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CICLO RESTAURADO

Nunca me deste a atenção invocada, apesar das muitas vezes em que tentei atraí-la das formas mais loucas possíveis. Em pensamento, ouvia teus passos em um aproximar lento, porém nunca chegaste de fato. Consumia-me a ânsia de estar em teus braços, embalado pelo teu gritante silêncio e olhar incisivo, sem nunca me levar até a ti. Inúmeras vezes, chorei suplicando a tua vinda para me levar a ascender deste mundo e jamais me atendeste, deixando-me numa angustiante vontade. Ignoraste-me sempre, como quem conta com outras coisas mais importantes a fazer.

Em meu ingênuo desespero, supunha que a qualquer chamado virias lépida atender. Ah, mas que tolice a minha! Tu eras senhora caprichosa, requisitada por muitos e seletiva com todos. Tinhas as tuas próprias vontades, empoderada, fazias a tua escolha em um vasto cardápio sempre à mão, sem pressa e à revelia dos interesses alheios. Foi assim que, num belo dia, cruzaste o meu caminho e nossos olhares convergiram. Um frio repentino percorreu toda a minha espinha, como esquecer aquele olhar outrora tão desejado, todavia não era mais a hora de me encontrares, aquele tempo já passou, ficou para trás. Torci! Por Deus, como torci! Até que desviaste o olhar e seguiste rumo ignorado. Logo apressei o passo e me dirigi ao ponto de ônibus, enquanto esperava, comprei um jornal em uma banca próxima, e na manchete, estampada em letras garrafais, estava escrito que um jovem se suicidara. Assim, enquanto a vida cumpria o encerramento de seu ciclo em outro canto da cidade, aqui ela renascia vigorosa, com plena consciência de si.

Criado em: 05/02/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

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