Houve um tempo em que andávamos por esses
caminhos entre essas paisagens com o devido e prudente apoio materno, o qual nos
dava a segurança necessária para trilhá-los com o desespero de olhos famintos,
loucos para saciar a curiosidade acerca do mundo ao nosso redor. Tempos bons,
repletos de afetos, amizades, aventuras, tudo fruto de uma interação pura,
desinteressada e descompromissada, já que da palavra responsabilidade nenhum de nós nada conhecia, só ouvia falar através dos sons distintos provenientes da velha
oficina de tratores, herança do avô materno. Lá, vasculhávamos minuciosamente os
rolimãs, rolamentos descartados pela obsolescência funcional, os quais dariam
movimento aos benditos frutos da nossa imaginação. Frutos que colhíamos com
naturalidade, para saboreá-los com febre, já que sabíamos onde encontrá-los em fartura. Quando a vontade chegava suplicante, era só pegarmos o jipe e irmos em
busca deles no Sítio Maguary ou mesmo no Oratório.
Terra de velhos construtores de galpões e casas
resilientes, futuros lares de sonhos infindos, nos quais projetos do que
poderia vir a ser pululavam. Se vingariam ou não, o que marcou foram as muitas
celebrações que naquela aconteceram. Reuniões familiares fartas de comunhão e
assuntos vários, afinal, não só de pão viviam os que por ali moravam e passavam,
uma vez que não eram poucos. Havia Mané, Quinca, Zé, Paulo, João, Fernando, Vanda,
Josefa, Elza, Andréa e tantos outros que deles foram gerados.
Hoje, farto-me com essa herança guardada nos baús da memória, dentro dos quais reencontro cada pérola, que não dá para mensurar em razão de seu alto valor sentimental. Quem sabe, um dia, exponho essas relíquias da família, cada uma com a sua respectiva história.
Criado em: 17/06/2020 Autor:
Flavyann Di Flaff
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