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BACANAL

Somos fruto do pecado original, assim afirma as Sagradas Escrituras! Apesar de já passados milênios e de muitas gerações em constantes penitências ─ vãs tentativas de consertar uma culpa imposta por dogmas discutíveis ─, continuamos a repetir, cotidianamente, aquele ato pecaminoso dos nossos bíblicos ancestrais. Uma vez que Eva segue dando sua maçã para Adão, que, agora, com uma malícia sempre contemporânea, devora o “fruto” avidamente, não sem antes explicitar, de forma descarada, através de caras, bocas e sons, o imenso prazer carnal que a não menos maliciosa Eva lhe proporciona.
Na tentação que a partir do momento em que se olha para o outro, já se sucumbe, está expressa a nossa veia elementar para o pecado.
Somos da geração na qual as conversas diárias acabam sempre permeadas por impressões freudianas, nas quais a fornicação verbal flui, levando à prática, sem a presença de amarras morais conferidas por falsos puritanos ─ grandes pregadores de uma ecumênica hipocrisia.
Nas nossas reuniões íntimas, num canibalismo premeditado e consentido, devoras-me até o fim, através de bocas distintas e gulosas. Tal ação nenhuma dor me causa, mas gemo despudoradamente ─ trilha sonora do prazer que me proporcionas. Nessa “festinha” bacana, sorves, como néctar dionisíaco, o éter da vida, que pelo agir da verossimilhança, agora se condensa nesse fluído denso que de mim extrais. Logo, sorris, lembrando-me de Salomé, que com sua sedução logrou o êxito macabro.
Nessa celebração sexy que parece ser só nossa, participações sutis enriquecem essa grande conquista social. Se diretamente ou por meio de atos insinuantes, pouco importa, basta-nos saber da contribuição dada para a consumação e encenação, mais uma vez, do mais prazeroso e original dos pecados da humanidade.

Criado em: 30/10/2013 Autor: Flavyann Di Flaff

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