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COM O CHEIRO DAS ÁGUAS

 

Certa feita, a seca chegou maldita,
levando o pouco que eu tinha,
e da minha terra, me fez gente fugitiva.
Pra cidade eu fugi, pra arrumar meio de vida,
mas não encontrei um cristão que me desse guarida.
Foram anos sofrendo da pior dor do mundo,
nem a perda dos meus, nem dos bichos, doeu-me tão fundo.
O desprezo de gente é pior do que a seca,
nos consome as forças e as carnes tão depressa,
que de moço nos faz uma pessoa decrépita.
Já quase consumido, triste e arrependido,
decido voltar pro meu torrão carcomido.
Desacorçoado e sem posses, querendo voltar,
sou donzela desejando casar,
mas sem poder por falta de dote.
Vingará, em mim, essa vontade derradeira!
Tal qual semente que espera o cheiro das águas,
ela brotará e florará com o vigor de uma nova vida,
levando-me de volta à minha terra querida
e salvando-me dessa saudade matadeira.
 
Criado em:
19/11/2021 Autor: Flavyann Di Flaff


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