Houve um tempo em que o amor necessitava de eras
para nascer, crescer e se fortificar. Mas, depois de gerações, os sentimentos
foram transformados em sensações – mutações de sentido e valores. O fogo, que
do antigo amor emanava, era algo construído. Buscava-se a lenha por entre as
florestas de sentimentos, escolhendo sempre a que proporcionasse sincera e
forte combustão. Depois, em nossa morada – o coração – montávamos a fogueira, que
arderia por longevos tempos, lenha por lenha, e a acendíamos no entusiasmo dessa construção
a dois. A chama era intensa e constante, não oscilava de acordo
com os ares de fugas patológicas. Seguia queimando até se transformar em brasa,
para, mais tarde, reacender vibrante. Assim era o amor.
Hoje, o amor é de conveniências, devido a casos e coisas mal resolvidas, carências aproveitadoras e oportunistas, que a nada e a lugar nenhum nos levam. O fogo que desse amor emana é fogo-fátuo, que só aparece nas noites de profunda solidão, na qual jazem indistintos indivíduos. Fogo que não é construído a dois, porém através da putrefação individual do amor-próprio, que, ao se decompor, emana o combustível que alimenta uma luz fria e de falso brilho, queimando e se consumindo em si mesmo, proporcionando-nos a ilusória sensação como a que o gelo produz em nossas mãos. Esta, uma queimação que não nos deixa em brasa ao se consumir – glória passageira – simplesmente, transforma-se em gélido sentimento. Conservando, dentro de nós, a vivência de um vazio profundo e impreenchível.
Criado em: 24/07/2020 Autor: Flavyann
Di Flaff
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