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FANTASIA DE CARNAVAL


Jamais pensara que certo conjunto de acontecimentos inesperados, os quais denominamos, desde quando pensávamos em querer entendê-lo, de destino. Pudesse, também, reger o que não existe ou o que não passa de um mero croqui da realidade cotidiana.
Eu mesmo não teria pensado em data mais propícia que esta, para que o enredo fluísse tão harmoniosamente com o momento presente. Mas o tal destino quis reviver antigas estórias momescas, nas quais personagens se apaixonavam por outros em festas coloridas e alegres.
Nesse atual período de festa pagã, folião que não sou, permaneci em meu retiro doméstico. Por reflexo, como a querer passar o tempo ocioso, adentrei no mundo irreal da Internet, onde, inconscientemente, nos fantasiamos com codinomes diversos e distintos. Então, nada mais oportuno, que estar a caráter, e lá fui de Arlequim do amor, visitando os salões virtuais (chats) onde outras tantas pessoas com suas fantasias (codinomes) estavam.
Findei por conhecer alguém que se escondia sob a fantasia de Flor de Liz, e embalados pelas marchinhas alegres da curiosidade e do desejo, dançamos. Também empolgados pelas melodias do instante, fomos falando sobre inspirações perdidas e sentimentos guardados. Com o insinuar da chegada da madrugada, despedimo-nos, porém sem fazermos promessa de um novo encontro.
Já era o penúltimo dia de momo, quando, novamente, entrei nos salões virtuais, mas para não tirar o encanto do fantasiar, troquei de alegoria e usei a de _CoraçãoCiganoMSN_. Já inserido no ambiente, alguém se aproxima e puxa conversa, não me fiz de rogado e respondi com a devida atenção. Ela usava a fantasia de Lua de Primavera, a conversa estava tão agradável, que a achei muito familiar, a ponto de o pensamento associá-la a alguém que conversara na primeira noite de carnaval. Mas como eu estava de nova fantasia e, por isso, logo de cara, ela não me reconheceria, comecei a insinuar um assunto em comum com ambas às pessoas, foi dessa forma que acabamos nos reconhecendo. Falamos da coincidência, de alguns assuntos, que mais pareciam acontecimentos cósmicos, e na balada da casualidade, celebramos o que pensávamos ser a vitória do destino. 
Como todos sabem, o período momesco se finda sempre em cinzas, e como a fênix é só um mito, nada renascerá desse pó, o que mais à frente veio a se confirmar. Já que tudo não passara de uma fantasia de diversos tons e formatos, na qual ambos, levados pelo ambiente e pelos aperitivos dos sentimentos, se permitiram falar e insinuar coisas inconsistentes, uma vez que as respectivas consequências, nunca foram pesadas e medidas. Então, embriagados pelo néctar das insinuações e das promessas, começamos a nos despedir sem pensarmos no amanhã.

Criado em: 19/02/2007 Autor: Flavyann Di Flaff

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