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DESABAFO DE UM CADÁVER

Morri! Se de morte matada, de morte morrida, de morte planejada ou de morte ao acaso, isso de nada importa agora, pois só sei que morri.
Ah, esse túmulo! Ele será a última morada onde meu corpo inerte, em um caixão, vai repousar. Nele, não tem luxo, só escuridão, frieza e sujeira.
Distante daqueles que me cercavam, repenso minha vida, infelizmente, agora, com arrependimento. Já que não fui capaz de lutar para realizar meus mais íntimos desejos e não dei o suficiente para receber o que eu tanto precisava. Vejo que a vida é uma eterna troca, porém, não é sempre que damos ou recebemos na mesma proporção.
Agora, eu, um espectro a mais, neste espaço infinito, apenas observo a rotina dos que me cercavam e, abatido (coisa estranha para um espectro), percebo que onde estou também vale aquele ditado: “nesta vida, nada é para sempre!”. Pois vejo que, aos poucos, vou sumindo desta antiga realidade à medida que vou desaparecendo da lembrança dos meus convivas. Transformando-me em uma sombra do passado e fazendo-me consciente de que, apesar de tudo, a vida segue seu curso.

Criado em: 22/04/2003 Autor: Flavyann Di Flaff

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