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AO CAIR A LONA

 

Primeiro vieram os anúncios, depois o circo foi montado. Assim que a lona foi erguida, fomos à lona diariamente, sempre colocados no corner por anúncios ininterruptos das performances circenses.

Não havia um dia sequer em que a atmosfera apelativa do espetáculo indoor não invadisse a nossa rotina, causando incômodos alvoroços por entre as gentes da cidade. Mesmo quando os reclames não se faziam presentes, o assunto se perpetuava nas rodas de conversa fiada.

Mas como bem dizem há tempos, não há bem que dure e nem mal que ature. Assim o espetáculo mingou, a repercussão cessou e o fuzuê acabou, então o circo arrancou as estacas, desmontou as torres e recolheu a lona. Encerrando, assim, a representação de uma realidade sistematizada e naturalizada há séculos. Nos dias seguintes, os anúncios sobre a turnê funambulesca ficaram escassos. Sem o circo montado, todo o resto da vida cotidiana não possuía sentido, era dessa forma que os anunciantes desejavam engendrar, em nossa consciência, uma percepção distorcida da realidade. Uma grande maioria aderiu a essa maquinaria, sacrificando a própria individualidade em prol do conforto e de uma segurança ilusórios.

Quando o entretenimento vazio, como uma doença que cessa, passou, os que dele bebiam, entraram em colapso e surtaram. Haja drogas lícitas e ilícitas para dar conta de tanta neurose coletiva. Nesse instante, não há vencedores e nem vencidos, mas dominadores e dominados. Restando, então, aos que tiram “férias da realidade”, a conformidade voluntária.

Criado em: 20/10/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

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