Pular para o conteúdo principal

DA TUA [NOSSA] DECEPÇÃO



Pensavas ser forte e quiseste conquistar, mas foste conquistada por um alguém que julgavas ser perfeito. Permitindo, assim, que uma empolgação momentânea e ilusória te invadisse, fazendo-te esquecer que o ser conquistado passa de cidadão livre a escravo subjugado, preso pelos grilhões de sua própria cegueira sentimental.
Como todo servo passivo, submisso por sua livre vontade, fazes o que o teu “amado” senhor decreta. De tão cega que estás, ignoras o que bem está à sua vista, nem percebes que o teu “amado” senhor de ironias nunca te poupa. Mas, mesmo assim, segues a dizer para todos do quanto tens apreço por ele, a ponto de irritar os que te cercam, devido a esta tua desmedida hipocrisia.
Com o correr do tempo tiveste vontade de ter a certeza do que vivenciavas, desejando saber se o teu senhor tinha igual apreço por ti. Mas qual não foi a tua decepção ao ouvir daquele que diante de todos veneravas, que nada sentia por ti, a não ser a total falta de interesse pelo sentimento que por ele nutrias. Com isso, percebeste então, o quanto foras fraca, cega e iludida. Enquanto te esforçavas para que os outros, no contrário, acreditassem.
Soube que depois do ocorrido o teu sofrer fora imenso e que pensaste em soluções esdrúxulas para curar essa recente ferida, que ainda sangra. No entanto, triste fiquei de verdade ao saber que de mim, nenhum pouco lembraste. Nem sequer para me contar essa história com a tua própria boca em forma de desabafo, para que eu pudesse te dar o meu consolo e conforto.
Não me preocuparei demasiadamente com isso, pois sei que, na vida, há momentos assim, nos quais, muitas vezes, as decepções parecem nunca ter fim. Às vezes, mesmo estas nos sendo alheias, por amarmos muito a quem elas pertencem, rapidamente, passam a ser nossas também, e é assim que agora me sinto, como a ti, igualmente decepcionado.

Criado em: 14/03/2004 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MUNDO SENSÍVEL

  E toda vez que eu via, ouvia, sorria, sorvia, sentia que vivia. Então, veio um sopro e a chama apagou.   Criado em : 17/01/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

ALICIADORES DA REBELDIA

         Nasce no asfalto quente, entre gritos roucos e cartazes mal impressos, o suspiro inaugural de um movimento popular. É frágil, mas feroz feito chama acesa em palha seca. Ninguém lhe dá ouvidos; zombam de sua urgência, ignoram sua fome de justiça. É criança rebelde pulando cercas, derrubando muros com palavras – ferramentas de resistência.           Mas o tempo, esse velho sedutor, vai dando-lhe forma. E o que era sopro, vira vendaval. Ganha corpo, gente, força, rumo. A praça se enche. Os gritos, antes dispersos, agora têm coro, bandeira, ritmo, batida. E aí, justo aí, quando a verdade começa a doer nas vitrines do poder, surgem os abutres engravatados — partidos, siglas, aliados, palanques — com seus sorrisos de vitrine e suas promessas de espelho, instrumentalizam o movimento para capitalizar recursos e influência política, fazendo-o perder a essência.           Chegam mansos, como quem só...