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DE UMA INEVITÁVEL QUEDA

Quando conversamos de início, dizíamos que a cada diálogo mais desprendido, subiríamos um degrau na fictícia escada do envolvimento. As suas palavras me passavam uma sensação de segurança, algo necessário para que meus passos fossem impulsionados mais rapidamente rumo àquilo que, por enquanto, eu só imaginava, entretanto, em sua mente, já estava mais que definido. Só não sabia se essa segurança que me tentava passar era a de proporcionar uma subida agradável ou se era a da certeza de que conseguira o seu objetivo pessoal.
Em curto tempo, o desejo era tão forte, que a sua presença já se fazia diária em meu ambiente. Assim, sem notar, transpus lances inteiros de degraus, tudo em uma só vez! Nesses instantes, estive sempre apoiado por suas palavras ─ mãos sutilmente fortes ─ garantia de que nada de mal aconteceria, foi assim que me fez entender.
As suas constantes ousadias verbais e visuais me faziam só olhar para cima, esquecendo de vez, o quanto alto já estávamos. Inexplicavelmente, enquanto perdia a noção da altura, o medo não me assolava, porém ao olhar para cima, mesmo forçando a vista, não conseguia enxergar o nosso destino, apenas os novos lances de degraus.
Minha imaginação embarcou e navegou por cenários, nunca antes pensado por mim. Então, envolvemo-nos! Nessa hora, o que estava a passar pela sua? Planos futuros a dois ou apenas a satisfação pela conquista do que já tinha planejado?
Hoje a sensação que tenho, é que, logo após o fato consumado, você foi se saindo aos poucos, para que eu não notasse. Quando me dei conta, já tinha partido, levando consigo a escada usada para me conduzir para o alto. Deixando para trás, eu e a angústia de não saber como fazer para não sofrer imensamente com a inevitável queda.

Criado em: 09/04/2008 Autor: Flavyann Di Flaff

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