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CATIVO DA LIBERTAÇÃO

Da casa grande já fazia
parte há bons e longos anos.
Lá nascera e vivera as mais tenras
e melhores fases de sua vida.
Hoje, nela, tornou-se apenas
mais um utensílio rumo
à fase da obsolescência.
O confinamento não lhe chocava,
pois o estar ali era natural –
espontaneidade adquirida de pia.
Ainda aparentava ser útil aos olhos
daqueles com os quais convivia,
apesar da idade começar
a insinuar sinais de cobrança
pelos excessos cometidos
em tempos idos.
Auxiliava aos seus com presteza,
cansava-se mais com as manias
incômodas e repetitivas desses
do que com a execução
das tarefas impostas.
Para essas, tinha o seguinte pensamento:
de que, apesar de imporem certo sofrimento,
eram aprendizados necessários
à sua formação humana.
Nessa rotina, o tempo o cegava,
como querendo poupá-lo
do desgosto de ver a vida
passar em desabalado galope,
sem desfrutar do seu verdadeiro potencial.
Segue o servo, cego diante da indiferença dos seus,
a exercer a filantropia desde vidas passadas,
como a expurgar falhas, outrora cometidas,
em inúmeras reencarnações. 

Criado em: 08/05/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

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