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Mostrando postagens de janeiro, 2014

DA ESPERA

O vento da desesperança soprou e trouxe as nuvens do cansaço para mais perto. A noite se fez presente, alongando-se horas a fio, sem deixar pistas se logo partirá ou se permanecerá indiferente ao meu estado, causando a amplitude da espera em que já me encontrava. Hoje percebi que a espera não retém o tempo, já que este continua a correr livre pelo espaço, porém aquela tem o poder de reter a nossa impaciência. Queremos tudo para ontem, mas chega ela e diz: – Tudo no momento exato, nem antes e nem depois! Aguarde e deixe os acontecimentos conspirarem a favor. Como aguardar, se as primaveras já avançam existência adentro e a cronologia me diz que há desperdício de tempo? O estágio de vida em que me encontro, diz para ter urgência nos acontecimentos, encontros, nas partilhas, entrelinhas das palavras que mais parecem apelos camuflados, nos quereres mútuos. Enfim, em viver o que se pode ser vivido! Ah, quanta angustia me causa esta espera! Mas será culpa dela? Ou de certa complacência?

APESAR DOS ACONTECIMENTOS

Perdemos a conta, mas muito tempo se passou, muita água já rolou, e o leito, outrora enfeitado e perfumado por nossos corpos, já não exibe as nossas marcas. As águas que agora passam, trataram de apagá-las, impondo as suas, criando outras perspectivas. Mas, apesar da brusca mudança, nada apagará da lembrança os feitos por nós realizados. Então, cada um no seu canto, como por encanto, fechará os olhos e logo se lembrará do encontro de nossas águas. Os nossos leitos estavam secos, vazios, devido a estações ruins, porém, igualmente, como quando acontece o encontro do rio com o mar, tudo se fez novo. A paisagem, que antes era sem graça, ganhou vida, energia, força, fazendo-se perene a felicidade, como em uma eterna primavera. Ah, depois daquele dia, tudo foi encanto! Não havia lugar para a dor e, muito menos, para o pranto. Por quase três primaveras, seguimos exultantes pela nossa união, todavia somos frágeis, vulneráveis e fadados ao erro, consciente ou inconsciente. Assim, o que era en

UMA GATA EM MINHA VIDA

Outro dia, esbarrou em mim, uma gata. Mas, não qualquer uma, foi daquelas de fazer todo gato vadio paralisar, ficar sem reação, apenas observando o passar gracioso e tão “sem intenções” daquele cativante ser. Ao me dar conta, ela já estava a ronronar tão melodiosamente, que soou como música aos ouvidos atentos do meu desejo. Logo, este me acossou e eu que não sou de assumir nada sem antes medir e pesar as consequências, peguei-me retornando para casa, já com a gata envolta completamente pelos meus braços. Os passos estavam apressados, o coração acelerado, a respiração ofegante, as mãos suando, reações que não sabia explicar. Chegando em casa, como se já pertencesse ao novo ambiente, aquele ser desfilou majestosamente por entre os trastes até se agasalhar em meu colo, e com um olhar, ao mesmo tempo, terno e pidão, ronronou suave, como a solicitar carinhos que logo foram dados por mim. Assim, ela foi se entregando e me ganhando, sem palavras prontas, sem gestos calculados, apenas com sim

AS PALAVRAS TÊM VALOR

Nesses tempos em que o irreal é a onda da vez, as palavras perdem seu efeito real. A partir daí, começam a fazer uma propaganda contra o valor delas, dizendo que são vãs, frágeis, a ponto de o vento levá-las, sem nada modificarem. Questiono tal ardil, pois as palavras sempre terão o seu devido valor. Em defesa, afirmo que as pessoas dissimuladas são as que fazem uso inadequado daquelas, manchando-as com o não cumprimento do que fora dito. Já que, quem dissimula, não pretende que o outro conheça as suas reais intenções, carregando na eloquência e, assim, o valor das palavras proferidas converte-se naqueles trinta dinheiros que fora pago pela traição. Portanto, antes de sair espalhando que as palavras não têm valor, preste mais atenção naqueles que as proferem, porque os maus intencionados, por nada valerem, jamais honrarão o que dizem. Criado em: 07/01/2014 Autor: Flavyann Di Flaff

ESTELIONATÁRIA DE SENTIMENTOS

As palavras quando ditas com eloquência (simulada ou não), escancaram portas! Assim o fez, e, em seguida, adentrou no recinto recém-descoberto, de forma sorrateira, a ponto de induzir à sensação de que ninguém estivera ali. Porém, com um olhar mais atento, era possível observar em todo o ambiente, evidências típicas da prática de um roubo. Em um breve inventário, ficou claro que o indivíduo era profissional, tanto que, o que fora levado, correspondia ao que de mais valor o proprietário possuía. Não foram bens materiais, daqueles que, com trabalho honesto, conquista-se. Foram bens imateriais inestimáveis! Só para citar um: uma joia rara, chamada Confiança. Diante do ocorrido, um boletim de ocorrência foi lavrado e a polícia já saiu em diligências, a fim de pegar o suspeito. Diante do que fora apurado pela perícia, trata-se de pessoa do sexo feminino, de estatura mediana, com coordenação motora fina, pois nada estava fora do lugar, apesar das impressões digitais, ali presentes. Portan

METÁFORA DE UMA SEDUÇÃO

A rainha, com toda a pompa que lhe cabia, anunciou que daria um banquete e, aos poucos, foi revelando o que nele seria servido. Falou, com riqueza de detalhes, o que compreendia cada um dos pratos, desde a entrada até a sobremesa. Ouvindo de camarote, um lorde ficou tentado às inúmeras iguarias anunciadas. Não que fosse um constante degustador, mas, por conhecê-las, o desejo de experimentá-las, falou mais alto. O tempo passou lépido e não se viu nenhum preparativo para o tal banquete, apenas insinuações pairavam no ar. Foram, aos poucos, percebendo o assunto se amornar na fala cotidiana da rainha, como se desencantada estivesse em razão de alguma coisa ou fato, mas como nada comentara, a expectativa permanecia viva. O tempo e a vida seguiram normalmente, e a comilança anunciada findou em insinuações desmedidas e sem fundamentos. Dando a entender que fora mais um canto de sereia com o único propósito de atrair marujos incautos. Criado em: 01/01/2014 Autor: Flavyann Di Flaff