Do reino de OTPA (Onde Tudo Pode Acontecer), chega
o lépido mensageiro que, sem cerimônias, logo expõe o decreto:
– Desde já, fica determinado que ninguém poderá
concretizar os seus anseios, sendo permitido, apenas, possuí-los. Assim
proclama a minha Senhora! Tendo isso falado, retirou-se.
Naquele dia, lamentos preencheram os ares, não teve
um único ser que não tivesse sentido a mesma dor. Desde então, a atmosfera
daquele ambiente transfigurava-se, toda vez que recebia uma visita, esta, quase
sempre, era a aspiração de algum residente. O clima ficava pesado e triste por
imaginar alguém desejando imensamente o outro ser e não poder tê-lo consigo,
apenas por capricho de uma figura tirana e que nada entendia de sentimento. A
cada visita recebida, era como se cada habitante daquela aldeia perdesse um ano
de sua existência, que por não poder ser divida com o outro, ficara sem
sentido.
Ali, naquela aldeia, existia um habitante que,
desde aquele fatídico dia, dormia e acordava inconformado com tão desumano
decreto. Como lidaria com o sentimento que há muito ardia no seu peito
fragilizado, a partir de então?
A visita à sua casa não tardaria, logo
experimentaria o misto de sentimentos-emoções que todos os outros
experimentaram. Saberia, da pior forma, como era desejar e não poder
concretizar, porque, alheio ao que sentia, alguém determinara que isso não
aconteceria. Diante disso, por um ínfimo momento, desejou não ser visitado,
ficaria incomunicável, assim, quem sabe, sofreria menos. Mas logo caiu na real,
se menos ou mais, sofreria do mesmo jeito, então contou os dias que faltavam
para receber aquele ser que tanto mexia com o seu.
Cronos não costuma ser generoso com as criaturas, porém, desta vez, abriu uma exceção e abreviou a sua passagem, para que aquele ser pudesse ter o seu instante de felicidade. O dia chegou, trazendo, consigo, aquela que muda os seus ares, gelifica seu toque, abala suas certezas, lançando-o no precipício como em um salto de bungee jumping. Levando consigo, apenas, uma tênue certeza – a incapacidade de garantir o seu retorno ileso. Aproveitou como pôde, sentindo tudo, sem murmurar, querendo que não findasse, todavia consciente de que mais nada poderia fazer. Em seguida, ela se foi, levando consigo o que ele tinha de mais sincero, deixando para trás a sensação de impotência que lhe consumia, já que não dependia só dele a concretização do anseio em comum.
Criado em: 26/07/2014 Autor: Flavyann
Di Flaff
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