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VOLTANDO À VIDA

   

O burburinho da cidade, com o tempo, cresceu de uma tal forma, que se tornou vozes de feras irracionais. Assustei-me com o não dormir e o acordar sob o constante rugir animalesco. Acossado me senti, a ansiedade − alcoviteira do porvir – me assolou ferozmente, a ponto de me fazer impotente diante do assédio psicopatológico da civilização. Sem eira nem beira, desesperado, fugi com uma pequena trouxa e a roupa do corpo para bem longe daquele antro civilizatório. Pretendia, com essa fuga precipitada, reaver a sanidade que a cidade usurpava de mim. Sem lenço e documento, vaguei por rincões nunca dantes percorridos por mim, até me deparar com uma tapera. Bati palmas, chamei por alguém, sem obter nenhuma resposta. Cansado como estava, empurrei a porta que parecia estar só encostada. Realmente, não tinha ninguém, constatei ao ver o ambiente vazio e com um aspecto de abandono. Apressei-me em limpar uma pequena parte do recinto para descansar o meu corpo moído e assim que a limpei, deitei e adormeci. Acordei com os primeiros raios de sol que, sorrateiros, entravam pelas frestas da porta e das janelas, iluminando e aquecendo o local. Saí para reconhecer a área, que era extensa, repleta de árvores típicas do semiárido. O sol vibrante, o céu de um azul puro e intenso, o vento calorento soprava intermitente, a terra barrenta recebia esse afago bafejante. Tudo muito natural, totalmente diferente daquela artificialidade arrogante da grande cidade. Sentia o cheiro de cada elemento presente naquela cena, sem o sofisma dos aromas  e sabores industrializados, feitos para enganar mente e corpo.

Agora distante da frenética agitação urbana, pude colocar o pensamento em ordem e definir uma estratégia para os dias vindouros. Tudo ali necessitava de ajustes, mas nada de grandioso, apenas o suficiente para garantir a funcionalidade. Então, os dias que se sucederam foram maravilhosos! Enquanto colocava a casa e os seus arredores em uma lógica arrumação, a minha saúde física e mental entrava em harmonia. Finalmente, a vida começava a fazer sentido para mim!

Criado em: 30/08/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

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