, apesar das muitas vezes em que tentei atraí-la das formas mais loucas possíveis. Em pensamento, ouvia teus passos em um aproximar lento, porém nunca chegaste de fato. Consumia-me a ânsia de estar em teus braços, embalado pelo teu gritante silêncio e olhar incisivo, sem nunca me levar até a ti. Inúmeras vezes, chorei suplicando a tua vinda para me levar a ascender deste mundo e jamais me atendeste, deixando-me numa angustiante vontade. Ignoraste-me sempre, como quem conta com outras coisas mais importantes a fazer. Em meu ingênuo desespero, supunha que a qualquer chamado virias lépida atender. Ah, mas que tolice a minha! Tu eras senhora caprichosa, requisitada por muitos e seletiva com todos. Tinhas as tuas próprias vontades, empoderada, fazias a tua escolha em um vasto cardápio sempre à mão, sem pressa e à revelia dos interesses alheios. Foi assim que, num belo dia, cruzaste o meu caminho e nossos olhares convergiram. Um frio repentino percorreu tod