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O VALOR DO MOMENTO PRESENTE

Quando se lembra daquela madrugada, seu semblante se entristece, pois sabe que por sua omissão, pôs toda a chance de se acertar com aquela garota a perder.

Recorda, sempre com detalhes, a sequência de fatos que antecederam o surgimento dessa angústia, que até hoje o atormenta, bastando, apenas, ver retratada aquela que o fizera tremer na base, como há muito não acontecia.

Estava ele só de bermuda jeans, ela de camisetinha branca e short jeans, diante da televisão, já passava das onze horas da noite, os guardiões mirins já dormiam. Quando ele se senta ao lado dela e começa a acariciar os seus cabelos, ela logo se levanta e o puxa para o quarto, que, enfeitado com detalhes infantis, remete-os às travessuras diversas. Ali, fizeram-se abraços e beijos intensos, logo se despiram e se fizeram empolgados amantes. Em seguida, começava a ser desperdiçada a chance dele se entregar por completo a alguém.

Com o incêndio findado, ela fora tomar banho e ele não a acompanhara, para, assim, atiçar novamente aquele ardor inicial, como outrora já fizera uma vez. Por não acompanhá-la, entendera que não o agradara e depois dos distintos banhos, seu semblante estava sério e a conversa, em seguida, fluíra seca. Agora, de vestidinho de finas alças, parecia aborrecida, como se tentasse entender o que a pouco ocorrera, já que em uma outra ocasião o fogo se estendera até debaixo do chuveiro.

O pensamento de momentos futuros com ela, que tanto se apresentavam como possíveis, fervilhavam a mente dele, a ponto de não o fazer enxergar o estrago que isso já causara, colocando, assim, um fim em qualquer possibilidade desses momentos se concretizarem.

No dia seguinte, o aborrecimento ainda era presença certa naquele rosto que tanto o encantara, e a pouca conversa tinha um ar formal. Mesmo assim, não se dera conta do que acontecia e só depois de sua partida é que iniciou aquela estranha sensação de que deixara de fazer algo, que muito influiria na continuidade daquela relação. A partir dali, teve a amarga certeza de que não mais a teria.

Um ano, dois meses e nove dias depois, a distância, a falta de um contato mais constante e intenso juntamente com alguns eventos pessoais que lhe eram alheios, uma vez que faziam parte da vida dela, arrefeceram o que, talvez, ela sentisse. Enquanto ele, nesse período, sofria sempre ao se lembrar do ocorrido, visto que se sentia o único culpado por não ter tido a capacidade de desfrutar, completa e intensamente, daquele momento. Posto que, em vez de desfrutá-lo, apenas ficou imaginando como seria vivenciá-lo em um futuro imprevisível, incerto. 

Criado em: 16/05/2009 Autor: Flavyann Di Flaff



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