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Mostrando postagens de junho, 2020

NOITADAS

De uma sacada, entendeu o que ocorria com o seu fragilizado ser. O movimento era quase inexistente na rua, talvez, por ser alta madrugada. Mas dava para vê-la ali, sob a penumbra do cansaço e da inquietação, não por inteira, apenas a sua silhueta sinuosa fazendo a habitual aparição em meu recanto. De forma intermitente, as horas noturnas se estendiam até se encontrarem com as primeiras da manhã. Momento em que eu e Sônia nos encontrávamos casualmente, descomprometidos um com o outro. Sempre achei que ela levava a melhor nesses encontros casuais, já que, pela manhã, eu acordava enfadado, enquanto Sônia já estava em outra, fazendo das suas. Todos os dias, torço para não cair em tentação e voltar aos afagos vampíricos daquela que só me procura nos momentos de fragilidade, para, em vez de me ajudar, deixar-me em frangalhos. Fazendo-me negar, por vezes, que estive em seus braços. Passando por tolo diante dos outros, uma vez que meu semblante entrega, para todos, que fui, de novo, seu am

CONSTATAÇÃO

Nascemos prontos para a vida, porém, a sociedade nos impõe / imputa medos, crenças e valores vários e distintos, contaminando a nossa essência. Corroendo-nos por dentro até restar, apenas, uma criatura dependente, frágil e insegura, para sobreviver em mundo hostil, terra miserável, onde só habitam feras, assim anunciam augustos e íntimos versos.   Criado em: 27/06/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

PONTE DE PEDRA

A pedra de tropeço, quando a separação era inevitável, foi ponte de tolerância e entendimento. Entre mãe e filhas, foi ponte de cuidados e educação. Quando a necessidade de uma morada se fez urgente, foi ponte amiga para o abrigo. Entre irmãos, foi sempre ponte de compreensão e préstimos. Entre pais e filhos, foi ponte de integração e ajuda. Entre filhos e pais, foi ponte de cuidados e atenção, até o último suspiro. Entre pai e filha, foi ponte de apoio em todos os sentidos. Por fim, entre irmão e irmãos, não foi ponte, foi altruísta a ponto de corromperem seu gesto em atos servis. Criado em: 24/06/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

CÔNSCIO DA VERDADE

Cansado, contrito pelos males alheios e fragilizado pelas circunstâncias, procurou refúgio nos templos da transcendência. Em cada um deles, encontrou a ideia de uma verdade que liberta, acolhe e cura, desde então seguiu como fiel devoto de seus padroeiros. No início, a convivência foi harmônica e sincera, já que dividiam de tudo um pouco, porém, com o passar do tempo, os santos, por autodenominarem-se altruístas, foram ajudar aos outros e o relegaram ao largo de seus afetos. A partir disso, quando lembrado, era por seu utilitarismo, então convocavam-no para participar de suas existências. Assim se seguiu, até que o cansaço da consciência desses fatos o assolou, gerando um profundo mal-estar em sua alma. Mal sabia ele que aqueles a quem devotou boa parte de sua simplória vida, de abrigos fortes nada tinham; eram, como ele, frágeis e dependentes, não de sua presença, mas dos seus serviços. Se queriam uma mão firme e protetora, essa não era a dele, pois, há muito, se encontrava fragilizad

VALE A PENA

Sempre sonhei em ir além de onde nasci, lugares desconhecidos que me proporcionassem novos aprendizados existenciais. Mas da terra natal nunca me afastei, apesar de uma voz interior bradar que aqui não posso ficar, sob pena de definhar. Inseguro, permaneço estático e a me questionar: Será que ainda encontrarei o caminho predestinado e vencerei a distância que me separa dos desejos contidos? Se puder ser forte, vencerei cada obstáculo e chegarei lá, onde o destino me espera de braços abertos e sorriso estampado na sua cara lisa. É só não olhar para trás e permanecer na rota, firme no propósito, porque sinto que, no final, tudo terá valido a pena. Criado em: 22/06/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

DÉCADA ROMÂNTICA

Era início dos anos 80, a efervescência dos embalos de sábado à noite ainda permanecia vigorosa entre os jovens dessa década, e apesar do tempo da brilhantina ter cedido naturalmente o seu lugar, a liberdade impulsiva, que nele despontou, transpassou décadas e internalizou-se nas gerações sucessoras, em um dancing days sem fim. Foi bem nessa época em que descobri o desejo pelo ser oposto, porque, até então, de afeto, só conhecia o da família e o da amizade, desconhecia, portanto, essa nova nuance. Interessante que as paixões se sucediam na mesma velocidade em que desvendava e conhecia esse inexplorado território emocional. Depois da descoberta dessa faceta afetiva, meus olhos – dedo de Midas – tudo o que tocavam, transformavam em objetos de paixão. Certa noite, quando da data comemorativa da padroeira local cuja celebração era realizada com missas, lapinha ou pastoril (cordões azul e encarnado), quermesse e parques com direito à canoa, roda-gigante, bate-bate, pescaria, tiro ao alvo e

VIVER É

Viver não é só deixar a vida passar! É lutar por um ideal, por mais singelo que ele seja. É ter um objetivo concreto e bem palpável. É seguir um caminho definido, para não ter que tomar atalhos. Viver é se ajudar mutuamente. É ter milhões de amigos e ser amigo. É sempre estar de bem com os familiares, apesar dos pesares inerentes à convivência diária. É saber e, também, agradecer a Deus. É perdoar os inimigos, sem ligar se agirão igualmente, porque a consciência estará tranquila. Posso dizer com toda a certeza, que viver fica melhor ainda, quando se tem alguéns para amar. Pessoas comprometidas, verdadeiramente, Com o dar e receber.   Criado em: 10/04/1994 Autor: Flavyann Di Flaff

O NASCER DO NOVO

O novo, o novo sempre vem, mesmo que o parto seja sofrido, ele virá! Faz tempo que, em suas entranhas, germinava, ainda diminuta, a procela que agora o aflige. Alimentava-se das migalhas de invisíveis temores, dos quais nunca deu fé. Nesse rude alimentar – primeiros elementos de um complexo e invasivo aparato de tortura –, sentiu vertigens, ânsias muitas e intermitentes, como se alguma coisa tivesse a devorá-lo por dentro. Sensações desconhecidas para quem não acolhe, vela e gera, só inocula a semente no ventre úmido e quente. O arrebentar das entranhas produz o rebento, que, logo de cara, traz esperança a seu espírito cansado. Porém, ela, aos poucos, vai se esmaecendo, feito planta quando perde o viço, denunciando a angústia de quem acabou de gerar uma criatura má. Hoje, criador e criatura não se entendem. Embate desigual, já que dele, tudo ela sabe, da fortaleza, a fraqueza − o atalho para a sua destruição. Velha insana, que vestida de presente, posa de novidade, só para o iludir. Ma

MUNDO DO SILÊNCIO

Já que custou a nascer, fez valer a sua existência! Da vida, em razão de sua paixão de infância pelo mar, fez um grande laboratório para inúmeras invenções, sempre acompanhado de amigos fiéis, que colaboraram em muitas delas. Encantado pelo mar, o fez de cenário principal para muitas de suas aventuras, sempre com a intenção de desbravá-lo. O Calypso ditou o seu ritmo e de tanto navegar, mergulhar e filmar, revelou para todos as novidades daquele ambiente aquático. Por divulgar esse grande mundo do silêncio, foi imensamente aclamado por palmas de ouro, o que nunca o envaideceu, uma vez que o seu feito não tivera tal pretensão. Levou boa parte de sua vida descrevendo e interpretando o, até então, desconhecido universo dos oceanos. Quando, finalmente, ouvira o chamado encantado e fora se juntar aos habitantes do mundo do silêncio. Criado em: 21/06/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

RECONHECIMENTO EVOLUTIVO

Quando se deu conta, havia acumulado um monte de tralhas que adquirira, pagando um alto preço, ou criara em horas e horas de árduo trabalho cedidas. Tudo isso, no fim, para nada, já que aquelas só serviram para atrapalhar o seu caminhar – verdadeiras pedras de tropeço. Nessa hora, como é comum a muitos, pensou em personificar a existência, dando-lhe vida e, dessa forma, atribuir-lhe todas as parafernálias amontoadas, com malcriadas insinuações, típicas de quem deve e que, em vez de pagar, imputa tal dever a um fiador, como se ela assim o fosse de suas decisões e atos irresponsáveis os quais culminaram em consequências desastrosas. Mas reviu tudo o que cometeu até ali e fez o que devia, em vez daquilo que o pensamento desejou, assumiu a sua culpa, abrindo, com essa atitude, o caminho para a evolução de suas condutas e objetivos. Criado em: 20/06/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

CANTEIRO DE EMOÇÕES

Nos recônditos do seu ser adentrou em busca de uma pedra bruta, que devidamente polida, dar-lhe-á uma joia rara. Nessa jornada, o cavaleiro invernal seguiu a estrada de mármore até chegar às profundezas do invólucro corpóreo. Lá, sob a penumbra das ações emocionais, encontrou a primitiva rocha. Pegou-a com a frieza de mais um labor diário e a colocou sobre a cabeça rumo ao ambiente neutro, no qual exerceria, com a força de um tenor, o ofício da cantaria. Talhando, com o cinzel da razão, a pedra bruta da emoção, constituindo-a em uma sólida gema singular, denominada equilíbrio, para, em seu dia a dia, utilizá-la na percepção e canalização positiva da razão e das emoções. Ajudando-o, desse modo, a seguir vivendo melhor nesta peripécia terrena. Criado em: 19/06/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

FIM DE FESTA

O casamento foi o melhor possível e era só do que falavam! Teve coral a cantar a felicidade do par, catedral decorada com votos sinceros de amor, testemunhas irrefutáveis, um banquete farto de iguarias, presença marcante dos distintos familiares, foi um luxo do início ao fim da festa nupcial. Porém, quando tudo acabou, foi cada um para o seu canto, curtir a ressaca fúnebre do que foi bem-acabado.   Criado em: 18/06/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

CIDADELA AUTOSSITIADA

A cidadela, fortaleza imponente, induz ao pensamento de uma segurança e paz consolidadas, isto para quem dela passa ao largo, porque quem nela vive, sabe da realidade que a rege. Afinal, tudo que é feito para proteger, em contrapartida, restringe. Nela, encontram-se aquartelados exércitos, os quais estão sempre em alerta, o que tensiona a convivência interna. Porquanto interesses distintos permeiam a vida de seus comandantes. O que era para ser abrigo seguro, torna-se em um barril de pólvora, barragem de Camará prestes à ruptura de suas paredes, devido às tensões líquidas da coexistência humana em ambientes insalubres. Seguem as tensões mesquinhas a fomentar intrigas entre os aquartelados, gerando conspirações que manipulam os fatos e a realidade ao redor deles – narrações conformativas e limitantes daquilo que nos parece ser o normal entre seres racionais. Até que explodem em forma de pequenas frases mal ditas, sem freios emocionais, indo de encontro às feridas alheias e recíproca

VIDINHA BESTA

Necessito urgentemente de uma vidinha besta, daquelas que ninguém dá valor algum, entretanto, agrega pertences incalculáveis. A lista é imensa. Mas um caríssimo compadre das Letras, chamado Carlos, descreveu alguns deles, quando retratou uma cidadezinha qualquer, os conheçamos.   “Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar.   Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar.   Devagar... as janelas olham.   Êta vida besta, meu Deus.”   C.D.A.   Flavyann Di Flaff      17/06/2020

TORRÃO ANCESTRAL

Houve um tempo em que andávamos por esses caminhos entre essas paisagens com o devido e prudente apoio materno, o qual nos dava a segurança necessária para trilhá-los com o desespero de olhos famintos, loucos para saciar a curiosidade acerca do mundo ao nosso redor. Tempos bons, repletos de afetos, amizades, aventuras, tudo fruto de uma interação pura, desinteressada e descompromissada, já que da palavra responsabilidade nenhum de nós nada conhecia, só ouvia falar através dos sons distintos provenientes da velha oficina de tratores, herança do avô materno. Lá, vasculhávamos minuciosamente os rolimãs, rolamentos descartados pela obsolescência funcional, os quais dariam movimento aos benditos frutos da nossa imaginação. Frutos que colhíamos com naturalidade, para saboreá-los com febre, já que sabíamos onde encontrá-los em fartura. Quando a vontade chegava suplicante, era só pegarmos o jipe e irmos em busca deles no Sítio Maguary ou mesmo no Oratório. Terra de velhos construtores de gal

DESABAFO DE UM CIDADÃO

Já votei! Talvez alguns, assim como eu, depois de sair de suas respectivas “zonas”, estejam com a mesma e nítida impressão que temos a cada eleição. A de que, novamente, depois de votarmos, seremos desvalorizados, ludibriados e jogados ao ostracismo por mais uma “nova” administração pública. Criado em: 07/10/2012 Autor: Flavyann Di Flaff

REFLEXO REVERSO

(Imagem: Nick Brandt) Eu, como Ícaro, que, com suas frágeis asas, ousou ir em busca de uma liberdade desobrigada de convenções, mesmo ela tendo custado a sua própria vida, sobrevoei a vastidão de teu coração. Nele, a extrema natureza reflexiva de teus sentimentos me atraiu. A insinuação de reciprocidade era tanta, que não hesitei e pousei nesse lago de águas tranquilas. Ali fiquei, alimentando-me do que proporcionavas. Uma calmaria insuspeita, um ambiente propício à integração de sentimentos. Mas não sei o porquê, fui sentindo um mal-estar, uma inquietação inadequada para o momento, já que não via motivos para tanto. O desassossego não cessou e, aos poucos, fui percebendo que a causa disso era a tua indiferença que, sorrateira, tomava conta da relação. Não dera fé antes, pois estavas sempre presente e isso me proporcionava segurança, porém, o teu distanciamento sentimental, só aumentava. Foi então que me dei conta de que os teus sentimentos refletiram apenas a ilusão de uma reciprocida

PRESENTE NOSTALGIA

Hoje, lembrei-me de você! Bateu-me uma saudade dos tempos em que me visitava, sempre com um novo disfarce – personagens das minhas mais íntimas fantasias. Ah, você, quantas vezes e em quantas pessoas chegou caracterizada, só para me enlouquecer, deixando-me em brasa! Lembrei-me da vez em que veio de bonequinha, de luxo ou interiorana, feita a mão, pequenina, cheirosa e de pernas torneadas, jeito faceiro e sorriso encantador, por duas vezes, assim me visitou. Recordei-me também, quando veio de loira fatal, com um sorriso lindo e contagiante, cabelos e olhos brilhantes, feito criança marota a brincar de sedução, agindo como uma onda, que ao tocar, indo e vindo, a areia pura da praia, deixa-a molhada, sem nunca a levar às profundezas do desejo. Não esqueço jamais dos encontros intermitentes nos quais você estava fantasiada de predadora, e assim que se satisfazia, partia, mas não sem antes insinuar um quero mais. Ambos escrevemos histórias que ficarão na memória e acompanhar-nos-ão pela vi

RECEPTÁCULO DE BONS SENTIMENTOS

Neste dia, não quero ter alguém! Porque possuir alguém, não quer dizer que estejamos acompanhados. Quero sentimentos, verdadeiros e recíprocos, recheando um receptáculo corpóreo, de aparência leve e feliz. Para juntos, aproveitarmos prazerosamente a vida.   Criado em: 12/06/2014 Autor: Flavyann Di Flaff

BAÍA INTERIOR

Na enseada do ser, batem expectativas alheias, em um vaivém frenético, incontrolável, inconsciente. São ondas que não encontram eco algum – energias desperdiçadas – nas ilhas próximas, todas elas formadas por alheios seres.   Criado em: 09/11/2015 Autor: Flavyann Di Flaff

ATENDENDO AO DESEJO

                  Saudade do namoro no portão, do encontro furtivo a dois no banco da praça. Do colo e do cafuné, do abraço apertado envolvendo e sendo envolvido por outro. Da fala sussurrada ao pé do ouvido, provocando arrepios mútuos; do olho no olho repleto de cumplicidade no ato delituoso de estar feliz; do caminhar de mãos dadas, ligadas por um sentimento recíproco. Do beijo à francesa, do selinho na boca e do beijinho molhado na nuca, dado de modo lento ou frenético; das lambidas lânguidas a marcar os territórios infindos do prazer. Das mãos se aventurando em curvas e relevos perigosos com o receio de derrapar e, ao mesmo tempo, querendo cometer o deslize. Da conversa fiada a fim de manter acordada a nossa gostosa interação, despertando, também, com tudo isso, a inveja do desejo que, por pirraça, fica a nos convocar, provocando, incendiando em nós a vontade urgente de consumá-lo. Como duas crianças que, ao ouvir o chamado, respondem com um “já vamos!”, “estamos indo!”, vamos enro

PARA SANDRA

Brasil, 11 de março de 2013. Hoje, depois que um mal-estar foi gerado por mais uma despretensiosa frase minha. Vi o quanto EGOÍSTA que estava sendo com a dor, pois julgava ser só minha, que só eu a estava sentindo. Por isso, venho aqui RECONHECER o quanto estava ERRADO e, por conseguinte, pedir DESCULPAS pelo mal-estar e pelas inúmeras impressões ruins que tanto proporcionei diante das minhas inconscientes e inconsequentes ações. Desde já, assumo o compromisso de seguir à risca o que pede o ritual do luto, porque entendi que dor não se cura causando outras nos demais e/ou em nós mesmos. Dor se cura é com reflexões verdadeiras sobre o que a causou, para, assim, reconhecer o que devemos melhorar para não a cometermos mais. Também reconheço que se me comportei mal algumas vezes, depois dos acontecimentos, foi só para mostrar que ainda doía, nada mais do que isso!   Meus agradecimentos e abraços a você!   Ouvindo “Depois”, com Marisa Monte. Necessitava expor isto!   Flavyann Di

GUERREIROS DOS MARES

Nos mares da vida, sempre permaneceu no cais, sem que o ímpeto de pescador o tomasse pelo braço e o levasse à luta renhida entre pescador e o mar. Ficava pelo cais, não por conveniência ou fraqueza, mas porque o reboliço que antecedia a ida ao mar o contagiava, porquanto partícipe dessa rústica logística, a qual consistia, primeiro, no preparo do alimento a ser consumido durante a marítima jornada, depois, em arrumar os apetrechos pertinentes ao ofício e, por fim, na vistoria meticulosa das embarcações. Porém, sem aquela formalidade típica dos conferentes comerciais, já que tais ações faziam parte, não de uma obrigação, mas de uma construção de histórias de vida. No momento da partida, a atmosfera era de muita fé mútua, o burburinho harmônico, enquanto todos seguiam rumo à luta diária, para uns, na terra e, para outros, nos mares. Criado em: 09/06/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

MOÇA DO RIO

Em busca de aventura, pelas trilhas do entusiasmo enveredei. Aventuroso incansável, descobri paisagens magníficas em recônditos inviolados. Atento, ouvi o som de água caindo. Intrépido parti em busca de sua origem e logo a localizei, era uma pequena cascata cujas águas desabavam e escorriam sobre a pedra, formando um lindo e calmo lago. Mas surpreso fiquei, não por ter tal privilégio, porém por ver ali, sentada sobre as pedras, uma jovem de aparência angelical, que estando tão absorta em sua contemplação, não notou a minha intrometida presença. Não me fiz de incomodado e decidi seguir observando a sua postura independente ante os burburinhos intermitentes da natureza que denunciavam a presença de flora e fauna diversas. Seu olhar era de puro deleite com tudo que a rodeava e nada além disso tirava ou chamava a sua atenção. Era só dela e da natureza aquele momento. Desapercebido, eu era apenas um narrador observador relatando os fatos a partir da minha parca visão, no entanto sem saber n

A MANCHETE VIROU NOTÍCIA

Manchete de um portal sul-africano: HOMEM MORREU POR PRAZER Muitos acessaram esse portal e visualizaram a manchete, sem que clicassem para ler toda a reportagem e, dessa forma, saberem do que se tratava. Uns poucos, depois de verem a manchete, saíram pensando no quanto a sociedade se tornou perversa, a ponto de a vida não valer mais nada. Outros, com um discurso preconceituoso, acusavam, julgavam e condenavam os que vivem à margem da sociedade. Ainda teve quem entendesse e saísse falando que o homem morreu porque quis, disseminando, por meio do aparato tecnológico, toda a mediocridade que lhes habita. Só uma pequena parte divergiu, acessando, visualizando e seguindo para a notícia, a fim de saber do que se tratava. Lendo, na íntegra, toda a reportagem, ficando, assim, ciente dos fatos. Segue abaixo, a reportagem completa:   Um homem morreu após relação sexual com a sua namorada, na manhã de segunda-feira (29), na cidade de Tshwane, na África do Sul. A vítima foi identificada

PASSAR DO PONTO

Na minha cidade, província dos sentimentos puros, havia ruas da saudade, da felicidade, dos milagres, denominações carregadas de significados. Nela, os dias tinham ares europeus, nos quais o sol se exibia esplendorosamente, sem ferir os seus espectadores, já que o acompanhava uma leve brisa. As árvores, frondosas todas elas, no passeio público, davam um espetáculo à parte. À noite, certa dama, com seu vestido prateado, dominava o cenário, a ponto de a todos encantar. Emanava dele, uma atmosfera sedutora, na qual as pessoas buscavam um contato mais próximo às outras, sem aqueles melindres que constroem barreiras intransponíveis. Por fim, as tardes seguiam sempre fagueiras, convidando-nos constantemente para um passeio aos recônditos encantados da cidade, onde rios e paisagens se encontravam para cantar odes à vida simples e bela em apresentações memoráveis. Hoje, logo ao sair de casa, percebo que o ritmo é outro, flui acelerado. A rua ainda continua a mesma, porém a paisagem que a cer

RECÉM-SEPARADOS

Seguiam os recém-separados como se nada tivesse mudado. Distribuíam afetos em forma de palavras recíprocas. Nos dias dos namorados, trocavam setas aos milhares, só comparável àquela chuva de flechas atiradas em campo de batalha medieval, fingiam ser o próprio cupido, quando da vez em que se conheceram. Nos tempos áureos do matrimônio, não se via tamanha sintonia e dedicação, tanto que, para seus desafetos de estimação, pessoas em comum, declamavam odes e distribuíam honrarias como forma de reconhecimento pelos serviços prestados. Renovavam os votos de fidelidade, seguindo, fielmente, como perdigueiro em busca da caça, os passos um do outro. Se namoravam, mostravam-se. Se viajavam, revelavam o roteiro em minúcias, só para satisfazer a curiosidade em comum. Dia sim, dia não, trocavam recadinhos recheados de um sútil sentimento, que só eles reconheciam, de tão ligados que eram um no outro. Enfim, diante de toda essa dedicação mútua, fruto de uma amizade cultivada com as mais puras intençõ

OLHAR PUERIL

Ser criança é, sem reparar na aparência, enxergar a essência!   Flavyann Di Flaff   06/06/2020

PARA UMA AMIGA

Fruto de um amor que tive e ofertei, vejo-a vicejante como a mais bela flor do campo, a luz que ilumina cada dia de minha vida! O amor que outrora ofertei e que te fez ser gerada, hoje, é todo e só para ti. Dias difíceis foram os que passei, algumas pessoas me deram as costas, diante do conhecimento de tua inesperada chegada. Mas alguns poucos e preciosos seres se fizeram presentes sempre, por isso, me senti forte o suficiente para não desistir de tê-la e, tão pouco, desanimar com o que poderia vir, justamente, com a tua chegada. Hoje, diante do menor abalo, devido a acontecimentos que são inerentes ao viver de qualquer ser humano, olho para ti e renovo as minhas forças, pois sei que ainda, por um bom tempo, necessitarás de mim e fragilizada, jamais poderia ajudar-te. Algo quis tirar a nossa paz, mas o tempo mostrou que tudo não passou de exagerada preocupação de quem tem receio de mais uma inesperada e dolorida separação. Hoje, já recuperada, festejo cada dia que estou contigo, cr

AMORES PASSAGEIROS

Nas areias banhadas pelo mar, praia da Penha, foi visto por olhos curiosos, cobiçosos, e no coletivo da sedução, o seu coração embarcou e encontrou resposta. Foram dias de flerte, indecisões, timidez e dissensão, o que mal começou, chegou ao fim, e nunca mais se viram. Passados alguns anos, retornando de uma folia fora de época, novamente, no coletivo da sedução, o seu coração embarcou e encontrou resposta. Ela subiu com olhos atentos, cobiçosos e logo encontrou os dele, uma chama surgiu e ardeu naquele momento. Os olhos guiaram, os corpos se enroscaram e a fogueira do desejou queimou as suas carnes. Sussurros ecoaram mente a dentro, a mente reagia de acordo com o que os corpos sentiam, e quem estava por perto, não imaginava o que ali acontecia. Chegada a hora, o fogo cessou e a fogueira se consumiu, ambos desembarcaram e um convite silencioso foi feito na troca de olhares. Ela seguiu rumo até hoje ignorado, e ele ficou a se lembrar daquele episódio de outrora no qual ocorrera a mesm

CABO DE GUERRA

Na disputa entre vencedores e vencidos, o cordão umbilical se esgarça até quase partir, por falta de um merecido descanso, que não pode ser dado sem antes satisfazer a ambos.   Repouso merecido, mas incompreendido por quem dele se utiliza. Tempo de recompor as fibras para um novo e repetitivo embate alheio.   Criado em: 05/06/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

DA MODERNIDADE

           A Modernidade nos rouba as tradições, justificando a utilidade de suas bugigangas pela necessidade forçada delas, só para nos cobrar altos preços por aquelas. Quando, na verdade, fazíamos tantas maravilhas, todas elas carregadas do nosso suor, do nosso afeto, porque eram genuínas, artesanais – sinônimo de união familiar. Hoje, tudo é produzido em linhas de produção dentro de indústrias, onde a convivência com máquinas está transformando as relações em operações estritamente profissionais, com contratos e toda a formalidade necessária. Tudo tem o mesmo gosto, cheiro e forma, porém, o que mais incomoda é que homogeneizaram as opções e, por consequência, a ilusão do poder da escolha.           Na canção “Estrada de Canindé”, Gonzagão alerta para o que a Modernidade, através do automóvel, pode nos tirar. Acrescento o advento dos celulares e seus acessórios, pois a “praticidade e comodidade” deles nos proporciona a grande oportunidade de irmos a qualquer lugar sem gastar dinheiro