Pular para o conteúdo principal

DE UM TEMPO IDO

Hoje, uma canção me fez um convite ao pé do ouvido. Convidou-me a ir para além da esquina do tempo, seria coisa rápida, um vapt-vupt. Não hesitei e segurei em sua mão. Como num passe de mágica, chegamos ao local por ela escolhido. Havia uma atmosfera bem familiar, algo muito forte, dentro de mim, evidenciava essa cisma. Entramos na casa, que possuía um ar acolhedor, e a mesa estava posta. Algumas pessoas nos esperavam, não com ar de estranhamento, mas sim com ar de habitualidade, como se nós fizéssemos parte daquela cena de forma permanente ao longo do tempo, sem interrupção, caracterizando, assim, uma relação de vínculo entre todos ali presentes.

O almoço era constituído de feijão verde e galinha guisada, muito simples aos olhos despidos das lentes de uma memória afetiva, mas de um valor inestimável para quem as possuía, nesse caso, eu. O silêncio tomava conta, porém não era hostil, era de respeito ao momento de partilha. Eu quase não comia, pois, enquanto observava a face de cada um dos presentes, um nó na garganta começava a se formar, inevitável reagir diferente a tal emoção.

A sobremesa compartilhada era uma torta de chocolate, essa era uma das muitas formas de amar de alguém a quem muito estimo e tenho saudosa memória. Saboreei cada parte daquela fatia do mesmo jeito que estava a desfrutar daqueles momentos, com extrema parcimônia, para que não acabasse repentinamente. Após as refeições, despedimo-nos, em acordo com o ritual daquela família.

Quando chegamos em casa, logo a canção cessou, despedindo-se de mim. Quem sabe, noutro dia, ela volte a tocar a campainha do meu coração, convidando-me, novamente, a mais uma viagem inesperada, a fim de me levar ao encontro de todas as boas memórias daquele tempo ido.

Criado em: 08/05/2022 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LOOP FARAÔNICO

  De um sonho decifrado ao pesadelo parafraseado. A capa que veste como uma luva se chama representatividade, e a muitos engana, porque a vista turva. Ao se tornar conveniente, perde toda humanidade. Os sete anos de fartura e os de miséria, antes, providência pedagógica, hoje mensagem ideológica, tornando o que era sério em pilhéria. A fartura e a miséria se prolongam, como em uma eterna praga sem nunca ter uma solução na boca de representantes que valem nada. O Divino dá a solução, e esses homens nada fazem, deixando o povo perecer num infinito sofrer, pois, basta representar, para fortunas obterem. E, assim, de dois em dois anos, os sete se repetem, como num loop infinito de fartura de enganos.   Criado em : 1/6/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

O JOGO DA VIDA

O jogo da vida é avaliado sob quatro perspectivas: a de quem já jogou e ganhou e desfruta da vitória, a de quem acabou de entrar, a de quem está jogando e a de quem jogou, perdeu e tem que decidir se desiste ou segue jogando. Quem jogou e ganhou, desfruta os louros da vitória, por isso pode assumir a postura que mais lhe convier diante da vida. Quem acabou de entrar no jogo, chega cheio de esperança e expectativas, que logo podem ser confirmadas ou frustradas, levando-o a ser derrotado ou a pedir para sair, permanecendo à margem, impotente diante da vida. Quem está jogando, sente a pressão da competição e, por isso, não se deixa levar por comentários de quem só está na arquibancada da vida, sem coragem de lutar. Quem jogou e perdeu, sente todo o peso das cobranças sociais pelo fracasso, por isso não se permite o luxo de desistir, pois sabe que tem que continuar jogando, seja por revolta, seja para se manter vivo nessa eterna disputa. Criado em: 20/11/2022 Autor: Flavyann Di Flaff