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DE UM PRETENSO CHURRASCO

Numa certa comunidade, dois velhos e conhecidos amigos se encontraram. Como de costume, cada um quis saber notícias do outro, tudo transcorrendo em tom jocoso, isso fruto da intimidade que a relação de anos construíra. Durante a demorada despedida, um convite fora feito, o que, de pronto, fora aceito. A fim de relembrar os bons tempos de convivência, tudo fora combinado a contento e, em seguida, despediram-se.
Ambos eram vistos como exceções naquela comunidade, visto que gozavam de uma condição social acima da média dos que ali moravam, fato que lhes proporcionavam o prestígio, a estima entre todos, dando-lhes certo poder. Por isso, a notícia do churrasco teve repercussão imediata no meio do povaréu. O burburinho causado pela proximidade do evento, dividiu os moradores daquele denso agrupamento de casas. Enquanto uns falavam que seria do balacobaco, outros que era desnecessário e inadequado para o local, diante da realidade social pela qual a maioria vivia, seria uma afronta àquela gente sofrida.
Era do conhecimento geral o caráter de cada um dos amigos, afinal, todos nasceram e foram criados ali, no meio deles. O que convidara, era debochado, sem limites e instável emocionalmente, já o outro, era tão presunçoso, que se julgava ser o detentor de um quarto poder, o que lhe dava o direito de manipular todos que o cercavam, sempre de acordo com os seus escusos interesses. Diante de tudo isso, a apreensão foi geral. Todos começaram a debater os prováveis acontecimentos que seriam gerados pela celebração, que já se mostrava inoportuna. Discutiram sobre a fumaceira gordurosa que impregnaria os arredores, sobre a barulheira que incomodaria, sobre os diálogos de baixo nível que todos teriam de ouvir, enfim, sobre tudo que é típico em uma confraternização entre velhos conhecidos.
Os dias passaram angustiosos para os inúmeros moradores da localidade, menos para os dois amigos, que, no último instante, encontraram-se na rua e desmarcaram o tão propagado e debatido evento, deixando-o para uma outra ocasião qualquer. Episódio sucedido diante dos vizinhos, que, embasbacados, maldisseram-se.

Criado em: 09/5/2020 Autor: Flavyann Di Flaff


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