Pular para o conteúdo principal

ANJO CAÍDO


Do nada apareceste salvando-me deste presente abandono! Brincando de seduzir, envolveste-me. Fazendo com que o meu coração te escolheste. Nas tuas asas voei na paixão, conhecendo o prazer e a luxúria.
Tinhas o dom da palavra, sabias falar tão bem e mansamente, que, em certos momentos, mais parecias um anjo. Encantado que estava, comecei a gostar de ter sido cativado por ti, porém, no auge desta empolgação, da mesma forma como apareceste, sumiste. Deixando-me, de novo, imerso na solidão.
Passado algum tempo, fui percebendo que não eras dessa terra, mas que pertencias a outro mundo. Juntando todas as evidências, descobri que eras realmente um anjo, entretanto, não qualquer um. Eras sim, um anjo caído e, por isso, já não tinhas uma boa índole. Com certeza, devido a um grave erro, foste expulso do paraíso, perdendo os teus dons celestiais. Já segregado, recebeste “qualidades” humanas e, sem saber, foste enviado ao meio terreno, a fim de ter a tua última chance, sim, a última, porque o Senhor é misericordioso para com todos, sem distinção. Contudo, revoltado como estavas, não percebeste nada e, assim, foste enganar o primeiro mortal que apareceu diante de ti, sacramentando, com essa errônea atitude, a tua já anunciada condenação. Rapidamente, foste mandado ao inferno, a fim de cumprir a tua sentença até os fins dos tempos. Quanto a mim, restaria a dor de mais uma decepção, no entanto, como fora um instrumento dos desígnios divinos, fui agraciado com a certeza de ter uma companhia muito em breve.

Criado em: 03/08/2004 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MUNDO SENSÍVEL

  E toda vez que eu via, ouvia, sorria, sorvia, sentia que vivia. Então, veio um sopro e a chama apagou.   Criado em : 17/01/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

ALICIADORES DA REBELDIA

         Nasce no asfalto quente, entre gritos roucos e cartazes mal impressos, o suspiro inaugural de um movimento popular. É frágil, mas feroz feito chama acesa em palha seca. Ninguém lhe dá ouvidos; zombam de sua urgência, ignoram sua fome de justiça. É criança rebelde pulando cercas, derrubando muros com palavras – ferramentas de resistência.           Mas o tempo, esse velho sedutor, vai dando-lhe forma. E o que era sopro, vira vendaval. Ganha corpo, gente, força, rumo. A praça se enche. Os gritos, antes dispersos, agora têm coro, bandeira, ritmo, batida. E aí, justo aí, quando a verdade começa a doer nas vitrines do poder, surgem os abutres engravatados — partidos, siglas, aliados, palanques — com seus sorrisos de vitrine e suas promessas de espelho, instrumentalizam o movimento para capitalizar recursos e influência política, fazendo-o perder a essência.           Chegam mansos, como quem só...