Não tinha a menor vocação para letrado,
quiçá, para ser doutor. No final, para quê? Para ser exposto, julgado,
condenado e fuzilado por falsos moralistas em praça pública?! Não! Isso não
queria para si, jamais! Preferiu ser mais um na multidão de iletrados de um
país, que, no discurso improvisado, elege a educação como a remissão dos
deserdados do Estado democrático de direito. Esses que eram, como dito em
semelhante palavrório, “o futuro da nação”, cresceram e repassaram seus gênios
a outros. Dando seguimento à democrática ignorância.
Apesar dos percalços existenciais, aprendeu
a ser pragmático, já que a sua sobrevivência dependia disso. Barriga cheia era
a sua ideia fixa, meta infernal diária buscada toda via sacra semana de vida.
Religiosamente, tiravam do que não tinha a décima parte, imposto pago pela
indulgência dada por homens divinos, como forma de livrá-lo da carga pesada de
seus pecados. Porém, jamais do fardo das convenções sociais, porque no Estado
laico mandam outros, é assim que preza e prega a autonomia entre esses poderes
terrenos.
Sem eira nem beira, seguiu na vida. Em outros tempos, atribuiu a representantes de estranhos deuses a sua esperança em dias melhores, mas vieram os representantes do povo e a usurparam de si. Indignado, cobrou dos homens divinos a restituição daquela, que nada fizeram, posto que ele era só um de muitos que abarrotavam o gigantesco templo. Voltou para a casa que fora cedida por um tal de Vinicius, por sinal, muito engraçada, apesar de trágica a sua situação. Cansado pelo desgaste causado pelo furto que sofreu, dormiu sabendo que, independente do que seja, a vida pode ficar mais dura do que parece, pois o que prevalece sobre o seu, são os interesses alheios, como moiras a determinar o seu destino.
Criado em: 02/07/2020 Autor:
Flavyann Di Flaff
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