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Mostrando postagens de agosto, 2013

O QUARTO MUNDO

A chuva cai torrencialmente na cidade! Os ventos uivam por entre as frestas da janela fechada e eu aqui, no meu tão conhecido e querido quarto, sentindo-me perdido nesse mundinho frágil − esconderijo de papelão −, onde na infância me escondia para se proteger dos monstros externos e que, hoje, já não me protege de coisa alguma. Ouço burburinhos, parece som de cascalhinhos, poeira de segredos nunca revelados, mas sempre comentados nas rodas de escarnecedores. Quem por direito deveria saber, nunca os saberá, pois permanecerão nas entrelinhas de esporádicos diálogos surreais. Esconderijo de papelão – mundinho frágil –, o meu aposento em nada se compara às fortalezas construídas pela hipocrisia, intolerância, dissimulação e, por fim, pela indiferença, que muitos erguem em seus quartos. De dentro delas monitoram as vidas alheias e, “inconscientemente”, expõem as suas, apesar de tentarem uma pretensa discrição. Posto que toda sujeira, por menor que seja, deixará sempre o seu indelével rastro

O TORTURADOR

Em um dia nublado, ela saiu comigo – companhia sempre incômoda – para cumprir com a rotina diária. Eu nada murmurava, apenas alguns ais saíam abafados da minha boca, enquanto ela me incomodava durante todo o percurso. E assim foi durante todo o transcorrer do dia. Companhia que nunca desejei! Na verdade, nunca imaginei que teria o desgosto de conhecê-la e, muito menos, de conviver com ela. Mas tudo foi acontecendo lentamente, a ponto de não reconhecer os sinais de sua chegada. E quando chegou, foi de sola em minha vida! Sem nada falar, aboletou-se no meu peito desiludido e fez estrago. Tanto, que até hoje ainda fere o meu peito de incertezas, inseguranças e de não-sei-mais-o-quê! Insatisfeito por não merecer tal desagradável criatura, vou maquinando um desfecho certeiro para esse martírio. Determinado, saio à rua em busca de um profissional na arte de eliminar figuras indesejáveis. Andando por lugares frequentados por gente de toda espécie, acabo por ser abordado por um intermedi

AMOR SAMBA-CANÇÃO

Sei que Freud disse que a linguagem é o lugar do ocultamento, que o verdadeiro desejo por ela relatado não se revela. Sei também, que uma ação vale mais do que mil palavras. Mas eu que sou das Letras, não posso furtar-me de expressar, sem recalques ou dissimulações, o que sinto. As ações advêm de palavras bem-ditas em encontros casuais que, depois, transformam-se em encontros marcados, culminando em um relacionamento. Portanto, pausa no intelectualismo, pois, hoje, sou todo sentimento e para isso provar, vou a todos contar o que se passa comigo. Não sei mais o que faço para sair desse embaraço que está o nosso amor. Já recitei Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes, Pablo Neruda. Já cantei Lupicínio, Noel e Cartola, mas não abriu, em Rosa, a pedra que em seu peito traz − materialização da insensibilidade que agora o habita −, esse que já foi o refúgio da paz e do qual esta paixão por Rosa me tirou. Ah, pelo visto, Rosa, a nossa história de amor vai dar em samba! Samba-canção cuja letra fa

LIVRE PARA VOAR

Ele que sempre podara suas asas, para, assim, não se sentir tentado a partir e deixar o que há muito o encantara. Hoje, já não se sente bem recebido e angustia-se pela hesitação alheia em assumir o que os gestos já denunciam. Olhar nos olhos já não tem mais o mesmo encanto de outrora, pois falta reciprocidade. Soa como canto fúnebre o som da voz que outrora embalava seus sentimentos. Decidido, deixará suas asas crescerem e quando estiverem completas, alçará voo. Não sabe o rumo, mas estará ciente de que deixará para trás o que nunca lhe fora ofertado de verdade. Criado em: 23/08/2013 Autor: Flavyann Di Flaff

DESPERTANDO PARA UMA SOLITÁRIA REALIDADE

Ele sonhou tão intensamente, que tudo parecia real! Via-se pequeno diante da rosa que cativara. Já não tinha olhos para outra, dedicara-se com imenso ardor ao cultivo daquela que o encantara. O tempo passava e ela parecia cada vez mais bela. Fazia o impossível para vê-la exuberante. Assim, as primaveras iniciais foram de esplendor. Logo depois, vieram as estações inadequadas e a rosa se desfolhou, murchando. Apesar do zelo contínuo, não percebia nenhuma vontade interior na rosa em se renovar. Então, sentiu que a perda se anunciava e isso já era caso encerrado. A dor de ver esvair-se o que antes era pujante o fez acordar do sonho e se deparar com a solitária realidade. Criado em: 23/08/2013 Autor: Flavyann Di Flaff

ACEITANDO O FIM

O que dói mais na gente? Saber que o ente querido já partiu ou se ele ainda está moribundo? Em ambos os casos, a impotência nas nossas ações é fato consumado. Se já partiu, nada mais poderemos fazer, e se está moribundo, pensamos e tentamos fazer algo, porém, mesmo assim, ficaremos com a sensação de que não fora o suficiente. Machuca mais o fato de saber que quem está próximo fica indiferente e não ajuda. Entretanto, não se esquece de nos criticar, acusar, julgar e de nos condenar por sofrer por dois. Resta-nos, resilientes, dar um tempo, refletir e reconhecer que já não há mais nada a fazer, a não ser despedir-se daquele que se vai aos poucos, e renovar o espírito para os que virão, aceitando, enfim, o que fora escrito e cumprido pelas partes envolvidas até ali. Criado em: 11/08/2013 Autor: Flavyann Di Flaff

FIM DO AMOR

Ah, Amor, como me foi caro aceitar que te perdia! Vendo-te agora nesta urna funerária, relembro os momentos que tivemos contigo. Como toda novidade, causaste imensa euforia em nossos corações por um bom tempo, até que... confuso, não consigo identificar o exato momento em que começamos a te perder. Talvez, quem sabe, tenha sido quando começou a imperar os desejos individuais em detrimento da felicidade coletiva. Mas, agora, do que adianta remoer o passado, se jaz inerte e para sempre no peito daquela, que, também, um dia, te acolheu. No teu funeral, Amor, só eu estava inconformado, porque aquela, nem lágrimas de crocodilo derramou, apenas se deu ao trabalho de fingir sofrer. Na verdade, abatida estava, mais por não saber escolher um entre tantos que “conhecera” – encontros surreais − do que pela falta que tu farás. Diante disso, que te lancem logo no jazigo do Cemitério do Esquecimento, pois não aguento mais tanta dissimulação. Que fechem logo o sepulcro caiado, para que a tua prese

COLABORAÇÃO FINAL

Foi indo... indo... ndo... do... o... Foi-se! Degolando a esperança de ainda permanecermos siameses. Vimos assim, que a tecnologia é divisora de águas, de mares, de relações! Enfim, fomos vítimas do que não queríamos, mas que, contraditoriamente, contribuímos para acontecer! Criado em: 09/08/2013 Autor: Flavyann Di Flaff