Seguiam os recém-separados como se nada tivesse mudado. Distribuíam afetos em forma de palavras recíprocas. Nos dias dos namorados, trocavam setas aos milhares, só comparável àquela chuva de flechas atiradas em campo de batalha medieval, fingiam ser o próprio cupido, quando da vez em que se conheceram. Nos tempos áureos do matrimônio, não se via tamanha sintonia e dedicação, tanto que, para seus desafetos de estimação, pessoas em comum, declamavam odes e distribuíam honrarias como forma de reconhecimento pelos serviços prestados. Renovavam os votos de fidelidade, seguindo, fielmente, como perdigueiro em busca da caça, os passos um do outro. Se namoravam, mostravam-se. Se viajavam, revelavam o roteiro em minúcias, só para satisfazer a curiosidade em comum. Dia sim, dia não, trocavam recadinhos recheados de um sútil sentimento, que só eles reconheciam, de tão ligados que eram um no outro. Enfim, diante de toda essa dedicação mútua, fruto de uma amizade cultivada com as mais puras intenções, esta máxima popular cai como uma luva: “Chumbo trocado não dói.”
Criado em: 06/06/2020 Autor:
Flavyann Di Flaff
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