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DA MODERNIDADE


        A Modernidade nos rouba as tradições, justificando a utilidade de suas bugigangas pela necessidade forçada delas, só para nos cobrar altos preços por aquelas. Quando, na verdade, fazíamos tantas maravilhas, todas elas carregadas do nosso suor, do nosso afeto, porque eram genuínas, artesanais – sinônimo de união familiar. Hoje, tudo é produzido em linhas de produção dentro de indústrias, onde a convivência com máquinas está transformando as relações em operações estritamente profissionais, com contratos e toda a formalidade necessária. Tudo tem o mesmo gosto, cheiro e forma, porém, o que mais incomoda é que homogeneizaram as opções e, por consequência, a ilusão do poder da escolha.

        Na canção “Estrada de Canindé”, Gonzagão alerta para o que a Modernidade, através do automóvel, pode nos tirar. Acrescento o advento dos celulares e seus acessórios, pois a “praticidade e comodidade” deles nos proporciona a grande oportunidade de irmos a qualquer lugar sem gastar dinheiro, sem fazer malas, e de desfrutar paisagens sem o risco de picadas de insetos, cobras ou sem se sujar. Pense em uma maravilha! Agora vejam o que perdemos, ao aderirmos cegamente aos apelos da Modernidade, nesse trecho da canção citada:


 “[...]

O orvaio beijando as flô
Vê de perto o galo campina
Que quando canta muda de cor
Vai moiando os pés no riacho
Que água fresca, nosso Senhor
Vai oiando coisa a grané
Coisas qui, pra mode vê
O cristão tem que andá a pé.”
 

          Portanto, tem que estar presente, vendo, tocando, sentindo cada elemento que compõe a magnífica paisagem agreste. Estimulando todos os “acessórios” sensoriais com os quais a mãe natureza nos presenteou.
 
Criado em: 03/06/2020 Autor: Flavyann Di Flaff


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