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DA GRANDE VIAGEM II


(In my mother's memory)

Desejei uma boa “viagem” para ti, mas ainda não partiste, graças à compaixão dEle para conosco, já que teu estado físico pouco se alterou. Vendo-te assim, hesitante, pois pareces que já não sabes se lutas para permanecer aqui ou se já te aprontas para partir, vêm-me lembranças de quando eras sã. Realizavas as tarefas domésticas com afinco — dedicação de quem tem amor pelos seus. Apesar de nos tornarmos adultos, sempre nos trataste como se fôssemos eternas crianças e isso é o que te fez ser exemplo para todos nós.

Hoje, vendo-te assim, abatida, neste leito, penso em questionar o Pai, a fim de saber o porquê dEle levar nossa genitora, porém me seguro, porquanto sei que é este presente desespero que me incita a fazer tal pecaminoso ato.

Vejo que, até aqui, muitos dos teus já desistiram desta luta, coisa que, aos poucos, percebo também que estás a fazer. Não queria nunca ter visto esta tua luta se tornar tão renhida, pelo contrário, antes preferia tê-la presenciado sendo vencida por ti. Mas se já estás a te preparar para ir, cabe a nós, agora, que ficaremos aqui, conformarmo-nos e te dar o libertador adeus.

Criado em: 16/11/2003 Autor: Flavyann Di Flaff

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