As coisas por si só não têm
valor algum, mas quando tocadas por alguém de relevância para nós, tornam-se um
relicário. Não é fácil pôr ordem numa casa já há muito tempo bagunçada, pois,
ao mexer em certas coisas, corremos o risco de nos envolver com a poeira de
reminiscências, e assim aconteceu com tudo que fora deixado para trás. A cada
objeto manuseado, as lembranças se renovavam como se fossem frescas descrições
de momentos vividos em um tempo pretérito. Instantes alentadores capazes de
despertar sensações conhecidas, tais como odor, calor e gosto, em um verdadeiro
caleidoscópio sensorial. Na arrumação, mais que necessária, o pensamento foi
longe e o coração angustiado ficou, suspiros se misturaram com o arfar do peito
ambiguamente cansado.
O processo fora criterioso, desfaz-se disso ou daquilo, ou continua com as coisas. Nada do que não pertencesse ao contexto da presente vivência poderia permanecer, sob pena de se transformar em indesejáveis bugigangas imateriais. Findo o processo de descarte, entre as coisas que ficaram, só não foi possível, agora, livrar-se da nostalgia, ela ainda continuará por aqui, só não se sabe o prazo de validade.
Criado em:
01/11/2014 Autor: Flavyann Di Flaff
Comentários
Postar um comentário