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SAUDOSISMO

                                                                                            (Foto: João Leitão)
Durante os arroubos da juventude
sonhei que iria ganhar o mundo,
conhecer outros lugares,
outras pessoas.
Depois de pouco mais de meio século,
continuo aqui, no mesmo lugar onde nasci,
congelado nesse chão e no tempo,
não sou nem sombra do que sonhei.
Não devia ter ficado,
mas tive medo de sair.
Como um náufrago
me agarrei a um pedaço de terra seca,
meu porto de máxima segurança.
Fronteira com a vastidão desconhecida
e tão sedutora, que chega a assustar-me,
fazendo-me relutar em partir
na busca de tesouros encantados,
capazes de despertar,
o que de lúdico perdi.
Só agora percebo
o quanto andei longe
daquilo que havia programado.
Vida de esforços criativos
em meio à rotina monótona
de um relógio de parede,
de um moinho quebrado.
Às vezes, um livro,
uma canção, levam-me para além,
a lugares nos quais jamais estive,
produzindo uma saudade
daquilo que deixei de ser.

Criado em: 30/05/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

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