Pular para o conteúdo principal

ENQUADRAÇÃO SOCIAL

Vivemos tempos sombrios! A semeadura dos campos semânticos, há algum tempo, já germinou e começou a dar frutos. Os que daqueles colhem, carentes de humanidade, delegam sentidos torpes que geram gosto ruim em quem prova dos seus frutos pela primeira vez, tornando-os desagradáveis.

Certos termos deveriam ser uma tentativa de reconhecimento do valor do outro, e não uma ferramenta cuja utilização seja uma arma desenfreada de destruição identitária. Encaixando o outro em uma narrativa forjada, única e exclusivamente, para torná-lo impotente e submisso diante de seu opressor, que se apresenta como o grande paladino de uma nova ordem social, senhor de toda ética e moral, com direito ao poder absoluto de acusar, julgar e condenar, se assim lhe convier. Quando, na verdade, este é mais um agente, um fantoche do sistema que devora a ambos. 

Hoje, o que vemos, sob uma pretensa e nobre bandeira ativista de desconstrução social, é uma atribuição pejorativa de valor, sempre de acordo com a conveniência de interesses meramente pessoais, através de termos ou expressões já consolidados ou recém-criados, cujo propósito é o de desqualificar o semelhante ao rés do chão, só para atender aos caprichos de um ego ferido. Concluímos, diante do que vivenciamos dia a dia, que, agora mais do que antes, a animosidade e o revanchismo permeiam as relações humanas, sejam elas constantes, sejam efêmeras. Delimitando, impositivamente, a imagem de quem nos seja contrário.

Criado em: 11/02/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MUNDO SENSÍVEL

  E toda vez que eu via, ouvia, sorria, sorvia, sentia que vivia. Então, veio um sopro e a chama apagou.   Criado em : 17/01/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

ALICIADORES DA REBELDIA

         Nasce no asfalto quente, entre gritos roucos e cartazes mal impressos, o suspiro inaugural de um movimento popular. É frágil, mas feroz feito chama acesa em palha seca. Ninguém lhe dá ouvidos; zombam de sua urgência, ignoram sua fome de justiça. É criança rebelde pulando cercas, derrubando muros com palavras – ferramentas de resistência.           Mas o tempo, esse velho sedutor, vai dando-lhe forma. E o que era sopro, vira vendaval. Ganha corpo, gente, força, rumo. A praça se enche. Os gritos, antes dispersos, agora têm coro, bandeira, ritmo, batida. E aí, justo aí, quando a verdade começa a doer nas vitrines do poder, surgem os abutres engravatados — partidos, siglas, aliados, palanques — com seus sorrisos de vitrine e suas promessas de espelho, instrumentalizam o movimento para capitalizar recursos e influência política, fazendo-o perder a essência.           Chegam mansos, como quem só...