Ah, como eu queria voltar! Retornar aos
tempos idos da infância! Mas, cresci, não dá. Desde lá, o mundo mudou ao meu
redor. Acabou, toda aquela fascinação. A espontaneidade de banhar-se ao sol ou na chuva, foi substituída pelo temor de adoecer. O prazer de andar pelo mundo
afora se encantando, transformou-se em síndrome do pânico. A empolgação pelo agora, desinteresse
natural pelo que viria, degenerou-se em ansiedade paralisante devido à
incerteza do amanhã.
Ah, como gostaria de contar tudo o que
aprendi! Talvez, assim, conseguisse amenizar as psicopatologias que adquiri,
quando enfim cresci. Porém, agora se faz tarde. Voltar a ser a criança que fui,
neste mundo, tornar-me-ia ainda mais vulnerável. Se eu pudesse renascer infante
não caminharia, a passos largos, rumo às trevas das imposições sociais
inalcançáveis – fardo que consome nossas forças e limita a nossa existência a
mera sobrevivência.
Ah, que vontade de pegar na mão do tempo e suplicar para voltar! Alegrar-me, novamente, com as coisas do mundo. De nada saber, e néscio de tudo, da inocência voltar a viver! Contudo, já se faz tarde, o corpo moído pelas engrenagens do mundo pede descanso. Então, adormece a ânsia anciã numa intrigante posição: a fetal.
Criado em: 25/01/2021 Autor:
Flavyann Di Flaff
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