Hoje,
uma canção me fez um convite ao pé do ouvido. Convidou-me a ir para além da
esquina do tempo, seria coisa rápida, um vapt-vupt. Não hesitei e segurei em
sua mão. Como num passe de mágica, chegamos ao local por ela escolhido. Havia
uma atmosfera bem familiar, algo muito forte, dentro de mim, evidenciava essa
cisma. Entramos na casa, que possuía um ar acolhedor, e a mesa estava posta. Algumas
pessoas nos esperavam, não com ar de estranhamento, mas sim com ar de
habitualidade, como se nós fizéssemos parte daquela cena de forma permanente ao
longo do tempo, sem interrupção, caracterizando, assim, uma relação de vínculo
entre todos ali presentes.
O
almoço era constituído de feijão verde e galinha guisada, muito simples aos
olhos despidos das lentes de uma memória afetiva, mas de um valor inestimável
para quem as possuía, nesse caso, eu. O silêncio tomava conta, porém não era
hostil, era de respeito ao momento de partilha. Eu quase não comia, pois,
enquanto observava a face de cada um dos presentes, um nó na garganta começava
a se formar, inevitável reagir diferente a tal emoção.
A
sobremesa compartilhada era uma torta de chocolate, essa era uma das muitas formas de amar de
alguém a quem muito estimo e tenho saudosa memória. Saboreei cada parte daquela
fatia do mesmo jeito que estava a desfrutar daqueles momentos, com extrema
parcimônia, para que não acabasse repentinamente. Após as refeições, despedimo-nos, em acordo com o ritual daquela família.
Quando chegamos em casa, logo a canção cessou, despedindo-se de mim. Quem sabe, noutro dia, ela volte a tocar a campainha do meu coração, convidando-me, novamente, a mais uma viagem inesperada, a fim de me levar ao encontro de todas as boas memórias daquele tempo ido.
Criado
em: 08/05/2022 Autor:
Flavyann Di Flaff
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