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POR UM CAPRICHO

                 

Por impulso, gesto impensado, corpos atracados. Desatento, não percebe a presença de olhos compulsivos a perscrutá-los. Com a imagem assimilada, mente à mente o que, de fato, ocorreu ali. Desnorteada, a mente rosa fomenta ardilosa trama. Gera, por meio do veneno que matou Otelo, como um narrador onisciente, todos os detalhes daquela cena que acabara de ver.

Tardio, junto com o arrependimento, chegou àquela que jurara amor eterno e confessou o ato tresloucado que cometera, como se estivesse, ali, contando sua mais íntima falta. Pobre coitado, mal sabia que nada daquilo era mais segredo, mas o provável motivo para o seu degredo à terra dos escorraçados do coração alheio. O monstro de olhos verdes o escutou em silêncio, ao final da declaração suplicante, o gélido olhar foi-lhe direcionado, e palavras, que mais pareciam labaredas incandescentes, sentenciaram o penitente. A réplica foi dura e arguta, o que não lhe permitiu tréplica. Diante da potente figura que se afigura àquela que amava, restou-lhe pensar, antes de partir dali e cumprir a sua pena, no ato incidental praticado que a deixou louca, transtornada e que acabou matando o sentimento que em ambos existia, arruinando uma linda e breve história de amor.

Criado em: 27/12/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

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