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NO FRIO AMBIENTE DA INTERNET

     Neste nosso momentâneo encontro, conheço-lhe apenas virtualmente. Nele trocamos... palavras, muitas palavras, as mais inimagináveis e variadas possíveis.

          À cada eventual pergunta uma inesperada resposta, sempre incerta, uma vez que não temos convivência para atestar veracidade nelas. São repentinas palavras, todas vindas de um aparente e agradável ser adolescente, que, como todos nessa fase, são totalmente imprevisíveis.

          É nesse bate-papo desinteressado, que começo a me interessar por ela. Não sei explicar, mas surge um forte anseio de tê-la comigo. Então, começo a me insinuar virtualmente, revelando, assim, este meu súbito desejo.

          Digo-lhe que queria estar bem perto, a ponto de poder tocar e acariciar o seu rosto, sentir o seu perfume e beijar a sua desconhecida boca. Contudo, de repente, não sei se contaminada ou influenciada pela tecnológica frieza do computador, ignora o meu desejo, agora, revelado e me responde apenas com um tchau e um beijo, todos cheios de gigabytes de indiferença. Desde então, sinto-me como um zumbi a vagar pelos chats de estranhos provedores, já que nem sequer o meu liga mais para mim. Ele só pensa no que posso render no final de cada mês. 

Criado em: 21/06/2000 Autor: Flavyann Di Flaff

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