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DO JULGAMENTO HUMANO

Eis que alguém, de repente, começa a acusar o outro de eterno pecador, logo uma multidão se forma em volta de ambos. O provocador, empolgado com tamanha plateia, coloca novos pontos no conto das acusações que profere, enquanto o outro, em vão, tenta expor suas explicações e justificativas, posto que a urbe já demonstra ter feito a sua escolha.
No fervor do insípido diálogo, visto que apenas um é senhor dos fatos, alguém sugere, como manda a lei, o apedrejamento público. Essa regra não serve para punir os donos de posses e de imenso prestígio nesta “nova” sociedade. Mas como outrora, surge um defensor a bradar em alto e bom som: quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra. Como, apesar de estarmos vivendo em novos tempos, a humanidade ainda não aprendeu com essa e tantas outras nobres lições dada por um mestre, o desfecho se fez diferente. O silêncio fora o mesmo, mas eis que um passante atira a primeira pedra e o que se vê, em seguida, é o retrato fiel do quanto à humanidade banalizou a relação com seu próximo, promovendo, com isso, a derrota de si mesmo. Os demais, alguns por impulso ou condicionamento, outros por não terem a capacidade de formarem opinião própria ou até mesmo por maldade, deram a continuidade fatal ao gesto “naturalmente” automático daqueles que pensam que podem julgar e condenar o seu semelhante, sem que tal ato lhes traga consequências futuras. Consumada a execração, recolhe-se o corpo desfigurado para dar aos vermes, o tempo passará e outros atos absurdos farão desse, mais uma história para constar nas estatísticas sociais.

Criado em: 06/04/2007 Autor: Flavyann Di Flaff

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