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DE UM AMOR PERDIDO

Involuntariamente escolhera o caminho dos desejos fugidios, pois quando se sentia saciado, o outro nada mais lhe acrescentava. Por muito tempo permanecera assim, com os olhos vendados, já que nada percebia, além do que o seu corpo sentia e lhe mostrava.
Durante todo esse tempo, uma única vez, sentira algo diferente do habitual, uma coisa que não sabia como explicar e nem como lidar, já que nunca vivenciara tal situação. Preferiu pensar que era uma cisma passageira, não permitindo que a curiosidade e a empolgação o invadissem.
O tempo passara lépido e, certa vez, estando sozinho a pensar, uma lembrança veio lhe perturbar. Era aquela mesma sensação que outrora o incomodara, só que agora, viera acompanhada pela imagem de alguém. Tinha uma vaga lembrança, mas a mente insistia em mostrar esse ser, como a querer resgatar uma página de sua vida, que se perdera lá atrás. Paulatinamente, como em uma sequência, fragmentos de fatos passados, vieram à tona, montando um contexto que não lhe era, realmente, tão desconhecido.
Durante todo o tempo em que estivera cego pela venda dos desejos fugidios, não percebera que alguém o observara com os olhos do amor. Um ser belo, não em uma aparência fugaz, transitória, porém, em palavras, gestos e ações. Como este ser nunca tivera um ínfimo sinal de reciprocidade, manteve-se sempre à espera, até que percebera que nunca o teria. Então, já desesperançado e desiludido, partiu, para não mais sofrer por esse amor mal correspondido. 
Como toda essa lembrança viera, de repente, também se fora. Então, ele se dera conta de que perdera a chance de desfrutar mutuamente de um sentimento, que por ser especial, era único. Lágrimas rolaram de sua face abaixo, esvaziando o coração dessa dor que o preenchera, em razão da percepção tardia da grandeza e do valor do amor que perdera.

Criado em: 21/03/2007 Autor: Flavyann Di Flaff

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