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PONTO FINAL

Foi ali, num beco, na esquina do tempo,
que flagrei aquele fatídico acontecimento.
Inverno londrino, ar fumacento,
olhar desatento à mercê do destino.
Em um desvão nos escombros residenciais,
uma cena fantasmagórica:
um corpo se apossando de outro corpo,
sugando suposta essência,
pureza agora questionável.
Tudo fluía sem pressa,
num slow motion sórdido,
à espera de um voyeur imprevisto.
Já quase ali, como se tudo fosse combinado,
lembrei-me de que não ouvi o horóscopo de Delfos,
e o ceticismo venceu a tradição.
Apressei-me a tempo de vê-los,
filme de quinta em plena segunda avenida,
que, apesar da má qualidade,
conseguiu chamar a minha atenção,
tal era a veracidade da cena.
Dos atores envolvidos,
por infelicidade, conhecia um.
Tentei fugir dos olhares dissimulados,
escondendo o meu desespero,
porém, de nada adiantou.
Saíram do covil,
e como fera sob a camuflagem da mentira,
disse-me que tudo era um teatro,
que o beijo fora artístico,
pantomima ficcional.
Para mim, foi mais que real,
foi o ponto final de uma relação
em forma de traição!
 
Criado em: 29/07/2020 Autor: Flavyann Di Flaff


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