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DA PARTIDA

Aproximando-se a hora de sua partida, a bagagem ainda por fazer, na cabeça só existe espaço para pensar naqueles que ficarão aqui. Reflexo claro de que a saudade já o assola ferozmente.
Nesse intervalo entre se preparar e se despedir, uma reflexão sobre tudo o que vivera até hoje fora feita, como uma apresentação de slides em um seminário – breves e concisos. O suficiente para ter uma ideia de sua efêmera existência, que, para alguns, fora infrutífera, enquanto, para outros, fora normal, com muitos altos e baixos. Só para ele, fora insuficiente para fazer o que lhe cabia e podia.
Como se despedir, sem que as palavras ternas e o abraço apertado e fraterno lhe causem o choro incontrolável, devido ao rápido desapego imposto? Tarefa hercúlea, até mesmo para aquele que aparenta ter enorme frieza nesse específico momento.
Ainda insatisfeito e atônito, procura uma justificativa plausível para ter merecido tal bilhete, por sinal, só de ida. Mas tal comportamento o impede de ser sensato, jogando, assim, o bom senso para o alto, retrato fiel daqueles que se negam a reconhecer que é hora de partir. Especula-se que isso acontece, devido a um remorso ou arrependimento repentino, porém, tardio, como se quisesse reconhecer que poderia ter vivido de uma forma melhor, fazendo bem não só para os outros, mas, principalmente, também para si mesmo. Agora, isso pouco importa! É chegada a hora de ir! Na bagagem, agora feita, levará apenas a vida que viveu, já que as coisas adquiridas nesse mundo perderam o sentido. Posto que, daqui para frente, noutro plano, estará ficando, para trás, apenas, a lembrança passageira de sua existência em todos que com ele conviveram.

Criado em: 30/09/2010 Autor: Flavyann Di Flaff

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