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LAMENTO PUERIL


Lá no interior da velha casa, em um quartinho secreto, estava a criança que nela ontem frequentou. Não brincava de esconde-esconde, como outrora fazia. Ali estava a se trancar, para preservar a antiga casa, onde fora soberana por um tempo que lhe pareceu eterno.

Não queria que seu soluçar incomodasse, a ponto de quebrar a atmosfera austera que, ao longo do tempo, assim se tornou. Apenas queria extravasar toda a tristeza que em seu cândido peito doía, pois não aguentava ver aquele ambiente, onde outrora frequentava e fartava-se de prazeres frívolos, hoje tão metódico, sóbrio e sombrio, sem nenhum resquício da naturalidade pueril do seu tempo.

Quis findar-se, mas se lembrou de que já não existia de fato. Tornara-se apenas lembranças que, neste dia, viera à tona em um saudosismo medido em horas, precisamente, em vinte e quatro horas. Porque amanhã, já será treze deste mês, e a velha casa voltará à realidade da vida formal.

Criado em: 12/10/2014 Autor: Flavyann Di Flaff


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