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O QUARTO MUNDO

A chuva cai torrencialmente na cidade! Os ventos uivam por entre as frestas da janela fechada e eu aqui, no meu tão conhecido e querido quarto, sentindo-me perdido nesse mundinho frágil − esconderijo de papelão −, onde na infância me escondia para se proteger dos monstros externos e que, hoje, já não me protege de coisa alguma.

Ouço burburinhos, parece som de cascalhinhos, poeira de segredos nunca revelados, mas sempre comentados nas rodas de escarnecedores. Quem por direito deveria saber, nunca os saberá, pois permanecerão nas entrelinhas de esporádicos diálogos surreais.

Esconderijo de papelão – mundinho frágil –, o meu aposento em nada se compara às fortalezas construídas pela hipocrisia, intolerância, dissimulação e, por fim, pela indiferença, que muitos erguem em seus quartos. De dentro delas monitoram as vidas alheias e, “inconscientemente”, expõem as suas, apesar de tentarem uma pretensa discrição. Posto que toda sujeira, por menor que seja, deixará sempre o seu indelével rastro.

Não tem para que se ater a tal pormenor, para tanto, deixo que as consciências daqueles que delas ainda são possuidores, julguem, condenem ou absolvam tais atos. Falo isso, não por conhecimento de causa, uma vez que não sei se fui vítima de algum desses “senhores feudais”, de concreto mesmo, só as especulações que atormentam o pensamento. No mais, vida real que segue fora do quarto, um mundo ainda isolado das coisas alheias, para muitos.

Criado em: 29/08/2013 Autor: Flavyann Di Flaff

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