Quando nasci, banharam-me numa pia encardida e cheia de água morta, ali parada há anos. Depois vestiram-me com uma padronagem de séculos de existências, modelo absorvido de geração em geração. Aos meus olhos mostraram coisas absurdas, terríveis, que me faziam querer retornar à segurança perdida. Aos meus ouvidos, pouco ou quase nada falavam sobre isso, dissimulavam um mundo encantado, subvertendo a ordem lógica dos acontecimentos. Deram-me as mãos, em abundância, quando eu não precisava, deixando-as marcadas em meu corpo, e quando delas precisei, sempre que podiam, as negavam. Foram anos até despertar desse torpor, um acordar traumático, porém libertador! Hoje sei quem sou e o que devo fazer para tudo o mais conseguir realizar. Agora sou senhor de mim, nada que vier de fora entrará livremente em meu templo. Antes, passará por uma varredura e se algum mal encontrado for, descartado será. Portanto, tenho aprendido a preservar a serenidade dispensando toda e qualquer emoção ou sentimento negativo, libertando-me, também, de toda crença limitante imposta em prol de um falso bem-estar.
Criado em: 24/09/2020 Autor:
Flavyann Di Flaff
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