Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de julho, 2020

PERSONALIZAÇÃO

À sua maneira, inventou o amor! Antropomorfizou o escolhido e o levou para casa. Deu-lhe água, comida e cama quente. Todo dia tinha recompensa: uma companhia, um ouvinte atento, lambidas capciosas e nada de discórdia, tudo perfeito em seu mundo incriado. Tendo um dia ruim, fazia daquele amor uma terapia, livrando-se de toda carga negativa. Depois, vinha o seu queridinho, pelo afeto submisso, dar-lhe ternura. Era um aconchego, uma esfregação, sem ressentimentos, pura devoção. O tempo passou, seus desejos satisfeitos, criou abuso do, agora, seu desafeto. Colocando-o em uma caixa, deu-lhe um destino indeterminado, largou-o na rua da amargura, seu nome era Amor customizado.   Criado em : 31/07/2020 Autor : Flavyann Di Flaff

DESPERSONALIZAÇÃO

Dizem que, por sofrer demais, decidiu customizar o amor: As suas asas aparou; os loiros cachos, de negro, pintou; do arco e da flecha se desfez. No riso largo,  ah, que insensatez! colocou um ar amargo. Despiu-se do divino cargo para ser profana beldade, e do parco tecido que o cobria, fez, que heresia! bandeira de liberdade.   Criado em: 31/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

PONTO FINAL

Foi ali, num beco, na esquina do tempo, que flagrei aquele fatídico acontecimento. Inverno londrino, ar fumacento, olhar desatento à mercê do destino. Em um desvão nos escombros residenciais, uma cena fantasmagórica: um corpo se apossando de outro corpo, sugando suposta essência, pureza agora questionável. Tudo fluía sem pressa, num slow motion sórdido, à espera de um voyeur imprevisto. Já quase ali, como se tudo fosse combinado, lembrei-me que não ouvi o horóscopo de Delfos, e o ceticismo venceu a tradição. Apressei-me a tempo de vê-los, filme de quinta em plena segunda avenida, que, apesar da má qualidade, conseguiu chamar a minha atenção, tal era a veracidade da cena. Dos atores envolvidos, por infelicidade, conhecia um. Tentei fugir dos olhares dissimulados, escondendo o meu desespero, porém de nada adiantou. Saíram do covil, e como fera sob a camuflagem da mentira, disse-me que tudo era um teatro, que o beijo fora artístico, pantomima ficcional. Para mim foi mais que real, foi o

SEMEADURA

O dia da colheita chegou! Não era esperado, tão pouco festejado, porém chegou! Não veio de repente, foi um processo lento e contínuo. Primeiro foi plantada a semente, depois foi regada displicentemente. O broto surgido, fora percebido, mas tão logo vingou, foi esquecido. Crescendo ali descuidado, teve um desenvolver minguado. Os cuidadores com suas vidas preocupados, da infante criatura relegaram. Contudo, a força da vida é tanta, que apesar dos contras, aquela resistiu. Hoje começa a dar o produto que aqueles semearam. Pele limpa, imagem de candura, sabor agridoce, gosto de amargura. Decerto, isso é o resultado do trabalho, que eles não quiseram ter. Agora é comer do fruto amargo, que, dissimuladamente, fizeram nascer.   Criado em: 29/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

REDENTORA

Eu sofro sem você aqui! Meus olhos sangram diuturnamente, sem o refrigério de sua bela e singular figura. O que faço agora com tudo o que me presenteou? Guardo como relicário do que fomos ou me desfaço, doando a algum romântico dos últimos dias para que se inspire e escreva uma ode ao amor. Ajude-me onde estiver, pois perdi o caminho e o senso. Com a sua luz me guie rumo a um mundo melhor do que esse que criei, depois que lhe fiz partir. Sonho com isso! Você chegando, já a tudo iluminando com o seu sorriso encantador. Mostrando-me o aprendizado por trás de cada acontecimento, até daqueles tachados de ruins, visto que nada ocorre sem propósitos. Apesar da falta que você me faz e de sempre me perguntar se essa vida ainda vale a pena, prometo ser um bom aprendiz. Então, com o seu apoio e a sua fé, retomado o caminho e traçado um novo rumo, agradecerei a você, certo de que me perdoou. Libertando-me da culpa que eu carregava e que já não me fere, nem me prende mais.   Criado em: 28/07/20

FEEDBACK

Por que os meus sentimentos óbvios são tão difíceis de serem percebidos?   Todos eles transformados em poesia, revelam-se, sem máscaras, nas metáforas do dia a dia. Você, que pela experiência dos anos não quer enxergar as verdades escancaradas, apegando-se às certezas frágeis dos seus desenganos, tira, de mim, conclusões equivocadas. Digo-lhe que não são palavras difíceis a dizer o óbvio, entretanto é a incapacidade de alguns em enxergar o que é notório. Portanto, o meu sentimento, em estado de poesia, vem embrulhado em parábolas, para que só os bons de coração, através dos olhos da alma, consigam enxergá-los e compreendê-los.   Criado em: 28/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

DECIFRANDO

Frases e ações soltas, jogadas de forma intermitente, durante um tempo previsto, são como fios soltos de uma trama desconhecida e incompreensível. Mas quando somadas umas às outras, respondem dúvidas cruciais acerca de assuntos capazes de mudar vidas, seja para o melhor ou o pior.   Criado em: 27/07/2014 Autor: Flavyann Di Flaff

ÊXODO INESPERADO

Hesito, quando vejo passar a Samael pelas ruas do mundo. Ao seu passar, seguiam-se urros de dor e desespero daqueles que sem desejar o receberam em suas casas. Poucos eram poupados, não se sabe o porquê, já que entre eles, muitos não mereciam tamanha misericórdia. Parecia não ter critérios, mas, com certeza, seguia os desígnios de algum senhor, visto que não sentia prazer ao realizá-los, agindo como uma besta-fera a cumprir cegamente uma missão. Diante do modus operandi, certamente, veio levar a vida de todos os primogênitos. Os mais velhos não deixam de ser os primeiros, afinal, eles precederam os seus.  Deixando um rastro de perdas irreparáveis, Samael segue levando a morte por onde lhe foi ordenado, provocando o êxodo de pessoas queridas para além dos limites terrenos. Criado em: 26/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

DOS SANTOS DE NOSSOS DIAS

Eximo do meu ceticismo, os canalhas! Porque, tendo consciência deles, sei bem do que são capazes. Contudo, coloco no topo da lista do meu ceticismo, todos os “santos”! Assim faço, por sempre se apresentarem como cordeiros, omitindo, dissimulando, escondendo todo o mal que planejam contra os outros.   Criado em: 26/07/2013 Autor: Flavyann Di Flaff

OBīRE MORTEM

Eu que os tinha acima da conta! Exemplos vivos de uma vida reta, repleta de compreensão, silêncios, conselhos que me mantinham longe dos vícios. Afetos escondidos por entre a seriedade dos corretivos precisos que me levariam à humanidade distintiva entre os nativos. Hoje, deles, restam comigo, apenas dois papeis timbrados, que os tenho lido, toda vez que os tenho lembrado. Saudoso, triste e incapaz fico, porque sei que quando nascemos e morremos, tornamo-nos vegetais, voltando à terra dos nossos ancestrais.   Criado em: 25/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

CUPIDO TRAVESSO

Estava há muito enclausurado no recinto da solidão, até que, inesperadamente, tocaram a campainha do coração. Uma ansiedade me invadiu, perguntando quem seria, mas como saber se faz tempo que a ninguém via. Essa interrogação se fez curiosidade ofegante, e enquanto hesitava se atendia ou não, o chamado se fez insistente ao som do turu turu do coração. Então, afobado, corri em direção ao portão, na expectativa de encontrar, ali, à minha espera, o tão esperado amor. Contudo, tão logo o abri, dei de cara com a calçada vazia, e ao olhar rua abaixo, uma criancinha de loiros cachos, asas de alvas penas e um pequeno arco e flecha sumia célere sem olhar para trás. Entristecido fiquei, pois, naquele infante, vi o amor fazendo troça de minha solitária condição. Criado em: 25/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

DESCONSTRUÇÃO

Houve um tempo em que o amor necessitava de eras para nascer, crescer e se fortificar. Mas, depois de gerações, os sentimentos foram transformados em sensações – mutações de sentido e valores. O fogo, que do antigo amor emanava, era algo construído. Buscava-se a lenha por entre as florestas de sentimentos, escolhendo sempre a que proporcionasse sincera e forte combustão. Depois, em nossa morada – o coração – montávamos a fogueira, que arderia por longevos tempos, lenha por lenha, e a acendíamos no entusiasmo dessa construção a dois. A chama era intensa e constante, não oscilava de acordo com os ares de fugas patológicas. Seguia queimando até se transformar em brasa, para, mais tarde, reacender vibrante. Assim era o amor. Hoje, o amor é de conveniências, devido a casos e coisas mal resolvidas, carências aproveitadoras e oportunistas, que a nada e a lugar nenhum nos levam. O fogo que desse amor emana é fogo-fátuo, que só aparece nas noites de profunda solidão, na qual jazem indistintos i

SEDUCTION GAME

Não resisti àquela paixão que, como febre terçã, me aturdia intermitentemente. Decidido, desço para o play. Entro no jogo, sem o devido conhecimento prévio, apenas com o desejo a me guiar. A atração é imediata. O encontro é marcado por pontos em comum. Nesta fase, a conversa se torna mais próxima e picante. Com todo o seu charme e mistério, sem deixar chance, vai provocando-me. Os toques são leves, sutis, é uma risada gostosa e despretensiosa, o encostar suave das mãos; o baixar do tom de voz e chegar bem perto do ouvido, encostando no ombro, fazendo uma referência implícita às nossas intenções, o que, com a conexão já existente, deixam-nos loucos! Vamos alternando momentos de brincadeira com momentos picantes, em um jogo divertido e sedutor. Nesse encontro casual entre os nossos lascivos desejos, pensei em estar dominando, mas ela, que sabe atrair o que deseja e também qual a melhor hora para ir embora encerrou o encontro. Então, a brincadeira que estava ótima, divertida, encantadora,

TESSITURA AMOROSA

Foi em um carnaval literário que a conheci, uma figura cheia de intertextualidades cujo olhar de ressaca confundiu a minha percepção. Será que me notou entre os presentes? Quando nossos olhos se encontraram, será que leu os meus? Apesar de intrigado, decidi continuar a observá-la atentamente. Tinha os cabelos negros e um sorriso doce, tais quais os de uma virgem das terras cearenses. Como Paulo, um velho conhecido de outros carnavais, fiquei a imaginar tão linda criatura em traços angelicais, certo de que naquele rosto infante estava uma alma pura. Aproximei-me, pacientemente, até sentir o seu perfume invadir o meu ser. Diante da formosa dama, lancei-lhe de novo o olhar, dessa vez, com explícito pedido para conhecê-la. Fitou-me resoluta, dando-me a oportunidade almejada. Demos uma pausa no baile dos mascarados e nos encontramos na sacada do velho palacete, palco de tantos cerimoniais. À luz de uma cúmplice lunar, conversamos sobre coisas triviais enquanto as de importância se organiz

REFLEXÃO

O espelho, que pela sua polidez servil, da madrasta, como sabemos, acostumou-se a só lhe ver o ego. Ao vê-la descomposta, pois submisso, em um jogo de sedução, o seu ego fora a primeira peça a ser jogada pelo desejo ao chão. Ali, totalmente nua, despida de seus adereços − enfeites supérfluos – agora, pode ser, de fato, somente sua.   Criado em: 20/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

SÓ POR HOJE

A Melancolia vem com sua desesperança, esconde-se dentro do cavalo de carne e músculo, onde estão todos os meus mais valiosos sentimentos, esperando para me levar à morte e à destruição. Mas hoje, não! Agora, não! Quero desfrutar um pouco mais desse instante mágico, de tudo o que ele puder me proporcionar. Ela vem, sorrateira, sem aviso prévio, sem motivo algum! Porém, agora, não! Hoje, não! Quero que essa mágica sensação tenha tempo de percorrer todo o meu ser. Aquela vem, sua presença passiva e resignada não promove arrebatamento, mas abatimento. Só que hoje, não! Agora, não! Quero poder me encantar com essa bela paisagem externa nesse instante, antes que a noite profunda invada meu ser. A Melancolia chegou, tomando-me de assalto! Saindo de dentro do meu coração para se espalhar por todo o meu ser. Não tive como resistir. Então, vem, fica agora comigo! Da sua passividade sou servo, não resistirei, contudo, será só por hoje e nunca mais! Criado em: 19/07/2020 Autor: Flavyann Di Fl

GAIOLA DE OURO

Primeiro o desejo, depois a mente maquinando como satisfazê-lo. Tudo elaborado, começa o exercício artesanal, ligar as ações em uma trama fatal. Antes de qualquer movimento, faz-se necessário urdir o chamado persuasivo, depois preparar o ambiente para que fique propício. Tecer as palavras em um instrumento vocal hábil na arte da maleabilidade, em seguida, convertê-las em gestos sutis, através dos membros superiores e inferiores. Pronta a rede, faz-se revelar, sob o efeito da sugestão, o manjar da noite, convite para a degustação por todos os sentidos. Concluída a cilada, sou um canário preso na gaiola dourada  de sua sedução! Criado em: 18/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

CAVALO DE TROUXAS

Houvera um tempo em que os homens usavam a astúcia com força, hoje, despende-se uma força descomunal sem nenhum propósito conseguir. Após séculos de lutas, sem que se chegasse a uma vitória de fato, apesar dos esforços e das perdas dos principais guerreiros das partes envolvidas, uma delas planeja utilizar a sua derradeira estratégia para vencer o arrastado combate. Depois de tudo estruturado, seguiram rumo ao campo inimigo. Lá chegando, guerrearam como de costume, até que, em dado momento da peleja, recuaram, dando a entender que se renderam. Partiram em simulada retirada, mas antes, conhecedores do ego do inimigo, que gostava da idolatria alheia, deixaram uma oferenda àquele que os subjugara. O rival logo se regalou com o espólio, levando-o para dentro da sua inexpugnável estrutura de manipulação do contexto sociocultural e histórico, celebrando mais uma vitória até altas horas da noite. Só então, vencidos pelo cansaço da celebração extremada, foram dormir o sono dos justos. Durante

EGOÍSMO INTERPESSOAL

A Humanidade, em coro uníssono, pergunta-se porque o amor sumiu. Como se a interrogação fosse uma indireta a outrem. Quando, na verdade, essa carapuça tem o melhor caimento em sua própria cabeça. O amor não sumiu, ele continua presente, só que inativo. O que desapareceu foi a capacidade de amar, esta, sim, dá sinais explícitos de agonizante extinção. O que acaba por se refletir na linguagem oral e escrita de cada um dos indivíduos deste planeta.  Quando falamos ou escrevemos que queremos ser amados, subliminarmente, expomos e assumimos a nossa incapacidade de amar, porém as lentes da hipocrisia nos cegam, permitindo, apenas, que tateemos o nosso próprio umbigo. Perdemos a capacidade de amar, quando passamos a acreditar na onipresença, onisciência e onipotência do deus tecnológico cujas caraterísticas citadas o tornam superior a toda criatura. Ledo engano, pois se ele tudo sabe, se  está em todo lugar e a tudo vê, é porque assim permitimos quando compramos e usamos os dispositivos m

SINGRANDO MARES

Cansado da monotonia das mentes televisivas alienadas, mergulho nas orgias litúrgicas de relatos poéticos até os seus níveis mais abissais, com o intuito de revigorar as energias inerentes ao ser biológico que sou. Nessas ondas mentais, deixo ir e vir o meu desejo, à medida que associo as imagens ao que leio, em uma viagem infinda a mares nunca dantes navegados. A nau dos desejos me leva a portos desconhecidos com inspiradoras denominações, dos quais me recordo do Beco Poético e Além das Aparências , entre tantos outros pelos quais passei. Terras de encantadoras Janaínas – Senhoras do mar – que, para os incautos corações navegantes, representam a tormenta da paixão, podendo levá-los a sucumbir em viagens que fariam gemer até o mais experiente marujo. Contudo, eu, timoneiro experimentado, desses mares, absorvo tudo o que me agrada, sem que me iluda com os encantos seus. De cada paisagem, levo só as sensações sentidas, sem me envolver com os seres míticos que a constituem, porque, alé

FUGA ILUSÓRIA

A garrafa destoava do ambiente como pinguim de geladeira em cima da televisão. Incomodado, pegou-a e saiu rumo à praia. Lá chegando, decidiu beber todo o seu conteúdo a fim de se embriagar e esquecer o que lhe causava estranha e angustiante sensação. Em pouco tempo, já estava em estado de catarse etílica, dando-lhe coragem e o fazendo sair daquele estado de impotência. Empolgado, jogou a garrafa que comprara por impulso nas águas do mar, para, em seguida, retornar ao seu bunker doméstico. O tempo passou e daquele momento de esbórnia nada lembrava. De repente, uma sensação ruim o assolou, decidiu, então, ir desopilar naquela praia de costume. Quando caminhava pelas conhecidas areias, sentiu algo lhe incomodando, era o seu pé que sangrava, devido a uma garrafa partida, que se escondera sob o solo arenoso. Maldisse esse momento, porém, quando olhou bem para o rótulo, uma lembrança o assolou, ali estava a mesma garrafa que jogara ao mar. Moral da história: Não podemos fugir dos nossos

SEGREDADAS

Em cada canto do lar existe um segredo a se contar! É o dito fogo amigo, que a isso vem justificar. Nesse abrigo de demandas, onde cada um defende a sua, marcando, como cães, o território conquistado, a paz é simulada de acordo com os interesses. Faz-se sala para a bajulação enquanto, na cozinha, prepara-se o prato para a chegada da discórdia. Nos quartos, dormem senhor e escravo da mentira enquanto, no banheiro, segregam verdades vencidas que, a pouco, desfilavam convictas diante de ouvidos alheios. No terraço, sentam-se frivolidades existenciais de alguns dos residentes enquanto, no quintal, secam atitudes baratas que, por despenderem muito suor para existirem, são colocadas no varal para, depois, serem reutilizadas. Nesse ambiente insalubre, de alheio só um olhar que a tudo observa, assimilando o infindável aprendizado sociológico. Uma vez que nessa casa de mil segredos, só inverdades há. Criado em: 16/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

PECADOR EM REMISSÃO

Como – te imaginando entrementes – sádicas que, na dor sentimental alheia, sentem o néctar inesgotável do prazer, também o sinto. Alma ingênua em perigo que, sob os auspícios dos desejos indecentes de muitos outros, clama por salvação, enquanto ardes e te consomes no fogo natural dos desejos humanos.   Criado em: 15/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

DA ESCOLA E DA VIDA

Quando não estava na escola, estava noutra parte da vida aprendendo coisas sobre o mundo ao meu redor. A escola e a vida jamais serão antagônicas, enquanto aquela nos ensina sobre a estrutura e o funcionamento das coisas, esta nos ensina, de forma prática e em minúcias, como utilizar as coisas do mundo, proporcionando-nos a sabedoria diante das situações favoráveis e desfavoráveis à nossa existência. Contudo, boa parte da população prefere a praticidade da vida em detrimento do conhecimento que se adquire na escola, o que gera um esvaziamento e, por consequência, o aumento do abismo social existente. Criado em: 12/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

APRENDENDO MAIS UMA LIÇÃO

Hoje, acordei com jeito de criança peralta que fez uma traquinagem e aguarda angustiada pelo castigo iminente. Sofria não só pelo castigo que viria, mas, também, pelo arrependimento do malfeito, afinal, a sua dedicada e amorosa mãe não merecia tamanha desfeita. Ela o perdoou, como é inerente a esse ser, sempre que um filho desobedece, porém, não sem antes receber um sermão e um corretivo. O dia foi passando com certo ar sombrio, apesar de ser um dia belo e agradável de sol. Percebi que este ar de contos de Edgar Alan Poe estava em mim e não no dia, que transcorria naturalmente. Era o meu ser que penava de arrependimento por tão inconsequente ato. No primeiro momento, pedi desculpas, pois era só o que podia ser dito, posto que não cabiam explicações injustificáveis. Os olhares mal se encontraram, quando as desculpas foram aceitas. Nesse instante, a sensibilidade que emanava de suas tantas palavras escritas e que lhe faltara no dia anterior, parece que surgiu de repente, como se fora

REVOLTA CONVENCIONADA

Tenho visto tanta gente paramentada como guerreiro, lutando contra os moinhos de ventos, que muitos denominam Sistema. Mal se dão conta de que a sua revolta é o que aquele usa para fazê-los instrumentos da Grande Máquina aniquiladora de inocentes insurgentes. Não se põe fim à maldade e à sua legião, sem que se extermine a raça humana! Logo, percebe-se no logro que se cai, quando algum representante promete acabar com a violência, a fome, a miséria e afins, posto que isso não passa de sofisma vexatório com o intuito de obter benefícios para si mesmo. A partir dessa postura, percebemos a sutileza do Sistema, que, na sua suprema misericórdia, permite, a poucos, conhecer o seu funcionamento e, assim, seguir o seu fluxo e colher os frutos que ele dá, entendendo os porquês dos que lutam, lutam e quase nada conseguem. Os insurgentes, na verdade, são mecanismos, que, juntos com outros, formam a cadeia cinemática, gerando movimentos distintos, portanto, também estão inseridos e sob as convenç

VISITADO PELA NOSTALGIA

Hoje, a Nostalgia veio me visitar! Trouxe consigo álbuns de uma memória fotográfica impecável, que, juntos, fomos folheando um a um. Nesse momento, um turbilhão de emoções, sentimentos, foi invadindo-me e transformando cada instante congelado nas fotografias, em um holograma. Enquanto folheava, a Nostalgia fazia relatos de cada momento, como em uma narração simultânea, fruto de uma intensa observação in loco. À medida que narrava, eu vivenciava intensamente a tudo. Sabia que, cedo ou tarde, a sua presença surgiria, e era essa incerteza do quando seria, que me angustiava. Dentro de mim uma voz clamava por vê-la, a Nostalgia estava como testemunha disso. Então, você surgiu deslumbrante, com seus adereços infalíveis na conquista, o sorriso contagiante e encantador, uma simpatia irresistível e um jogo viciante. Como esquecer de tudo isso, se ficaram entranhados em cada fibra do meu ser. Por onde passo os meus olhos, a sua agradável figura aparece, como a marcar a sua passagem em minha comp

PORTUGUÊS PRÁTICO

Quando criança, na escola, sempre teve problemas. Gazeador era o seu vulgo, não se importava em cabular as aulas para satisfazer seus impulsos de adolescente. Não tinha interesse nas coisas do conhecimento, mas nas coisas práticas da vida, principalmente, as que aguçavam e satisfaziam seus desejos. As aulas de Português era uma de suas favoritas... para gazear. Por isso, foi se tornando um analfabeto funcional, sabendo só o necessário para manter uma comunicação, incapaz de entender a profundidade de um vocábulo qualquer, já que só o repetia. A sua vida corria serelepe, tantas eram as situações em que se metia. Numa dessas, o rebuliço foi tamanho, que teve que sumir, mudar de endereço. Foi aí então, que a sua vida mudou. Novo naquele pedaço de fim de mundo, ele logo tratou de se portar como douto. Sempre solícito, agradável e de fala corrente, foi conquistando a simpatia dos vizinhos. Do seu passado, só ele sabia. Agora era um rapazote faceiro, tanto que atraiu uns olhares capcioso

SEGUINDO EM FRENTE

A melancolia típica das tardes domingueiras veio se chegando, de mansinho, junto com a chuva, que, aos poucos, começava a se derramar por sobre as nossas casas, dando sinais de que se estenderia ao longo de todo o dia. O vento assoviava uma canção triste, daquelas que nos fazem lembrar de coisas vividas em tempos idos. Passagens existências das quais pessoas fizeram parte e deixaram um pouco de si, como marcas simbólicas, as quais podemos recorrer, quando a saudade delas bater. Mês de junho, período em que as temperaturas costumam diminuir, provocando um frio que pede um aconchego. Porém, hoje, ele tem outro significado, veio lembrar-me de afastamento, graças a sua indiferença imerecida. Sigo respeitoso o seu pensar, apreciando o tempo, que a tudo posterga, ficando livre, leve e solto, para, assim, seguir em frente, cumprindo a sua jornada. Criado em: 05/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff