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MORTE EM POLAROID

Qual o porquê de ela ter feito aquilo comigo?! O tempo é como um tornado, que, indiferente aos rastros que deixa, continua a passar e, assim, o fez, passou de uma forma politicamente correta.

Com a vida refeita, ela tem nova companhia! A cumplicidade é tamanha, que já gerou um fruto. Tudo isso sei por intermédio de algumas pessoas, que, outrora, eram comuns a já findada relação entre nós dois. Não que as tenha interpelado a respeito, mas, quem sabe, por terem percebido um indisfarçável clamor por tais notícias em meu olhar, desse modo reagiram.

Esforcei-me em responder adequadamente ao indesejável desfecho, dando prosseguimento à minha vida, como se o acontecido fosse um dos muitos finais reservados à nossa história. Porém, por mais que acreditasse nisso, algo me impedia de aceitar e me conformar. Dessa forma, a vida se tornou difícil para mim.

Como as ondas do mar, que, em um vaivém constante, banham a areia da praia, os relacionamentos que surgiram depois, desse mesmo jeito se sucederam. Tanto assim, que só marcaram pela quantidade e pelo vazio que sempre deixaram ao partir.

Em mais um dia, dentre tantos, em que o particular rancor me consumia, depois de revirar e rever imagens do passado, vejo-a aqui bem na minha frente, estática. Apenas com um sorriso no rosto, como a desdenhar daquele que nunca lhe fora importante. Ela em nada mudara, continuava exatamente como a vira pela primeira vez há tempos.

Como em uma retrospectiva de um ano que se finda, mil coisas vieram à cabeça, tudo em questão de segundos, e isso só fortaleceu a irracionalidade, que, em mim, se escondia e se continha. Então, ferida aberta sangrando, cego de dor, corri até a cozinha, peguei a faca e, entrando no quarto, desferi o golpe − o primeiro de muitos − naquela que agora me afrontava desmedidamente. Só parei, quando a vi despedaçada no chão frio, como fria fora a sua reação diante da minha inusitada fúria. Não gritou, não suplicou e, muito menos, justificou o ato do passado que me condenou a essa miserável vida. Ainda insatisfeito, peguei os pedaços dela, juntei-os e ateei fogo até que virassem cinzas e, depois, joguei-as na lata do lixo. Foi assim que me vinguei daquela que causara tão insuportável mal-estar, conseguindo, enfim, que a minha consciência jazesse tranquila, livre para sempre das velhas lembranças que tanto me atormentavam.

Criado em: 24/12/2011 Autor: Flavyann Di Flaff


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