Quando criança, eu não tinha herói Marvel ou
DC comics de estimação. Isso porque não havia necessidade de os ter, uma vez
que, desde o meu nascimento, dois super heróis se fizeram presenças marcantes
no decorrer do meu viver.
Foram eles que me proporcionaram a vivência
da infância em toda a plenitude. Fazendo com que eu tivesse, como única
preocupação, ser criança. Para isso, meus super heróis protegeram os meus olhos
de brigas que nada resolvem, só pioram o ambiente de convivência. Protegeram
também os meus sensíveis ouvidos de alaridos que nada expressam, a não ser a
fala impensada e impulsiva de revoltas momentâneas, e o meu frágil corpo de
desabafos físicos, que não me diziam respeito. Assim, preservaram-me daquilo
que é nocivo ao ambiente de uma infância saudável.
Meus super heróis não usavam bordões, na
verdade, eram de poucas palavras, mas de silêncios profundos e significativos.
Eram mais de fazer do que de falar. A casa sempre limpa e arrumada, os quartos
prontos, a provisão constante, a comida feita na hora, o sermão providente,
tudo isso eram alegorias do amor incondicional, poder máximo dos meus heróis,
que, juntos, tudo venciam por mim.
Eu jurava, na minha inocência, que eles
eram imortais. Mas o senhor Destino, de quem nunca ouvira falar até então, por
inveja, porque nenhum mal lhe fiz, aplicou um golpe mortal em minha heroína, e
quem sempre cuidou, de repente, precisou de cuidados até partir. Mesmo adulto
senti o impacto, porém me agarrei à presença forte do herói que restou. A vida
seguiu morosa, todavia eu tinha que caminhar, e a presença do, agora, único
paladino, fez-me prosseguir.
A ausência de um e a convivência com o
outro nos aproximou ainda mais. Percebi que devia também ao meu herói retribuir
o que recebi e, da maneira que podia, fui solícito, estando sempre atento ao
estado instável de seu físico, que, devido ao passar do tempo, já dava sinais de enfado.
Isso muito me preocupava, já que receava um novo ataque do Destino.
Mantive-me atento por noites infindas, sem que aquele desse sinal de investidas. Contudo, foi durante o dia, quando a guarda estava baixa e relaxada, que o inimigo veio sorrateiro e efetuou o seu ataque mortal. Fazendo o meu último herói tombar e não mais se levantar, permanecendo em um sono profundo e eterno. Então, pela segunda vez, desabei! Hoje, já passados anos da perda de meus eternos heróis, ainda não me recuperei totalmente. Recordando-me, com respeito, de cada um deles, buscando forças para fazer valer cada esforço que por mim fizeram.
Criado em: 09/08/2020 Autor:
Flavyann Di Flaff
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