Pular para o conteúdo principal

FINS DE ANO

Enquanto ele e seus familiares contavam ansiosos os segundos que restavam para o término do ano. Para, em seguida, celebrarem, com fartura, o ano que logo começaria. Noutro canto qualquer da cidade, alguém solitário olhava o relógio com indiferença e desencanto, para, logo em seguida, deitar-se e adormecer.
Em segundos, estes, que outros contavam com euforia, pessoas viram o fruto do seu trabalho de um ano inteiro, ir, literalmente, por água abaixo, devido a uma enchente que os surpreendera. Distante dali, mas no mesmo instante, alguém que também tinha sonhos e desejos para esse ano que chegava, morria atropelado, assassinado ou de um mal inesperado qualquer, em uma enfermaria de um hospital. Assim, finda-se mais um ano, e o que pensávamos ser singular, faz-se plural! Percebemos, sem querer, que, como somos muitos, porém distintos por natureza, o ano também se difere, tendo não um, porém inúmeros fins.

Criado em: 31/12/2009 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MUNDO SENSÍVEL

  E toda vez que eu via, ouvia, sorria, sorvia, sentia que vivia. Então, veio um sopro e a chama apagou.   Criado em : 17/01/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

ALICIADORES DA REBELDIA

         Nasce no asfalto quente, entre gritos roucos e cartazes mal impressos, o suspiro inaugural de um movimento popular. É frágil, mas feroz feito chama acesa em palha seca. Ninguém lhe dá ouvidos; zombam de sua urgência, ignoram sua fome de justiça. É criança rebelde pulando cercas, derrubando muros com palavras – ferramentas de resistência.           Mas o tempo, esse velho sedutor, vai dando-lhe forma. E o que era sopro, vira vendaval. Ganha corpo, gente, força, rumo. A praça se enche. Os gritos, antes dispersos, agora têm coro, bandeira, ritmo, batida. E aí, justo aí, quando a verdade começa a doer nas vitrines do poder, surgem os abutres engravatados — partidos, siglas, aliados, palanques — com seus sorrisos de vitrine e suas promessas de espelho, instrumentalizam o movimento para capitalizar recursos e influência política, fazendo-o perder a essência.           Chegam mansos, como quem só...